Estreia
"Três Graças": Aguinaldo Silva volta ao horário nobre com dramas bem brasileiros
Nova novela das nove estreia nesta segunda-feira (20)


As chamadas da próxima novela das 21h, Três Graças, já anunciam uma questão delicada e que move a trama: quanto vale a vida? Para os vilões da história, vale menos que nada, ainda mais se forem vidas de pessoas pobres. O número três é cabalístico para a nova produção, seja pelo fato de ser um trio de protagonistas – Lígia (Dira Paes), Gerluce (Sophie Charlotte) e Joélly (Alana Cabral) – seja por estar sendo escrita pelos “três Silvas”: Aguinaldo Silva, Zé Dassilva e Virgilio Silva.
Famoso por criar universos fantásticos, como em A Indomada (1997), Fera Ferida (1993) e O Sétimo Guardião (2018), Aguinaldo Silva põe os pés no chão nessa nova história. São vidas comuns, de pessoas que acordam cedo para pegar ônibus e trabalham arduamente por um salário que, muitas vezes, não supre as necessidades básicas da família:
– Busco homenagear mulheres anônimas que saem muito cedo de ônibus para trabalhar, que são criaturas humanas e batalhadoras. Quis fazer o retrato dessas mulheres urbanas. Minhas novelas sempre são sobre mulheres. Sempre tive protagonistas mulheres e vilãs mulheres. Como escritor eu transito bem nisso.
Apesar das pequenas e grandes agruras do dia a dia, Aguinaldo destaca que não há espaço para tristeza na família Das Graças. São mulheres potentes, unidas pelo amor e pelo destino em comum: gravidez na adolescência e ausência paterna.
– É uma história passada no Brasil que conta a trama de três mulheres potentes que moram em uma favela. Um lugar de força em que as pessoas realizam sua vida com fé e vontade de ser feliz. Lá falta o estado, o bem público e atenção, mas tem muita potência – ressalta o diretor Luiz Henrique Rios.
Gravada na comunidade da Brasilândia, em São Paulo, Três Graças apresenta a fictícia Chacrinha, um lugar que contrasta com o núcleo da elite – onde se situam os vilões. O grande mote é essa discrepância entre dois mundos que, quando se chocam, deixam claro que dinheiro não molda caráter.
As Graças
Em um país com quase metade dos lares chefiados por mulheres, a família de Lígia, Gerluce e Joélly espelha uma realidade comum, principalmente nas periferias. É essa identificação com o público que os autores buscam ao inventarem uma comunidade fictícia, mas ao mesmo tempo tão real.
Animada com a personagem, Sophie Charlotte encara esse novo trabalho como um grande desafio:
– Fiquei fascinada e preocupada em como dar conta de uma pessoa que enfrenta coisas nada fáceis, mas mantém a alegria. Quando a gente pensa no Brasil, a gente pensa nesse contraste e como consegue equilibrar coisas tão opostas.
Lígia é mais uma mãe guerreira na carreira de Dira Paes, que aponta a importância do vínculo com a filha e a neta da ficção para imprimir verdade a esse núcleo.
– A Lígia tem me trazido tantas reflexões sobre essa mãe pioneira que começa essa vida solitária. Ela chegou na Chacrinha, começou a vida ali sozinha e construiu uma história de amizade com a filha, como se as duas tivessem amadurecido juntas. A Gerluce já tem o amparo da mãe e depois a neta também. A casa delas é tudo, é o coração delas – destaca Dira.
Gerluce repetiu a história da mãe, que engravidou na adolescência. Joélly tem a mesma sina, e aos 15 anos também descobre que espera um bebê. Não há espaço para reprovação ou censura por parte da mãe e da avó, pelo contrário. A jovem é acolhida, mas ainda assim, o processo de amadurecimento virá com muitas dores. Aos 18 anos, Alana Cabral vive sua primeira protagonista, e conta que essa jornada tem sido mais leve e “uma verdadeira aula” por conta da parceria com Dira e Sophie:
– É uma relação linda entre as três personagens e que representa a maioria das casas periféricas do Brasil. A única coisa que sustenta é o amor e o apoio psicológico que elas têm naquela casa.
Os galãs

Vindo de dois remakes – Pantanal (2022) e Renascer (2024) – Marcos Palmeira celebra a participação em uma obra inédita e aberta. Na nova trama, ele interpreta Joaquim, ex-marido de Lígia e pai de Gerluce. O ator conta que é bem diferente de seu personagem.
– Um cara impaciente, estressado, mal resolvido. Ele se coloca para baixo, tem uma carência muito grande dessa relação com a Lígia. Estou feliz e muito nervoso. Estou na torcida para ter muitos momentos de romance com minha amiga Dira – celebra ele, destacando a parceria com a atriz, com quem também formou par romântico em Pantanal.

Um dos mocinhos da história, Romulo Estrela será Paulinho, um policial competente, mas que não sabe administrar sua vida pessoal. Tudo muda quando ele conhece Gerluce, por quem se apaixona:
– Apesar de já ter vivido outros policiais em outras tramas, o que me deixou empolgado agora é a dualidade. É um cara cheio de falhas e vulnerabilidades, que não soube administrar a vida pessoal muito bem. Quando encontra a Gerluce, passa a olhar para si de uma forma diferente.
Os vilões

E para quem já está sentindo falta de Odete Roitman, vilã de Vale Tudo, Grazi Massafera promete maldades ainda piores. E se tem alguém que sabe criar vilões é Aguinaldo Silva, que já nos entregou a icônica Nazaré Tedesco (Renata Sorrah), em Senhora do Destino (2004). A Arminda de Grazi tem tudo para entrar na galeria das megeras inesquecíveis da telinha.
– Ela tem um lugar cômico de falar coisas horríveis, o que é característica do Aguinaldo. Estamos numa boa época pra fazer vilão, o povo tá aceitando bem. Antes batiam na rua, né? – brinca Grazi.
Toda boa – ou má, no caso – vilã precisa de um cúmplice à altura. É aí que entra Murilo Benício, intérprete do inescrupuloso empresário Santiago Feretti.
– É meu décimo quarto vilão seguido (risos)... Mas não penso nisso, penso em entender as motivações dele e me divertir – conta o ator, que tem se divertido nas cenas com Grazi, de quem é amante na trama.
Três Graças é o reencontro de Murilo com o texto de Aguinaldo Silva, responsável por sua estreia em novelas como Fabrício, em Fera Ferida.
Arminda será a nova Nazaré? Aguinaldo Silva garante que as falas da vilã têm tudo para fazer sucesso com o público:
– Quando escrevo, não penso em repercussão na internet. Quando fiz a Nazaré não imaginei que viraria a rainha dos memes. Mas tenho certeza que falas da Arminda, que é a grande vilã, vão viralizar.