Novo CD
Martinho da Vila comemora 45 anos de sucesso
Devagarinho, o sucesso veio sem deslumbre
Para celebrar 45 anos de carreira, Martinho da Vila volta a 1969, quando gravou o primeiro disco, Martinho da Vila, que o levou ao estrelato. Agora, ele lança 4.5 Atual (R$ 35, preço médio), o 49º de uma trajetória repleta de CDs, DVDs e coletâneas. Neste novo projeto, une-se a Rildo Hora, produtor e maestro que o acompanha desde o início da carreira, e dá uma nova roupagem a canções consagradas no seu primeiro LP.
Aos 74 anos, Martinho é só empolgação ao recordar o começo desta história de sucesso. Em conversa por telefone com o Diário Gaúcho, ele abre o seu baú de memórias, destaca momentos marcantes e fala sobre a gravação de novas versões para os seus sambas clássicos. Mas como será que Martinho mantém o fôlego para encarar a rotina de shows? Ele conta tudo!
Diário Gaúcho - O seu começo de carreira foi difícil, se comparado às possibilidades dos dias atuais?
Martinho da Vila - Comecei cantando as minhas músicas, mas não gostava que falassem que eu era cantor. Era um compositor que sonhava em ser gravado. Com o tempo, aprendi a usar a voz. Quando lancei o disco Martinho da Vila, não tinha a ajuda da internet. Eu era a maior estrela do país e não tinha noção disso, mesmo com tecnologias bem mais precárias. Deixei a onda me levar, sem deslumbramento.
Diário - O seu lema é devagar, devagarinho sempre?
Martinho - Faço tudo devagar, devagarinho (risos). Não me prendo a tristezas nem a dores passadas.
Diário - Como surgiu a ideia de regravar o primeiro disco?
Martinho - Fazia um tempo que eu vinha escutando o meu primeiro disco. Pensei que podia regravá-lo com um tratamento diferente. Músicas tão bacanas mereciam uma roupagem legal. Naquela época (1969), eu gravei o disco meio às pressas. Agora, achei que podia fazer harmonias mais transadas.
Diário - Você tem um acervo que reúne toda a sua obra?
Martinho - Guardo apenas o meu primeiro LP. Não guardo nem fotos! Lá em Duas Barras (sua cidade natal, no Interior do Rio de Janeiro), tenho um acervo da minha carreira, mas só porque a minha mulher organizou e guardou tudo. Sou favorável à internet, acha-se tudo lá, não tem por que ficar guardando tanta coisa. Mas gosto de ter vinis. Alguns discos tinham um encarte mais rico, dava até para colocar um pôster dentro.
Diário - Aos 74, o fôlego ainda é o mesmo ou está desacelerando?
Martinho - Hoje, vou mais devagar. Faço menos shows, mas isto é ótimo. Se eu estivesse na correria de outras épocas, com várias apresentações por semana, não aguentaria. Canto quando estou a fim. Quando o artista recebe um convite para se apresentar em uma cidade e pensa "não quero ir pra lá!", ele não fará um bom show.
Diário - O que costuma escutar?
Martinho - Além dos meus parceiros de sempre, como o Zeca (Pagodinho), Arlindo (Cruz) e Monarco, observo e admiro nomes como Dudu Nobre, Diogo Nogueira, e, claro, Mart'nália e Tunico, os meus filhos (risos).
Diário - Como foi a escolha de repertório para este novo disco?
Martinho - É basicamente o mesmo do disco original, com sucessos como Menina Moça e Grande Amor. Uma das canções que eu tinha mais vontade de incluir era Pãozinho de Açúcar, um partido-alto da melhor qualidade.
Diário - Que momentos da sua carreira marcaram mais?
Martinho - O Festival da Record (em 1967, quando concorreu com a música Menina Moça) foi o primeiro momento marcante da minha carreira. Quando lancei o disco Canta Canta, Minha Gente (1974), o primeiro álbum duplo de samba da música brasileira, também foi importante. O Canto Das Lavadeiras (1989) trazia a faixa Madalena, uma das poucas que, até hoje, não podem faltar nos meus shows. E Lambendo a Cria (de 2011, que contou com a participação de cinco dos oito filhos do cantor), um disco coletivo. Eu cantava as faixas, e os meus filhos tocavam. Imagina que orgulho para um pai!
Pioneirismo e renovação
O primeiro álbum de Martinho da Vila marcou época no mundo do samba. O LP popularizou o partido-alto entre o público de classe média, com faixas como O Pequeno Burguês. Já no novo disco, uma das canções, Grande Amor, regravada com cordas e coros em tom mais clássico, ilustra a repaginação do repertório que parece mais uma coletânea de sucessos, tamanha a concentração de hits como o clássico Quem É do Mar Não Enjoa. As três faixas bônus de 4.5 e as releituras não deixam dúvidas: Martinho é bamba, sim, senhor!
Vários números, muitas histórias
49 discos seus foram lançados, entre CDs, DVDs e coletâneas.
Foi autor de nove livros.
Torcedor fanático do Vasco, compôs duas músicas em homenagem ao clube do coração.
A dedicação à sua escola de samba Unidos de Vila Isabel teve início em 1965. Desde aquela época, Martinho assinou vários sambas-enredo da agremiação. Com Kizomba: a Festa da Raça, garantiu para a Vila Isabel o título de Campeã do Carnaval do Rio de Janeiro, em 1988.
Foi o segundo sambista a ultrapassar a marca de 1 milhão de cópias vendidas com o CD Tá Delícia, Tá Gostoso, lançado em 1995. O primeiro com esta marca foi Agepê, que, em 1984, vendeu 1,5 milhão de cópias com o seu disco Mistura Brasileira.