Papo sério
Para que mudar, Gabriela?
Casais sofrem quando um não aceita as diferenças do outro
"Eu nasci assim, eu cresci assim e sou mesmo assim, vou ser sempre assim: Gabriela, sempre Gabriela!".
Os versos de Modinha Para Gabriela, de Dorival Caymmi, ilustram bem o comportamento e a fase pela qual está passando a personagem de Juliana Paes na novela das 11. Foram a sensualidade e a liberdade da cozinheira que fizeram com que
Nacib (Humberto Martins) caísse de amores por ela. Porém, após o casamento, ele exige que Gabriela mude, moldando-se aos padrões do que se esperava de uma mulher
casada na época - o Interior da Bahia na década de 1920. Ela tenta adaptar-se aos desejos do marido, mas sofre e, nos próximos capítulos, vai mostrar que não é
tão fácil assim de ser domada.
Na vida real, quase um século depois, a situação repete-se com muita gente. É comum ver casais sofrendo porque, após um tempo de relacionamento, um não aceita as diferenças do outro. Daí, começam as pressões para mudar, e, se um cede muito, acaba tornando-se triste e reprimido.
A situação é bem comum
A psicanalista e sexóloga Rafaela Couto salienta que querer mudar o parceiro é uma situação que acontece em praticamente todos os relacionamentos:
- No início, os casais tentam provar que têm afinidades, que são parecidos. Só depois de um tempo é que começam a pedir mudanças.
Rafaela salienta que as uniões passam por duas fases. A primeira, bem no início, é a da identificação, na qual há um encantamento pelo jeito do outro. É quando queremos, inconscientemente, agregar características que são do nosso parceiro. É o que faz com que um homem tímido fique interessado por uma mulher expansiva, por exemplo.
● Atitude que azeda a relação e pode acabar com o romance
Só que, depois, chega a fase da estranheza. Começamos a perceber as diferenças que existem no outro e a ouvir a opinião de terceiros. Ao mesmo tempo, surge a necessidade de exibir ao mundo o quanto o relacionamento é perfeito. É nesta fase que muita gente se desestabiliza e, de forma inconsciente, começa a tentar destruir no outro tudo aquilo que mais gostava no início.
Os estágios do relacionamento
O psicólogo especializado em relacionamentos e escritor Alexandre Bez dá mais pistas
sobre o assunto ao diferenciar a paixão, o amor e a atração física.
● Paixão: no calor da paixão, não ligamos para modos, jeitos ou comportamentos. Os sentidos são praticamente suspensos, e os defeitos, mascarados - lembrando que esta fase dura entre seis meses e dois anos. Quando acaba, das duas, uma: ou termina todo o sentimento ou o casal migra para o amor.
● Amor: quando se ama, a relação é mais tranquila. Não se está tão cego e consegue-se administrar e ceder. Traz tranquilidade.
● Atração física: não demanda envolvimento e fica limitada apenas ao ato sexual, mais em um plano físico.
O que fazer?
Quem está passando por situação semelhante a de Gabriela deve ficar atento! Mudar demais o seu jeito só para agradar o parceiro não é legal.
- Se você começar a enjaular uma pessoa, o resultado pode ser catastrófico - diz Alexandre.
Rafaela salienta que quem se sujeita a mudar desta maneira acaba magoado, mal-humorado, triste, ressentido. Atitudes que azedam o relacionamento. A solução para o problema passa pelo diálogo.
- Quem é cobrado a mudar tem que tentar explicar que, apesar de gostar do outro, cada um tem o seu jeito, que não pode ser destruído - aconselha Rafaela.
É claro que amar é ceder, e que todo mundo pode melhorar. A especialista garante que é possível trazer o parceiro para o nosso lado, sem precisar anulá-lo:
- O ruim é quando tentamos mudar para viver em função do outro.
Mulheres são maiores vítimas
Por sua experiência em consultórios, Rafaela avalia que a exigência por mudanças, quase sempre, parte do homem para a mulher.
- A nossa cultura até encoraja isto, pois é a mulher a maior empenhada em manter o casamento. E é algo que acontece independentemente da época, seja na Bahia de Gabriela, seja nos dias atuais.