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Troca de livros, clubes de leitura e mais: descubra ações em Porto Alegre que incentivam o hábito de ler
Iniciativas de bibliotecas e outras instituições conectam amantes da literatura e promovem acesso à cultura


Em Porto Alegre, a paixão pelos livros vai muito além das prateleiras das livrarias. Ações de bibliotecas públicas, como trocas de livros e clubes de leitura, estão conectando leitores. Nesses encontros, que são gratuitos e abertos ao interessado, as obras ganham novos públicos e o amor à literatura é compartilhado.
Já iniciativas do Banco de Livros RS, da Câmara Rio-Grandense do Livro e da rede de bibliotecas comunitárias Beabah! estão promovendo acesso ao livro para quem não pode arcar com os custos de um exemplar novo. Com isso, as obras chegam a prisões, hospitais, escolas e regiões afastadas do centro da cidade.
Conheça, a seguir, projetos de incentivo à leitura em Porto Alegre e saiba como participar.
Leia nesta reportagem:
Biblioteca Josué Guimarães tem clube de leitura e troca de livros

A Biblioteca Pública Municipal Josué Guimarães, localizada no Centro Municipal de Cultura (Av. Erico Verissimo, 307), é um exemplo de incentivo à leitura.
Lá se reúne uma vez por mês, das 18h às 20h, o Clube de Leitura Josué Guimarães, que já definiu os primeiros livros a serem debatidos em 2026: O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë (13 de janeiro); Orlando, de Virginia Woolf (10 de fevereiro); e Um Defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves (24 de março).
Outra iniciativa é a Troca de Livros, que oportunizou o intercâmbio de mais de 3 mil exemplares entre leitores em 2025. Essa ação, que será retomada em 21 de março de 2026, ocorre no último sábado de cada mês, das 13h às 16h, na sede principal da biblioteca (que fica na Av. Erico Verissimo, 307) e na unidade do bairro Restinga (Rua Rubens Pereira Torelly, 50).
Antes, em janeiro e fevereiro, haverá o Projeto Verão de Histórias, ministrado pela escritora e contadora de histórias Adriana Scherner. O objetivo é divertir e desenvolver o gosto pela leitura por meio dos livros, da contação de histórias, da arte e das brincadeiras. Serão eventos semanais com início na segunda semana do mês, totalizando seis encontros com duas horas de duração cada.
Outras informações sobre as atividades podem ser conferidas no perfil da Biblioteca Josué Guimarães no Instagram.
Empréstimos na Biblioteca Pública do Estado crescem 100%

Até o final de novembro, a Biblioteca Pública do Estado (BPE) já havia realizado 11 mil empréstimos de livros em 2025, crescimento de cerca de 100% em relação ao ano anterior inteiro (5.400 empréstimos).
A diretora Ana Maria Souza comemora o interesse do público pelas obras e pelos eventos desenvolvidos no local, que fica na Rua Riachuelo, 1.190:
— Eu brinco dizendo que, em outubro, tivemos uma "machadomania". Recebemos o Domício Proença Filho (escritor e ensaísta carioca), que é especialista em Machado de Assis, e na mesma semana tivemos duas sessões da peça Capitu (baseada em Dom Casmurro, de Machado). Quando fazemos esse tipo de ação, os empréstimos de livros daquele tema e autor explodem.
No projeto BPE + Cultura, que ocorre no primeiro sábado de cada mês, das 12h às 18h, há um desafio de perguntas e respostas. O vencedor ganha um livro de presente. Como a iniciativa é realizada ao ar livre, em frente ao prédio da biblioteca, não ocorrerá em janeiro e fevereiro devido ao calor.
Também há brindes em outro projeto, o Clube de Leitura: após três participações, o leitor recebe um item, como caneca ou livro. Os encontros são realizados nas últimas quartas-feiras, às 19h, e nos últimos sábados, às 10h, de cada mês. Em dezembro, as datas são diferentes: o próximo será no dia 17. A obra escolhida para debate é Canção para Ninar Menino Grande, de Conceição Evaristo.
— Fizemos uma curadoria e propusemos dois livros por mês, mas as escolhas foram feitas, ao longo do ano, pelos 260 inscritos no clube — explica a diretora.
A BPE terá um estante na Festa da Leitura, no dia 7 de janeiro de 2026, das 9h às 17h, na Praça da Alfândega, onde ocorre a Feira do Livro. O evento marcará o Dia do Leitor.
Para conferir as atividades promovidas pela Biblioteca Pública do Estado, acesse o site ou o perfil no Instagram.
Banco de Livros leva exemplares a presídios, hospitais e escolas
O Banco de Livros RS tem a missão de fazer com que obras cheguem a pessoas sem acesso à leitura. A instituição recebe doações de livros novos e usados de pessoas e empresas ou por meio de campanhas. Também cria bibliotecas em hospitais, escolas, presídios, asilos e locais em situação de vulnerabilidade social.
— Há 20 anos, começamos a recolher livros e pedimos para que a população se desapegasse, porque a doação é uma ação de desapego. Livro parado não resolve nada. O importante no livro é fazer circular — defende o presidente do Banco de Livros, Waldir da Silveira.
Desde então, já foram recolhidos mais de 2,3 milhões de exemplares. Desse total, um terço (cerca de 700 mil) precisou ser descartado em função do acúmulo de ácaros ou por apresentar algum tipo de problema. Obras didáticas tampouco foram reaproveitadas.
Silveira avalia que o Projeto Vozes de um Tempo foi "o mais impactante".
— Conseguimos colocar mais de 300 mil livros nos presídios gaúchos. Os presos estão lendo muito e escrevendo. Já lançamos seis livros deles — diz o presidente, acrescentando que os textos dos detentos têm "muitas qualidades" e passam por seleção realizada por universitários.
Os presos também recebem sugestões de leitura dispostas em um carrinho conduzido por outro detento e podem ficar com a obra por alguns dias em sua cela até a conclusão da leitura.
Livros em trens e no Catamarã

O Banco de Livros RS também disponibiliza livros em hospitais — mais de 50 mil obras já foram colocadas à disposição dos pacientes. Os exemplares ficam em bibliotecas montadas nas instituições e são oferecidos nos leitos dos quartos por meio de voluntários com auxílio de carrinhos.
— Funciona muito bem e ajuda na recuperação dos doentes. Às vezes, não damos conta de tantas solicitações dos hospitais — comemora Silveira.
Outros 50 mil livros foram levados para escolas comunitárias em situação de vulnerabilidade social. Além disso, são desenvolvidas ações periódicas em que livros são deixados por voluntários nos bancos dos trens da Trensurb. Os passageiros podem ler e até levar para casa, sem a necessidade de devolução. Isso já foi feito também em parques, em corridas de táxis e até durante as viagens de Catamarã.
— Estimulamos ao máximo para que elas (as crianças) levem os livros para casa porque ganhamos os exemplares da sociedade e essa é uma forma de dar retorno para a sociedade — afirma Silveira.
O Banco de Livros RS é uma das iniciativas da Fundação Gaúcha dos Bancos Sociais, que foi instituída pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs).
Outro projeto similar envolve a Fundação Casa (Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente), antiga Febem. Bibliotecas são criadas em cada uma dessas casas. Quando visitam os jovens, os familiares podem levar os livros para lerem em suas moradias.
Câmara do Livro arrecadou quase 200 mil livros

Para o presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL), Maximiliano Ledur, o mais importante dessas ações de incentivo à leitura, como troca de exemplares e clubes de discussão, é oportunizar à população mais carente o acesso ao livro.
— Por isso, todas essas formas de incentivo à leitura são fundamentais — defende.
Segundo Ledur, a organização da Feira do Livro doou centenas de obras para o Banco de Livros RS, que realizou a triagem dos itens e os repassou para hospitais, escolas e instituições carentes:
— O Grêmio Náutico União faz um projeto bem legal de ter os livros em espaços dentro do clube, à disposição dos sócios.
Durante a enchente de maio de 2024, a CRL, em parceria com a Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul (Seduc), arrecadou quase 200 mil livros. Grande parte foi doada para escolas, e o que sobrou foi repassado para outras instituições.
— Estamos para receber uma remessa da Editora Globo, do Rio de Janeiro. Ainda é resquício daquela campanha que fizemos na enchente. Selecionaram 140 mil livros e estão se organizando para nos mandar. Temos um projeto bem bacana para a distribuição dessas obras — adianta.
Bibliotecas comunitárias fazem a diferença
A Rede de Bibliotecas Comunitárias do Rio Grande do Sul, conhecida como Beabah!, existe desde 2008 e desenvolve uma série de atividades para estimular a leitura nas periferias. Os 15 espaços ficam localizados em cidades como Alvorada, Caxias do Sul, Eldorado do Sul, Esteio e Porto Alegre. O trabalho engloba ações com crianças e público adulto.
A articuladora da rede, Viviane Henrique Peixoto, explica que o objetivo da Beabah! é reunir bibliotecas que atendam comunidades vulneráveis das periferias. Ela diz que cada biblioteca acompanha a pluralidade daquele território:
— Em Eldorado do Sul, por exemplo, as duas bibliotecas ficam em assentamentos. Temos documentos, carta de princípios e uma mesma ideologia includente. Isso faz com que esse perfil nos una para que possamos trabalhar em nosso território, sempre pensando no direito humano à literatura.
Segundo a articuladora, a Beabah! é ligada à promoção da saúde. Então, os conceitos de literatura e saúde andam lado a lado. Tanto que a rede integra a Periferia Brasileira de Letras (PBL), projeto da cooperação social da presidência da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
— Trabalhamos com mediações de leitura, contação de histórias e oficinas — exemplifica Viviane.
Os livros são obtidos por meio de parcerias com instituições, editais e iniciativas próprias. Trabalhando com um público que não tem condições financeiras de se deslocar até o centro da cidade nem de comprar livros em livrarias, ela conclui:
— As periferias leem, e leem muito. O que muitas vezes falta não é interesse, mas acesso. As bibliotecas comunitárias existem justamente para garantir esse direito.