O assunto é sério
Autismo: batalha na novela e na vida real
Entenda o que é o autismo e conheça os desafios dos pais de autistas na busca por melhores condições para os seus filhos
Em Amor à Vida, Linda (Bruna Linzmeyer) chama a atenção para uma síndrome que, segundo estimativas, afeta 120 mil pessoas somente no Rio Grande do Sul: o autismo. Os números são alarmantes - pesquisa recente da Organização Mundial da Saúde informa que um a cada 54 meninos (eles são muito mais atingidos do que as meninas) é autista e que o número de casos, por motivos desconhecidos, tem aumentado entre 10% e 17% ao ano. Apesar disso, a doença ainda é bastante desconhecida, e as famílias afetadas sofrem com o preconceito e com a falta de assistência do poder público.
Entenda melhor a síndrome
A médica clínica Ana Beatriz Squadri, da Santa Casa, esclarece questões sobre o autismo:
- É uma disfunção neurológica com base genética cujas características são dificuldade de interagir e de comunicar-se, comportamentos repetitivos e restritivos, como movimentos contínuos com o tronco ou com as mãos, e interesses muito específicos (ficam observando um mesmo objeto durante horas, por exemplo).
- O autista não lida bem com mudanças em sua rotina e tem muita sensibilidade aos estímulos sonoros e visuais.
- Há vários graus de autismo, do mais leve, quando não há comprometimento da fala e da inteligência, ao mais severo.
- Não há cura, e o tratamento ideal é a combinação de vários profissionais das áreas da saúde e educação. Se necessário, podem ser usados medicamentos.
Após o diagnóstico, mais dificuldades
Entidades, familiares e profissionais de saúde são unânimes em afirmar: não há uma rede de atendimento pública adequada para o autista. Não existe, na Capital, nenhum tipo de atendimento de saúde sem custo, especialmente voltado aos autistas. Por isso, muitas famílias têm garantido na Justiça o direito a um acompanhamento adequado.
- Não há atendimento gratuito de saúde à pessoa com autismo, consideradas todas as suas necessidades - explica Marcelo Ribeiro Lima, diretor-presidente do Instituto Autismo & Vida.
Sancionada em 27 de dezembro de 2012, a lei federal 12.764 garante aos autistas direitos como o atendimento gratuito nas áreas da saúde e educação.
Situação pode melhorar no futuro
A coordenadora da Política de Saúde da Pessoa Com Deficiência da Secretaria Estadual da Saúde, Anne Montagner, reconhece as dificuldades em cumprir a lei, mas afirma que a situação deve melhorar:
- Está em fase de aprovação o Plano Estadual de Atenção à Pessoa com Deficiência, que prevê 23 centros especializados em reabilitação no Estado, qualificando o atendimento. A dificuldade das famílias de autistas deve diminuir significativamente.
Preconceito na rua e dentro de casa
A situação da novela, na qual Linda é superprotegida pela mãe, Neide (Sandra Coverloni), e ambas sofrem com os destratos da irmã de Linda, Leila (Fernanda Machado), é bem comum na vida real. Os pais de um autista, em especial, a mãe, costumam isolar-se devido aos cuidados e às exigências do filho.
Heide Kirst, coordenadora-geral da Associação Pandorga, explica que o desconhecimento da sociedade sobre a doença é muito grande:
- As mães dizem que o problema maior não é a criança em si, mas a solidão, até em relação aos parentes. São famílias que acabam isoladas, e o autista, por ter traços faciais semelhantes aos de qualquer pessoa, é, muitas vezes, visto como uma criança malcriada, cujos pais não o educaram corretamente.
Depoimento: Pâmela Pinheiro, de Alvorada
"Quando Patrick tinha um ano e meio (ele tem oito agora), assisti a uma reportagem no Fantástico sobre autismo, e todas as características batiam com as dele.
Consegui uma clínica gratuita em Porto Alegre, a Saerme, na qual ele foi muito bem. Só que a clínica fechou em 2011, e o Patrick ficou um ano sem tratamento, tendo crises. Foi terrível.
Depois, consegui uma vaga para ele em uma clínica particular, via decisão judicial. O Patrick é muito inteligente, começou a ler aos dois anos, fala cinco línguas e adora computador. Sonho em vê-lo adulto, com uma profissão que explore a sua inteligência. Cada conquista dele é uma vitória."
Os sinais de alerta
Quanto mais cedo é feito o diagnóstico, mais chance de sucesso terá o tratamento. Por isso, as mães devem ficar atentas para alguns sinais dos bebês e, em caso de dúvida, procurar um médico. Veja quais são!
- De dois a três meses: o bebê não faz contato frequente olho no olho.
- Aos três meses: o bebê não sorri para os pais ou ao ouvir as suas vozes.
- Aos seis meses: o bebê não dá risada nem tem expressões alegres.
- Aos oito meses: o bebê não segue o seu olhar quando você olha algo distante.
- Aos nove meses: o bebê não balbucia.
- Aos 12 meses: não imita os sons que você faz nem sabe dar tchau.
- Aos 18 meses: não aponta para algo do seu interesse.
- Aos 24 meses: não fala frases de duas palavras.
- Em qualquer momento: perde uma habilidade que já havia dominado (por exemplo, para de falar).
Para mais informações e orientação
- Instituto Autismo & Vida: site www.autismo evida.org.br ou e-mail contato@autismoevida.org.br
- Associação Mantenedora Pandorga: fone 3588-7799 e site www.pandorga autismo.org