O caminho da música
A bombacha da modernidade pede passagem
Uma das músicas mais representativas do país, a nativista, já revelou grandes nomes para o cenário nacional. Só para citar alguns, Teixeirinha, Gildo de Freitas, Os Monarcas e Os Serranos atravessaram as fronteiras do Mampituba levando na bagagem os nossos costumes e o som da gaita para o Brasil todo ver e apreciar.
Pois uma nova geração, abençoada pelos antigos tradicionalistas, chega com tudo para dar continuidade às tradições. Shana Müller, que agora, além de cantar, apresenta o Galpão Crioulo, Pirisca Grecco e Érlon Péricles estão entre os representantes desta geração de ouro. E que baita responsabilidade pela frente!
Tradições preservadas e porteiras novas abertas
Pirisca Grecco, 40 anos, de Uruguaiana, já lançou seis CDs solo e faturou festivais como a Califórnia da Canção Nativa, de Uruguaiana, e o Festival da Coxilha Nativista, de Cruz Alta. Ele reconhece a herança deixada pelos antigos, mas ressalta que a nova geração tem a sua marca.
- Copiamos os antigos pelo orgulho de preservar as tradições. Este pessoal que abriu as porteiras nos ensinou a ter esta grandeza, a estar atento a tudo. Herdamos deles o gosto por cantar e usar bombacha. Mas andamos com celular na guaiaca, fechamos shows pela internet, é um gauchismo mais contemporâneo - diz.
Para Pirisca, estas novas tecnologias ajudaram ainda a unir ritmos. O cantor é um dos responsáveis pelo projeto Clube da Esquila, que, há dois anos, reúne gaudérios e gente do pop como Humberto Gessinger:
- Por isso, o nosso som tem este sotaque contemporâneo. É o galpão moderno, um tubo de ensaio.
Canal de comunicação com os jovens
Fera da música gauchesca, Luiz Carlos Borges, 59 anos, dá a sua bênção à gurizada que tenta consolidar o seu espaço.
- Eu tenho notado que as coisas vão acontecendo em ciclos, de tempos em tempos. E acho que estamos passando por um momento importante, com a afirmação deste nomes - considera Borges.
Para ele, a nova geração transita muito bem entre os jovens:
- Eles não são tão duros na linguagem. O Érlon, por exemplo, consegue dizer a mesma coisa sobre o cavalo de uma forma mais acessível para o jovem. Por esse motivo, estão conseguindo chegar a vários meios de comunicação. É um luxo!
Vitória de uma geração
Shana Müller é outra das novas vozes que se firmou. Recentemente, ainda assumiu um posto de primeira grandeza no tradicionalismo, no comando do Galpão Crioulo ao lado de Neto Fagundes. Aos 32 anos, teve o seu show Brinco de Princesa selecionado pelo programa Petrobras Cultural em 2011, e, graças a isso, percorreu o país contando com participações como as de Humberto Gessinger e de Renato Borghetti.
- A minha chegada ao Galpão é a afirmação de uma geração - festeja ela.
Novidade, com respeito aos antigos
Aos 40 anos, Érlon Péricles acredita que a nova geração veio para acrescentar ao que os antigos fizeram, "mas com muito respeito".
- O que a gente faz no nosso dia a dia é influência direta da experiência e do que ouvíamos dos antigos. É a bombacha da modernidade, como a gente diz, que, aliás, é o nome de uma canção do Buenas e M' Espalho - analisa o músico de São Luiz Gonzaga, que já faturou diversos festivais e tem 600 músicas gravadas.
Uma das características da nova geração, para Érlon, é a facilidade de mesclar ritmos.
- Sempre procuramos ouvir todo tipo de música. Eu sou da época da explosão do rock, do Paralamas do Sucesso, de Legião Urbana. Ouvia Gildo de Freitas e Teixeirinha, é claro, mas adoro tanto o Mano Lima quanto o Caetano Veloso. São influências que busquei para formar a minha salada musical - afirma o gaudério.
Aplausos
Confira o pitaco de Luiz Carlos Borges sobre três dos grandes nomes.
- Érlon - "É um baita compositor de ofício".
- Shana - "Além da boa voz, tem uma grande disciplina de trabalho, o que é imprescindível".
- Pirisca - "Canta demais, tem tempo de estrada".