Preconceito
Drama da vida real: A difícil decisão de se assumir gay
Se o desejo do juiz federal Roger Raupp Rio já fosse realidade, é possível que o "papi soberano" César (Antonio Fagundes), de Amor à Vida, não discriminasse tanto o filho, Félix (Mateus Solano), ao confirmar as suas suspeitas de que ele é gay. As cenas vão ao ar na próxima quarta-feira, quando Edith (Bárbara Paz) fizer a revelação para a família Khoury.
Autor dos livros Em Defesa Dos Direitos Sexuais e Direito da Antidiscriminação, além de professor do mestrado em direitos humanos da UniRitter, Roger defende a criminalização da homofobia. E, se fosse assim, César poderia ser preso por discriminar tanto o filho gay.
Para acabar com tanto sofrimento para os homossexuais, o juiz ressalta que é preciso combater o preconceito e dá o recado:
- A pessoa tem direito a ser respeitada na sua liberdade sexual, não discriminada!
Em Amor à Vida, César jogará na cara do filho a vergonha que sente por Félix ser gay, embora não admita isto.
- Eu não tenho preconceito, mas homem que faz o que você faz, pra mim, não é homem! Outros pais te botariam pra fora de casa - dirá o médico.
Bradando valores de uma família tradicional, César ainda chantageia o filho para ele reaproximar-se da ex-mulher. Mais uma vez, Félix vai trancar a porta do armário.
Sérgio Malavolta, 59 anos, tem uma história que lembra a da novela. Ele foi casado com uma mulher, mas sentia que não estava completo.
- Sufoquei os meus sentimentos por 11 anos, por causa da família e da profissão (bancário). Até que não consegui mais e fui embora de casa - revela o radialista, que atende pelo nome de Sylvinha Brasil quando se traveste para fazer shows em boate.
Seu companheiro é o também radialista Claudiomiro Lemos, 42 anos. Ele teve mais dificuldade para sair do armário.
- Assumi que era gay quando o meu então companheiro, que era um ex-padre, cometeu suicídio porque não se aceitava. Com o meu sofrimento, todo mundo viu que éramos um casal - recorda, emocionado.
Hoje, Sérgio e Claudiomiro têm o apoio das duas famílias.
- A gente só quer levar uma vida normal - afirma Sérgio, que também torce pela criminalização da homofobia.
Uma conquista: união registrada em cartório
Em maio, uma resolução do Conselho Nacional de Justiça determinou que os cartórios de todo o país devem aceitar o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo - no Rio Grande do Sul, isso já existe desde 2011. A decisão assegura os mesmos direitos que casais heterossexuais têm com o documento, mas só valerá a partir da publicação no Diário de Justiça Eletrônico, o que ainda não ocorreu.
Isso abre brecha para que algum cartório se negue a fazer o registro. Ainda assim, somente no cartório de registro civil da 4ª Zona da Capital, neste ano, já foram realizados 20 casamentos entre homossexuais.
Psicóloga e colaboradora da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia, Priscila Pavan Detoni ressalta que, pior do que viver dentro do armário, é não sair dele por medo da violência.
Cresce mais de 100% a violência contra gays
- Ao mesmo tempo que há redes de apoio aos gays, tem muita gente preconceituosa. Eu fiquei apavorada com os números recentes de denúncias! - alerta a psicóloga Priscila.
Ela refere-se aos dados da Secretaria de Direitos Humanos: em 2012, foram 3.084 denúncias relativas à população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais). No ano anterior, foram 1.159, um aumento de mais de 160% da violência homofóbica no Brasil!
Projeto de lei da criminalização da homofobia
Tão pedida pela população LGBT e pelos defensores dos direitos humanos, a aprovação do projeto de lei da Câmara (PLC) 122, que trata da criminalização da homofobia, deve ser votado no mês que vem, no Senado. Presidente do Conselho Nacional LGBT e coordenador do grupo LGBT da Secretaria de Direitos Humanos, Gustavo Bernardes explica o que precisa ser feito para ter validade:
- Esta lei foi apresentada pela deputada Iara Bernardes (PT-SP), em 2005, na Câmara Federal. Aprovada, foi para o Senado e, atualmente, está na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado. O senador Paulo Paim (PT-RS), relator do PLC, elaborou um substitutivo (emenda no projeto original), e o documento ainda não está pronto, mas agrega sugestões. Entre elas, passa a chamá-la de "lei de enfrentamento de crimes de ódio e delitos de intolerância". Acredito que a pessoa será punida como no racismo, com cadeia.
Se for aprovado no Senado, o PLC volta para a Câmara e só entra em vigor se for aprovado de novo.
- Dos 310 homicídios no ano passado de LGBT, no país, mais de 50% eram travestis. - Apesar de ser a região com menor número, o Sul teve 29 homicídios de LGBT em 2012.
SAIBA ONDE PROCURAR AJUDA
Confira os contatos de ongs que dão apoio à população LGBT
- Coletivo Feminino Plural: Avenida Farrapos, 151, segundo andar, Bairro Floresta: http://femininoplural.org.br/site/
- Escola Lilás de Direitos: http://forumongaidsrs.webnode.com.br/
Igualdade: Rua dos Andradas, 1560, sala 613, Galeria Malcon, Centro Histórico: www.aigualdaders.org/
- Somos: sediado no Gapa RS, Rua Luiz Afonso, 234, Bairro Cidade Baixa, com atendimento às quintas, das 14h às 18h: www.somos.org.br
- Nuances: pelos site gruponuances.blogspot.com.br ou e-mail nuances.nuances@gmail.com
Abaixo, estão as listas dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) e Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas), da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc). Neles, há equipes de assistentes sociais e psicólogos para atender famílias que precisam de auxílio para enfrentar problemas como o do Félix (Mateus Solano), em Amor à Vida. Também há possibilidade de atendimento individual.
- Creas Restinga/Extremo Sul: Avenida Macedônia, 1000, Bairro Restinga
- Cras Restinga: Rua Economista Nilo Wülff, s/nº, Bairro Restinga
- Cras Extremo Sul: Rua Gumercindo de Oliveira, 23, Loteamento Chapéu do Sol
- Cras Restinga 5ª Unidade: Rua Nº 2, 20, 5ª Unidade, Bairro Restinga
- Creas Leste: Rua Porto Seguro, 261, Bairro Ipiranga
- Cras Leste I: Rua São Domingos, 79, Vila Bom Jesus
- Cras Leste II: Rua Reverendo Daniel Betts, 319, Bairro Protásio Alves, na Associação de Moradores da Vila Tijuca
- Creas Sul/Centro-Sul: Rua Tito Marques Fernandes, 409, Bairro Ipanema
- Cras Centro-Sul: Rua Arroio Grande, 50, Bairro Cavalhada
- Cras Hípica: Rua Geraldo Tollens Link, 235, Bairro Aberta dos Morros
- Cras Sul: Avenida Serraria, 1145, Bairro Serraria
- Creas Norte/Nordeste: Rua Paulo Gomes de Oliveira, 200, Bairro Sarandi
- Cras Noroeste: Rua Irene Capponi Santiago, 290, Vila Floresta
- Cras Norte: Rua Paulo Gomes de Oliveira, 200, Bairro Sarandi
- Cras Santa Rosa: Rua Abelino Nicolau de Almeida, 330, Bairro Santa Rosa
- Creas Glória/Cruzeiro/Cristal: Rua General Gomes Carneiro, 481, Bairro Medianeira
- Cras Glória: Rua Coronel Neves, 555, Bairro Medianeira
- Cras Cristal: Rua Curupaiti, 27, Bairro Cristal
- Cras Cruzeiro: Avenida Niterói, 36, Bairro Medianeira
- Creas Lomba do Pinheiro: Rua Gervásio Braga, 642, Parada 16 da Vila Bonsucesso, Bairro Lomba do Pinheiro
- Cras Ampliado Lomba do Pinheiro: Rua Jaime Rollemberg de Lima, 107, Vila Mapa
- Creas Partenon: Rua Everaldo Marques da Silva, 12, Bairro Partenon
- Cras Partenon: Rua Barão do Amazonas, 1959, Bairro Partenon
- Creas Eixo Baltazar/Nordeste: Rua Petronilla Cogo, 34, Bairro Rubem Berta
- Cras Bárbara Eixo-Baltazar: Rua Josefa Barreto, 150, Bairro Passo das Pedras
- Cras Nordeste: Rua Martin Felix Berta, 2357, Bairro Mario Quintana
- Cras Timbaúva: Irmão Faustino João, 89, Bairro Rubem Berta
- Creas Centro/Ilhas/Humaitá/Navegantes: Travessa do Carmo, 50, Bairro Cidade Baixa
- Cras Centro: Rua Sebastião Leão, 276, Bairro Cidade Baixa
- Cras Ilhas: Rua da Cruz, 5, Ilha dos Marinheiros
- Cras Vila Farrapos: Rua Maria Trindade, 115, Vila Tecnológica/Navegantes