Entre nós
Masturbação: por que se tocar ainda incomoda tanta gente?
Se traz autoconhecimento e tranquilidade, não há motivo para culpa


A masturbação segue sendo um assunto estranho na nossa cultura: muito praticado, pouco discutido e ainda cercado de culpa. Crescemos ouvindo advertências e piadas, mas quase nunca explicações claras.
Do ponto de vista da saúde, as evidências são diretas. Masturbar-se não faz mal ao organismo, não altera anatomia, não prejudica a fertilidade e não causa disfunção sexual. Em mulheres, o autoerotismo é uma ferramenta de autoconhecimento importante. Estudos mostram que menos de 20% das mulheres atingem orgasmo apenas com penetração, reforçando o protagonismo do clitóris. Para muitos homens, a ejaculação regular é parte do ciclo fisiológico.
Além da segurança física, há efeitos positivos: pode reduzir tensão, melhorar o sono, aliviar cólicas e modular o estresse. Em quadros de dor sexual ou dificuldade de excitação, o toque pode ser um passo inicial. Não é solução universal, mas é um recurso terapêutico legítimo.
Culpa
Ainda assim, a culpa persiste. E ela não vem do corpo, mas do discurso. Por décadas, associou-se masturbação à falta de controle ou desvio moral. Essas marcas influenciam a forma como cada pessoa percebe seu desejo.
É importante lembrar que o problema não está na frequência, mas no impacto. Merece atenção quando substitui a vida cotidiana: quando vira a única forma de regulação emocional, toma o lugar do sono, do trabalho ou quando há perda de controle.
Nas relações afetivas, vale desfazer outro equívoco: masturbar-se não significa falta de interesse pelo parceiro. Em muitos casais, as duas práticas coexistem.
No fundo, a pergunta que importa não é se a masturbação é “certo ou errado”, mas como isso se integra à vida da pessoa. Se traz autoconhecimento e tranquilidade, não há motivo para culpa. Se traz sofrimento ou interfere na rotina, é um sinal de alerta.
Entre nós: o corpo não nasceu programado para sentir vergonha de si. Ele responde a toque, presença e respeito. E quando a conversa sobre sexualidade sai do mito e entra no campo da saúde, sobra menos culpa — e mais liberdade responsável.