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Eles se viram nos 30!

Conheça as profissões dos músicos que ainda não chegaram ao estrelato

Artistas conciliam as noites de ensaios e shows com outras atividades durante o dia para garantir o sustento

16/08/2013 - 20h15min

Atualizada em: 16/08/2013 - 20h15min


José Augusto Barros
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Da Zona Norte ao volante ao Centro, Zé Heraldo leva a vida cantando

Em um universo distante, estrelado, nomes como Zezé Di Camargo & Luciano e Roberto Carlos faturam milhões com suas turnês, têm uma megaestrutura ao seu
dispor, mansões, viajam em jatos e desfrutam de todo o glamour que o sucesso pode trazer.

Porém, a realidade da maior parte dos músicos não é a mesma. Literalmente, esta legião se vira nos 30. São artistas que cultivam o sonho de viver somente da arte, mas, enquanto esse dia não chega, têm de conciliar as noites de ensaio e de shows com
outras profissões durante o dia, para garantir o sustento.

Não pense que essa rotina desanima os nossos heróis ou faz eles pensarem em desistir. Pelo contrário! O Diário Gaúcho passou um dia com três artistas de Porto Alegre que atuam em diferentes profissões longe dos palcos, mas que têm em comum o amor pela música e muita perseverança para seguir em frente. Conheça a história deles!

Um sonzinho ao volante

Quem sobe na linha 662 - Rubem Berta , que liga um dos bairros mais populosos de Porto Alegre ao Centro, à tarde, com Zé Heraldo, 37 anos, sabe que a viagem será diferente. Durante ela, o motorista e músico, 15 anos de volante e parceiro de Ricardo numa dupla sertaneja, distribui CDs, conversa e conta as peripécias da vida dupla.

Natural de Fontoura Xavier, no Noroeste do Estado, Zé sempre teve o sonho de cantar. Porém, pela falta de grana, só conseguiu comprar o primeiro violão na adolescência. E, aos 22 anos, começou a trabalhar com transporte:

- Está no sangue, boa parte da família trabalha com isso.

Mas o sonho de ser músico inquietava o motorista. Há um ano e meio, formou a primeira dupla. Não deu certo. Então, encontrou o parceiro Ricardo.

- Na sexta e no sábado, tocamos direto. Sábado passado, o Caldeirão da Segredus (casa de bailes na Zona Norte da Capital) estava lotado. Os colegas e passageiros vão, e vários comentam que gostam - comemora Zé Heraldo.

● Composições nascem ao volante, durante o trajeto

O apoio da mulher, Karen, e dos dois filhos é fundamental para aguentar o tranco: como trabalha seis dias no ônibus e faz shows no fim de semana, Zé Heraldo é obrigado a abrir mão do sono e do convívio familiar:

- Eles entendem. Depois do show de sexta, eu chego em casa na manhã de sábado. Quando acontece de pegar mais cedo o ônibus, durmo menos!

As horas ao volante servem como inspiração. Numa das viagens de quarta-feira passada, por exemplo, ele fez uma composição.

- Estávamos precisando de uma música agitada, para dançar. Então, na volta do Centro, vim bolando, e está pronta. Chama-se As Mina Nem Aí. Conta a história de um cara que
chega no baile, quer aparecer para as mulheres, mas sai de mão abanando. E olha que isso acontece! - conta, aos risos.

Sempre alerta!

O parceiro de Zé Heraldo é um mestre das tesouras quando não está no palco, tocando as modas de viola de que tanto gosta. Ricardo Silveira Lima, 37 anos, abriu um pequeno salão de beleza na própria casa, na Vila Nazareth, na Zona Norte.

Antes, dividia-se entre os shows e o emprego como locutor de rua na Avenida Assis Brasil:

- Eu cantava enquanto falava as ofertas, chamava a atenção do povo, e acabou sendo um diferencial.

Porém, a vida levou-o para o mundo das tesouras. 

- É uma baita profissão, estou fazendo curso - revela.

Por enquanto, ele corta somente cabelos masculinos, por R$ 7. Mas almeja entrar no mundo dos cortes femininos e das escovas progressivas, mais rentáveis. É no fim de semana, quando a dupla faz show, que há mais movimento:

- Atendo uns dez clientes no sábado. Como a festa é sexta, chego quase virado. Durmo umas três horas no sábado de manhã. Mas estou bem alerta!

Entre o pagode e a cachorrada

Há seis meses trabalhando na veterinária Crie Bem, na Zona Leste da Capital, Anderson Fernandez, 24 anos, divide-se entre as suas maiores paixões: os animais e a
música. Percussionista do grupo de pagode Doce Loukkura, do Bairro Glória, Anderson passa os dias entre cães e gatos na veterinária, de segunda a sábado, das 8h às 18h.

● Amor pelos bichos e sonho de abrir uma veterinária

Em meio a isso, ele tem os ensaios do grupo, geralmente às terças, quartas e sextas, e os shows no fim de semana.

- É puxado, mas acostuma - explica o pagodeiro.

A paixão pelos animais - ele tem três cães em casa - levou-o para a veterinária, onde
passa o dia cuidando da comida e da limpeza dos hóspedes. Mesmo que alimente o projeto de viver somente da música, ela não disfarça o carinho pelos bichos que estão ali.

- Gosto de trabalhar com animais, eles são divertidos - explica Anderson para, em seguida, comentar o que pretende fazer quando ficar famoso:

- Quero ter uma clínica veterinária, para ajudar os cães e gatos o máximo que puder.


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