Carnaval na Capital
Talento no DNA: a porta-estandarte da Restinga que herdou o apelido de "furacão" da avó
Aos 22 anos, jovem é atual vencedora do Estandarte de Ouro e carrega no pavilhão a história de sua família


Quem assiste aos desfiles da Estado Maior da Restinga costuma sentir uma energia diferente. A garra e o amor de cada componente contagiam o público desde os primeiros instantes. Um dos cartões de visita da escola é a porta-estandarte Dandara Vais, 22 anos.
Com bailados e giros primorosos, sorriso cativante e o pavilhão sendo conduzido com firmeza, elegância e devoção, ela mostra que não é à toa que herdou o apelido de "furacão" da avó.
Prestes a desfilar pelo quarto ano seguido como a primeira na função e atual vencedora do troféu Estandarte de Ouro, Dandara conversou com a reportagem. Os preparativos para o Carnaval 2026 começaram cedo.
— A preparação está a mil. Sempre esperamos entregar o melhor Carnaval. Já tenho o croqui da fantasia e estou animada pelo que o nosso carnavalesco Luciano Maia me propôs para esse ano — conta deixando a surpresa no ar.
O troféu conquistado após o desfile de 2025 trouxe muitos significados:
— O Estandarte de Ouro foi algo muito sonhado. Sempre quis essa conquista e sou muito grata pela mini Dandara nunca ter desistido. Muito esforço sempre traz um resultado bom — afirma.
O primeiro "furacão"
Nada mais gaúcho do que uma porta-estandarte. Trata-se de uma figura típica dos nossos desfiles. Uma das pioneiras e reconhecida como uma das maiores de todos os tempos foi Vera Furacão, avó de Dandara, e que deixou um legado valioso.
— Minha avó foi uma das grandes porta-estandartes de Porto Alegre, mas foi também uma grande porta-bandeira, passista e carnavalesca. Ela amava muito o Carnaval. Foi uma das mais premiadas com mais de 22 Estandartes de Ouro. Eu estava sempre junto, ouvindo uma bateria, uma escola de samba. Então, vem de família, está no meu sangue. Algo que, conforme os anos, fui me apaixonando cada vez mais — lembra.

A propósito dos primeiros passos no carnaval, Dandara recorda que a primeira vez em que desfilou como porta-estandarte foi na Rosa Dourada e na Imperatriz da Grande Niterói, ambas de Canoas.
Na mesma cidade, também defendeu as cores da Acadêmicos da Grande Rio Branco e Os Tártaros. Ao longo da trajetória, passou ainda por Império da Zona Norte e Unidos do Capão, na Capital. Na escola do coração, a Restinga, brilhou pela primeira vez no desfile de 2012 — e com título.
O ano de 2025 está prestes a encerrar deixando memórias de momentos únicos. Em Cruz Alta, Dandara desfilou na escola Unidos do Beco, e, assim como na Capital, conquistou mais um Estandarte de Ouro para a galeria.
Além disso, contribuiu na defesa do samba dos compositores gaúchos que concorreu no festival da Portela. No papel de porta-estandarte, esteve junto com o grupo até a final, no Rio de Janeiro, somando essa arte tão característica do Rio Grande do Sul à apresentação do Samba dos Lanceiros.
Quando se apresenta, Dandara faz brilharem os olhos das meninas mais novas, especialmente da própria Restinga.
— Ser inspiração para outras meninas é gratificante e de extrema responsabilidade. É transmitir esse amor à arte de ser porta-estandarte e na escola que eu amo. Sempre que posso, estou ali perto delas para ajudar e dar uma atenção, um elogio, trocar uma ideia. Tento levar da forma mais leve possível — explica, sem deixar de destacar que várias dessas joias do carnaval estão sendo lapidadas em projetos pelos quais Dandara também participou, como o Garbo Bailar e o Padedê do Samba.

Com relação a futuro, o objetivo é seguir em evolução neste mesmo período em que o carnaval de Porto Alegre volta a viver grandes momentos:
— Estou muito feliz de ver o nosso Carnaval crescendo novamente, voltando a ser um dos melhores do Brasil. Que tenhamos total valorização do nosso povo daqui. Todo dia, sigo aprendendo coisas novas com pessoas diferentes. Meu sonho é seguir nessa constante evolução que estamos vivendo nos últimos anos.
Em 2026, a Restinga vai levar para o Complexo Cultural do Porto Seco um enredo que resgata as origens do bairro. Dandara é a prova de que fazer parte da tricolor da zona sul significa entrega e comprometimento, afinal, conforme versos do samba que já está sendo bastante entoado pelos tinguerreiros, “se trata de um amor singular, que tira o juízo”, pois “é um sentimento sem explicação”.