Revelações
Entrevista: Pedro Bial de olhos bem abertos
Pedro Bial é bem mais do que um apresentador: repórter experiente que cobriu a queda do Muro de Berlim, em 1989, e diretor de cinema, ele conta um pouco mais sobre si
Há 11 anos, ele é a cara do Big Brother Brasil. Mas Pedro Bial é bem mais do que um apresentador: repórter experiente que cobriu a queda do Muro de Berlim, em 1989, e diretor de cinema, ele conta um pouco mais sobre si e dá as suas opiniões sobre o BBB nesta entrevista, uma das poucas concedidas por ele recentemente. Dê uma espiadinha em Pedro Bial!
Nada foi planejado
- Quando apareceu um formato novo na TV Globo, o Big Brother, em 2002, tinham que pensar em alguém para apresentar. Pensaram em vários nomes e sobrou para mim. Deu certo. Eu não tramei nada disso. Fui seguindo a vida, seguindo os trilhos. E é assim que a banda toca. Não acho mais nobre dirigir um filme do que apresentar o BBB ou o Fantástico ou uma reportagem. É um trabalho, e a ideia do trabalho é nobre.
A idade chegou, mas não tem problema!
- Eu me lembro que, quando começou o BBB, eu pensava: "eu vou fazer 50 anos apresentando este programa". Vou fazer 55 anos em março... Quando revejo o BBB, me dá essa sensação: "É um senhor nesse programa de jovens". Mas dentro de mim eu não me sinto um senhor, sou um menino de 15, 16 anos. Só me sinto assim quando eu me olho no espelho e vejo meus cabelos brancos.
Caso Dhomini
- Eu acho que a tal declaração do Dhomini (sobre ter quebrado os dentes de seu cachorro), que não foi ao ar na tevê aberta, só no pay per view, custou a ele o Big Brother. Ele é um fabulador, não dá para saber se ali tem um pingo de verdade. O que interessa não é o que aconteceu, mas a interpretação, como as pessoas reagiram àquilo.
BBB14
- Olha, eu nem sei se vai ter o Big Brother Brasil 14. A cada ano, a gente nunca sabe se vai ter a próxima edição. Se apresentar-se a oportunidade para mim, é possível que eu faça. Agora, se a decisão for de ter, por qualquer motivo, um outro apresentador... Eu faço aquele ano sem saber do seguinte.
Aline, a "brindada"
- Acho que ela foi eliminada por pessoas parecidas com ela. Na favela dela (no Rio), por exemplo, o seu comportamento não foi bem-visto. Já as pessoas diferentes queriam que ela permanecesse. Mas é o que eu falei: "para vender, você tem que seduzir". O "compra que eu quero que você me compre" é uma péssima estratégia.
Envolvimento
- As minhas simpatias pelos participantes (do Big Brother) oscilam, como a de qualquer espectador. Tem uma semana que eu estou mais apaixonado por um e encrencado com outro. Na outra semana, é diferente.
Afeto
- A presença de veteranos trouxe um tipo de afeto, sim, que estou experimentando pela primeira vez. No BBB10, era diferente, porque só um ficou (o gaúcho Marcelo Dourado, que venceu aquela edição). Mas tenho um envolvimento com todos eles. Anamara é sempre minha musa. Estou encantado com o Eliéser, ele está muito divertido. Desses novos, a Andressa é uma figura tão interessante.
Redes sociais
- Quando a Aline saiu, ela ficou quatro horas nos trend topics (assuntos principais) do twitter. Quer dizer, é uma evidência de que as redes sociais são uma minoria barulhenta, mas quem decide mesmo é a maioria silenciosa.
Contribuição do reality show
- O BBB foi pioneiro na "desdemonização" do voyeurismo. As pessoas gostam de olhar as outras, isso não necessariamente é uma perversão. A única perversão é fazer sexo sem ter vontade. O resto, vale tudo.
Bial voyeur
- Fico dia e noite observando (os participantes do BBB). Às vezes, eu interrompo para ver um episódio de Mad Men (série norte-americana exibida no Brasil pelo SBT e pelo canal a cabo HBO). É uma suspensão da vida normal por três meses. É isso o que tenho que fazer, e eu faço direito.
Pitaco
- Não participei da escolha dos ex-participantes. Mas quando o Bambam saiu, eu participei um pouquinho de quem iria entrar no lugar (Yuri), mas foi uma decisão colegiada.
Discurso de eliminação
- Para eles (os confinados), tem que ser uma carta enigmática, mas com sinais claros para o público. Algo que provoque, mas não facilite. Quer dizer, é um momento de conforto, mas não facilito... Definido o paredão no domingo, fico até terça-feira estudando. Certas reflexões me levam a textos e autores. Vou deixando tudo em ebulição, para, na véspera, fazer. No dia, faço uma interpretação do meu próprio texto. Eu sei até quando vou me emocionar. Eu gosto muito quando o texto sai redondinho.
Politicamente correto
- Eu acho o politicamente correto um saco. O Big Brother é completamente incorreto. Ainda bem. Mas até por isso causa tanta repercussão aqui fora, onde todos se sentem no direito de julgar implacavelmente os participantes.
Veteranos cansados
- Acho que os veteranos voltaram animados e, depois de alguns dias, viram como a vida lá é difícil, como há longos momentos de tédio. O Bambam (que pediu para sair) deve ter sentido isso, o próprio Dhomini. Essa reação não passou pela minha cabeça.
Quando o BBB termina
- Não procuro ninguém, mas tenho interesse para saber se estão bem. Mas eles (os ex-BBBs) são muito ocupados com as vidas deles. Eu fico para trás.
Queridinhos da edição
- Ainda não tenho queridinhos. Eu sempre gosto mais das mulheres, mas estou enternecido pelo Eliéser.
Na Moral
Projeto que Bial vinha batalhando para colocar no ar desde 2008, Na Moral estreou a sua primeira temporada no ano passado. O programa de debates teve bons índices de audiência e recebeu elogios da crítica. A segunda temporada está garantida, e o programa deve voltar em junho.
Uma volta ao cinema
Entrar novamente no mundo do cinema não foi fácil. As primeiras experiências de Pedro Bial como diretor - um documentário e um longa de ficção baseados no livro Primeiras Histórias, de Guimarães Rosa - custaram, segundo Bial, todo o dinheiro que ele havia economizado. Mas foi convencido a voltar em 2008, com a ambição de contar a história de um dos malditos da música brasileira. O resultado é Jorge Mautner - o Filho do Holocausto, dirigido por ele e por Heitor D'Alincourt, em cartaz nos cinemas.
- Acho que só agora as pessoas estão prontas para recebê-lo, não como um maldito, como era conhecido, mas como alguém que sempre bem disse - salienta Bial.
Se Mautner foi injustiçado historicamente, o filme trata de colocá-lo em evidência.
- Sempre que assisto, fico surpreendido comigo mesmo e com o filme - diz Mautner.