É uma série de terror? É uma comédia romântica? É um thriller? Vermelho Sangue, que estreia hoje no catálogo do Globoplay, é tudo isso e mais um pouco. Acima de tudo, é uma narrativa tipicamente brasileira, que mistura lendas do cerrado mineiro com pitadas de terror e uma boa dose de fantasia. Para além do universo fantástico, há discussões muito atuais, como explica Rosane Svartman, autora da série:

– Durante centenas de anos, essas histórias fantásticas sobre monstros falam do espírito da sua época. E com Vermelho Sangue não é diferente. Então, é uma história que fala de biopoder, de bioética, dos limites da ciência, da ganância, muito através dos personagens do Rodrigo Lombardi e da Heloisa Jorge.

A história gira em torno de Luna (Leticia Vieira) e Flora (Alanis Guillen), duas jovens que não se sentem pertencentes a nenhum lugar, são consideradas estranhas pelos habitantes da cidade e, talvez por isso, acabam se aproximando. Porém, há certas diferenças conflitantes dentre elas.

Luna é o que a equipe da série chama de “lobimoça”, já que se transforma em lobo-guará nas noites de lua cheia. O arquétipo do lobisomem, tão antigo no imaginário popular, ganha contornos de brasilidade na figura de um animal típico da região. Antes de aparecer em Vale Tudo como Gilda, Letícia Vieira fez seu primeiro trabalho como atriz em Vermelho Sangue, produção gravada em 2023. 

Foi o protagonismo na série, aliás, que catapultou sua carreira, dando-lhe a chance de estar em uma novela do horário nobre da Globo.

– Esse foi o meu primeiro trabalho como atriz, eu nunca tinha atuado na minha vida. Eu venho de uma cidade muito simples e apagada no mapa do Rio de Janeiro. Então, eu cresci sem oportunidade de fazer um curso, conhecer o teatro. E surgiu a oportunidade de fazer um teste pra Globo, eu fiquei muito assustada. E no processo eu fui me descobrindo, contei com pessoas incríveis que acreditaram muito em mim. Eu vou ser pra sempre grata, porque me descobri como gente, como atriz, como artista. E protagonizar teve um peso muito grande, porque foi muito desafiador pra mim – conta Letícia, natural de Belford Roxo, na Baixada Fluminense.

O desafio da então estreante foi ainda maior pela complexidade de sua personagem, e também por se tratar de uma história tão inovadora.

– Luna é uma menina com muitas questões e anseia a cura para a sua condição. O pai foi embora quando ela era bebê, ela não conviveu com ele e sua genética de loba-guará vem desse pai. É corajosa, está aprendendo a lidar com sua fera interior e tem muita fome de aventura e de conhecer um mundo que lhe foi negado pela mãe, por uma superproteção que existe desde quando ela começou a se transformar – resume a jovem atriz, emocionada.

Com currículo de veterana, prestes a estrear sua terceira novela no horário nobre – será Lorena em Três Graças – e já acostumada a ser protagonista, Alanis Guillen entrega que, ainda assim, rolou um nervosismo diferente com esse novo trabalho: 

– Quando a Flora chegou na minha vida, me deu medo, mas foi um medo gostoso, no sentido de que era uma coisa que eu não sabia fazer, mas eu iria ver como era. Eu acho que é uma série universal, para um público diverso, que não fala desse nicho da fantasia dos vampiros, lobisomens e lobimoças, mas também conversa com o público adolescente e adulto. A Flora também tem a sensação de não caber onde vive. Ela quer abandonar Guarambá e todo o conservadorismo que enxerga não só na cidade, mas também entre membros de sua própria família.

Veteranos

Além do núcleo jovem, veteranos também se mostram surpresos com a série. Com mais de 50 anos de carreira, Bete Mendes, que interpreta Barbina, reforçou toda a sua empolgação com um produto tão original e tão brasileiro, mas com potencial para ser sucesso mundial.

– Na série, temos os vampiros que vieram de longe mas também temos o lobo-guará e uma senhora curandeira que faz todas as curas com produtos naturais. A dona Barbina conhece aquilo como ninguém. E quando ela vê aqueles caras estranhos, começa o conflito. Eu achei maravilhoso porque essa ancestralidade resiste nessa belíssima natureza da Serra da Canastra.

Para além da fantasia envolvendo vampiros e lobisomens, Claudia Sardinha, coautora da obra, promete temas diversos na nova produção:

– Nós falamos sobre os limites da ciência, sobre o que é natural, sobre a ética da interferência através da personagem que está sendo estudada. É uma questão da natureza dela, mas vira um objeto de estudo científico. Falamos também de autoaceitação com essa questão da “cura”; sobre o quanto a ciência pode interferir na natureza humana, selvagem; e na exploração do estrangeiro sobre a nossa diversidade.

Vermelho Sangue é uma série Original Globoplay e conta com 10 episódios. A obra estreia hoje, com seis episódios inéditos e, no dia 9, os outros quatro desembarcam no streaming. Uma segunda temporada já está confirmada para 2026.