Bombando
A breguice em alta! Nos palcos e nas telas...
Chayene, de Cheias de Charme, e outros ícones misturam letras românticas com figurinos exagerados
Levanta a mão quem nunca se pegou cantando Ex Mai Love, imitando Chayene (Cláudia Abreu), de Cheias de Charme, ou balançando a perninha ao som da Banda Calypso. Isto, sem falar em quantas vezes entoamos o hit Garçom em uma mesa de bar. Apontados como bregas, o fato é que todos estes estilos nunca saem de moda, fazem sucesso geração após geração, de Reginaldo Rossi a Gaby Amarantos, e estão
mais fortalecidos do que nunca com a consagração da novela das sete.
Em meio a letras que exaltam um romantismo exagerado e entre figurinos extravagantes, Retratos da Fama quer saber: afinal, o que é ser brega e por que faz tanto sucesso no Brasil?
Especialistas em moda dão o seu palpite, famosos entram na brincadeira e revelam
momentos das suas vidas em que caíram na breguice, e o povo aponta quem são
as celebridades mais bregas do momento.
Prazer em vestir-se
Paula Fernandes divide opiniões quando o assunto é o seu estilo. Com a sua famosa cinturinha fina, a cantora abusa de transparências, corpetes, vestidos curtíssimos e decotes: às vezes, tudo no mesmo look. A mineirinha também arrisca-se em modelitos de gosto duvidoso, cheios de babados, rendas, franjas e até veludo. Recentemente, no Criança Esperança, chamou a atenção e foi assunto, mais uma vez, pelo figurino: primeiro, um vestido longo com um megadecote, que chegava quase ao umbigo. Depois, com um vestido mínimo e ainda cheio de transparência.
- Eu sempre tive cintura fina, então, gosto de marcá-la. Tenho prazer em vestir o que
eu quero - diz Paula.
Para a produtora de moda do Diário Gaúcho, Anah Ferraz, a mistura de estilos prejudica a artista, deixando-a sem uma identidade clara.
- A marca dela é a mistura de doçura e sensualidade, mas, com as roupas que usa, não convence nem para um lado nem para o outro - analisa.
Exagero permitido
Há quem diga que o sucesso arrebatador de Chayene (Cláudia Abreu) em Cheias de Charme se deva à semelhança com a vida real. Coincidências à parte, a Rainha do Eletroforró da novela das sete é um escândalo só: a extravagância, a abundância do cabelo amarelo, as roupas impregnadas de brilhos e cores e até um brilhante colado no lugar de uma pinta no rosto. Tanta ousadia é aprovada e adorada pelo público justamente por se tratar de uma personagem de tevê.
- Ela é hilária, fica linda com os exageros, mas é totalmente brega, do comportamento e do vocabulário ao excesso de brilho e de maquiagem. Ser escandalosamente exagerada é a marca registrada dela - destaca Anah.
Foi a primeiríssima!
Ovacionada no Pará e reconhecida em todo o Brasil, Joelma pode ser considerada a precursora de um estilo que virou sinônimo de sucesso. Brilhos, cores, babados, losangos, pontas, movimento, recortes e pele à mostra fazem parte do figurino que ela exibe em seus shows com a Banda Calypso.
- As roupas que Joelma usa são totalmente fora dos padrões, mesmo para uma artista - aponta a nossa produtora de moda.
Prova do tamanho do sucesso é que a Banda Calypso terá a sua história contada em um filme. Deborah Secco interpretará Joelma na telona!
O segredo é ter atitude
Discrição não é o forte de Gaby Amarantos, e muito menos o que a cantora almeja.
- Eu sou brega. É a minha moda, o meu estilo de vida, a minha atitude - defende a cantora.
Plumas, paetês e muito brilho compõem o figurino da dona do hit Ex Mai Love, tema de abertura de Cheias de Charme. Ela também não hesita em exibir o corpão em modelitos justos, curtos e sensuais, apesar das curvas mais avantajadas:
- Brega, para mim, é o preconceito em todas as suas faces. O preconceito de uma elite
que nega as suas raízes e paga caro para ouvir algo que, no fundo, nem curte.
Por que agrada
Especialistas em moda e estilo, a produtora do Diário Gaúcho Anah Ferraz e o coordenador de figurino da RBS TV, Beto Zambonato, definem a breguice e tentam explicar a razão para fazer tanto sucesso no Brasil.
- Ser brega é exagerar nas tendências ou usá-las sem ter perfil. Pecar pelo excesso, mesmo que esteja na moda. E agrada porque é popular. O brega é sempre alegre e transmite expansão. É uma forma de se comunicar dizendo: "Cheguei! Estou aqui e nem aí para o que pensam de mim!". Isso cativa, por mais absurdo ou feio que pareça - define Anah.
Já Beto defende a moda democrática.
- Toda manifestação popular é legítima, se for verdadeira. Por que ter preconceito? Precisamos abrir a cabeça e perceber este fenômeno. O brega é a evolução das nossas raízes. Em 1960, tomar um táxi de bombacha era muito difícil. Hoje, desfilar de cuia na mão e de bombacha é uma evolução - compara Beto.
Para ele, o sucesso vem da alegria que o brega transmite:
- Eu acho adorável e espontânea a manifestação do brega. É libertário, é colorido, risonho, é uma gaitada, e isso tudo é popular. O brega é a cara de um Brasil verdadeiro e espontâneo.
Representantes e ídolos da categoria
Luiz Caldas, Sidney Magal, Waldick Soriano, Cauby Peixoto... Não faltam ídolos bregas no hall de artistas brasileiros. A característica comum entre eles: o estilo romântico
exagerado e um visual extravagante. Entre os maiores representantes do gênero, destacam-se o pernambucano Reginaldo Rossi e o cearense Falcão, ícones consagrados da breguice.
Reginaldo sempre usou e abusou do que há de mais cafona, tanto no visual quanto nas letras das suas músicas. Hoje, virou referência de popularidade, e um dos hits bregas mais cantados em festas é a sua música Garçom.
- Eu entendo inglês, francês e espanhol. Fiz faculdade de Engenharia. Mas prefiro dialogar com o povão e cantar as dores do mundo de uma forma que tanto o pedreiro quanto o médico me entendam. É demérito gostar do que o povo gosta? - questiona.
● Tem que ser autêntico
Já Falcão é famoso por juntar frases em inglês e português em canções sem pé nem
cabeça. Para legitimar o rótulo brega, capricha nos ternos coloridos, com um girassol como marca.
- Devemos levar a coisa com espontaneidade, não se incomodar com o que os outros vão falar. Esse que é o sentido legal do brega. Ser um brega autêntico - argumenta
o músico.
Quem nunca se rendeu?
Perguntamos aos famosos se eles nunca deslizaram no visual e cometeram uma breguice. Constatamos que brega, na maioria das vezes, está associado a tendências
de uma época. Veja o que contam as celebridades que, hoje, são referências visuais gaúchas, na tevê ou nos palcos.
Rodaika, apresentadora do Patrola, da RBS TV
- Tem uma peça que eu usei muito nos anos 80, e que, hoje, eu não posso nem olhar: calça baggy! Hoje, eu fugiria como o diabo da cruz (risos)! Fazia um balão na perna e afinava embaixo. Quanto mais balão fosse, melhor. Mas aquilo era horrível, deformava o
corpo, era o quadro da dor! Me joguei só porque era moda, mesmo ficando horroroso em
mim. Quando vejo as fotos, penso: que breguice (risos)!
Daniela Ungaretti, apresentadora do RBS Notícias, da RBSTV
- Na adolescência, no início da década de 90, eu estava meio rebelde, sem saber bem quem eu era, definindo a minha personalidade. Entrei em uma onda hippie, completamente fora de época. Usava blusão virado do avesso, roupa larga, muito maior do que o meu tamanho. A coisa mais horrível! Não posso nem lembrar! Era uma rebeldia. Hoje eu olho pra trás e acho a maior cafonice!
Tati, vocalista da banda Chimarruts
- Eu me lembro das calças boca de sino, com telinhas, fluorescentes. Também usava as saias de lambada, verde-limão, terríveis (risos)! Mas tem uma coisa que acho muito cafona, mas uso até hoje: polaina! Não tem jeito, esquenta, e eu uso mesmo (risos)!
Fala, povo!
Ao longo da semana, perguntamos no site do Diário Gaúcho qual a celebridade é a
mais brega. Veja o resultado!
- A Chayene, personagem da Cláudia Abreu da novela Cheias de Charme.
Janice Euzébio, de Viamão
- Entre os cantores, sem dúvida, a Ângela Maria. Também são bregas a Sônia Abraão, o Datena e o Amado Batista.
Maria Sorrentino, de Porto Alegre
- Tem várias celebridades bregas! Tiririca, Agnaldo Timóteo, Ronaldinho Gaúcho, Sérgio
Mallandro, Ângela Maria e Gretchen são algumas.
Fabiana Mell, de Viamão
- Além da Ângela Maria, eu acho bregas o Gugu Liberato e a Carla Perez.
Vanildo Soares, de Porto Alegre