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Teatro

Denise Del Vecchio voltam à Capital com a peça "Tom na Fazenda": "O teatro é um encontro"

Apresentações ocorrem dias 29 e 30 de novembro, no Teatro Simões Lopes Neto

21/11/2025 - 05h00min

Atualizada em: 21/11/2025 - 05h00min


Michele Vaz Pradella
Michele Vaz Pradella
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Kit McCarthy/Divulgação
Babaioff e Denise retratam temas complexos e fundamentais

O patriarcado, o machismo intrincado à sociedade e outras questões atemporais e urgentes são os temas que perpassam Tom na Fazenda, que já atraiu mais de 160 mil espectadores, com mais de 500 apresentações em oito anos em cartaz. O espetáculo foi vencedor dos Prêmios da Associação de Críticos de Teatro de Quebec, Shell, APCA, APTR, entre outros, e já se apresentou no Canadá, França, Reino Unido, Suíça e Bélgica, além de importantes festivais. Depois de lotar quatro sessões em abril, Tom na Fazenda volta a Porto Alegre nos dias 29 e 30 de novembro, com apresentações no Teatro Simões Lopes Neto (Rua Riachuelo, 1.089).

A adaptação do texto é de Armando Babaioff, que conta ter tomado contato com a história do franco-canadense Michel Marc Bouchard por indicação de um amigo:

– A leitura me atravessou de imediato e eu entendi que aquela dramaturgia precisava dialogar com o Brasil, com as nossas feridas, nossos preconceitos, nossas formas tão particulares de lidar com o desejo, a culpa e o medo.

Babaioff entrou em contato com o autor, negociou os direitos do texto e começou o processo de tradução, que para além da adaptação do francês para o português, visava encontrar novas camadas e trazer a história para a nossa realidade.

– A ideia de montar Tom na Fazenda no Brasil nasceu dessa certeza: de que essa história não só cabia no nosso palco, como precisava dele – relata o ator, que também protagoniza o espetáculo. Ele é Tom, um publicitário que vai à fazenda do título para o funeral de seu companheiro. Lá, se depara com a conservadora Agatha, interpretada por Denise Del Vecchio, uma mulher conservadora que, até então, não sabia que o filho era homossexual.

– Agatha é uma mãe comum. Marcada pelo patriarcado, vítima e reprodutora dele. Carrega junto o preconceito, o medo da opinião alheia e o amor pelo filho perdido. Acho que muitas mulheres mães que têm assistido ao espetáculo se identificam com suas dificuldades, questionam seus preconceitos. Recebo depoimentos emocionantes ao final do espetáculo. Isso me alimenta para cada nova apresentação e também me mostra o quanto eu mesma tenho de Agatha – salienta Denise.

Com mais de 50 anos de carreira, muitos desses vividos nos palcos, Denise lembra com carinho de sua história com o Theatro São Pedro, em especial com Multipalco e o Teatro Simões Lopes Neto. Tom na Fazenda foi uma das atrações da temporada de inauguração do complexo, em abril deste ano.

– O Theatro São Pedro é um marco para todos nós artistas do palco. Sempre foi um exemplo de qualidade e de cuidado com os artistas e seu público recebendo, desde sempre, os artistas mais importantes do Brasil e do Rio Grande do Sul. Tive várias oportunidades de me apresentar aí e sempre fui recebida com carinho e respeito. Acompanhei, durante anos, a luta de Dona Eva (Sopher) e da comunidade artística de Porto Alegre para a construção do Multipalco. Portanto, é sempre emocionante estar aí e poder, mais uma vez, dividir com seu público um espetáculo reconhecido no Brasil e no exterior – destaca.

Armando Babaioff corrobora a fala da colega de cena:

– Retornar ao Multipalco Eva Sopher, no mesmo ano de sua inauguração, tem um peso simbólico imenso e revela algo muito claro: existe demanda, há desejo e existe um público fiel ao teatro. Isso diz muito sobre como uma cidade consome cultura e é por isso que estamos voltando. É ocupar o espaço, fortalecer a cena, afirmar o lugar da economia criativa. Cultura se mantém com trabalho e investimento contínuos. Não vemos a hora de reencontrar esse público tão sensível e atento, aprofundar esse diálogo que a peça cria e viver novamente essa troca potente que só Porto Alegre é capaz de oferecer.

Alex Woloch/Divulgação
Camila Nhary , Iano Salomão , Armando Babaioff e Denise Del Vecchio no palco

Atualidade

Os atores concordam que Tom na Fazenda toca em questões caras à sociedade contemporânea, como a homofobia. O tema atravessa diretamente Armando Babaioff, que relata já ter passado por situações de preconceito, assim como seu personagem.

– Esses temas atravessam minha existência porque não são conceitos abstratos para mim – são experiências concretas. O Brasil ocupa o triste primeiro lugar entre os países mais perigosos para a comunidade LGBT+. Todos os dias, jovens sofrem diferentes formas de violência: na escola, na rua, dentro de casa, no olhar do outro, nas pequenas agressões cotidianas que te dizem, direta ou indiretamente, quem você “pode” ser – aponta o artista, ressaltando que Tom na Fazenda expõe essa e outras questões sem filtros:

– Eu reconheço esses lugares – eles já passaram por mim. Ao mesmo tempo, fazer a peça durante tantos anos me fez compreender esses temas de outro jeito: como um motor de resistência. O teatro, para mim, sempre foi uma forma de devolver ao mundo o que eu penso do mundo, e também aquilo que o mundo tenta apagar. Tom na Fazenda é potente porque não se contenta em entreter. Ele transforma, afeta, desestabiliza e, por isso, fica, e eu acho que isso move as pessoas.

Teatro vivo

Em tempos de profusão de telas, com o público cada vez mais online e menos offline, manter os teatros lotados é um desafio que Tom na Fazenda tem vencido com louvor. Denise analisa que a troca entre o público e os atores ainda é o grande trunfo dessa expressão cultural.

– O que mantém o teatro vivo nos dias de hoje é que talvez seja uma das últimas experiências presenciais sem cunho religioso, apesar de ser sagrado. A cumplicidade, a troca de energia, entre palco e plateia, e entre a própria plateia, é única. Respiramos juntos. Rimos e choramos juntos. Nós questionamos juntos. Isso é insubstituível e absolutamente necessário para a sobrevivência de uma sociedade saudável.

Com o mundo ao alcance de um clique, fazer pulsar o interesse por uma forma de arte que remonta à Antiguidade não é fácil, mas espetáculos como Tom na Fazenda provam que isso é possível.

– Podemos assistir a tudo pelas telas, mas sentir junto, respirar junto, ser afetado junto… isso só acontece no teatro. O teatro é uma outra experiência sensorial. Incentivar as pessoas passa por criar esse vínculo, mostrar que o teatro é um encontro, não um produto – finaliza Babaioff.

TE PROGRAMA!

Quando: dias 29 (sábado),  às 20h, e 30 de novembro (domingo), às 18h

 Onde: Teatro Simões Lopes Neto, no Multipalco Eva Sopher (entrada pela Rua Riachuelo, 1.089, ao lado do estacionamento), em Porto Alegre

Quanto: Ingressos a partir de R$ 60, disponíveis no site do Theatro São Pedro ou na bilheteria do Teatro Simões Lopes Neto (somente nos dias de espetáculo, a partir de duas horas antes do início das apresentações)


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