Retratos da Fama
Gloria Pires completa 50 anos e relembra momentos marcantes
Veja os grandes momentos da sua trajetória e leia uma entrevista com a atriz
Nesta sexta-feira, uma das mais celebradas atrizes do Brasil completou 50 anos. A carioca Gloria Pires, que atualmente pode ser vista no cinema no belo filme Flores Raras, apareceu pela primeira vez na telinha com apenas cinco anos, na abertura da novela A Pequena Órfã (1968). De lá para cá, brilhou em algumas das mais importantes produções nacionais, com papéis que entraram para a história.
Diário Gaúcho - Você é muito cativante e querida no meio artístico. Tem consciência disso?
Gloria Pires - Eu tenho muito prazer em fazer o que eu faço e estar com as pessoas com quem estou. Sempre comparo as coisas a um jogo, porque você precisa do outro. A vida é isso e tenho prazer nessa troca. Quando eu venho trabalhar, venho feliz. Gosto de chegar ao estúdio e encontrar as pessoas de todos os dias ou os amigos que não vejo há um tempão. Então, acho que isso rola naturalmente, o que me deixa feliz.
Diário - Como lida com o status de diva?
Gloria - Acho isso uma grande brincadeira. Porque uma coisa que eu não sou é diva... Zero. Estou mais para funcionária do mês (risos). Mas entendo que as pessoas tenham essa relação comigo, por eu ter começado bem novinha. Até hoje, tem gente que diz que me acompanha desde a Fatinha de Selva de Pedra (1972). É muito bacana. Eu sou muito grata ao carinho das pessoas.
Diário - Você viveu em Paris com a família de 2007 a 2011. Sentiu-se reabastecida ao voltar?
Gloria - Foi muito importante essa experiência de viver num lugar onde ninguém sabia quem eu era. Então, eu tinha uma liberdade. Acho que isso me enriqueceu como pessoa. Porque você, desde criança, estar habituada às pessoas saberem quem você é o que faz tira muito a sua liberdade. Foi bacana ter ido morar lá, ter feito coisas sem me sentir observada.
Diário - Chegou a pensar em parar de trabalhar e viver só para a família?
Gloria - Em alguns momentos, pensei, sim. Mas o dia a dia me mostrava que isso seria impossível. Não dá para você descartar uma parte sua. É o seu trabalho, está dentro de você.
Diário - Você coleciona vários sucessos, mas Desejos de Mulher (1999) e Suave Veneno (2002) não saíram do jeito como gostaria...
Gloria - Foram duas novelas complicadas. Um desencontro total. Mas, hoje, vejo como esses momentos precisam acontecer. Quando eu me lembro dessas novelas, só penso nisso: falta total de comunicação. Não me sentia alinhada com os trabalhos, e eles não me davam retorno.
Diário - Você chegou a pedir para sair dessas novelas?
Gloria - Eu não peço para sair, porque acho um desrespeito enorme. Sei lá, você entrou no jogo, treinou, faz parte de uma equipe. Aí, o jogo está dando errado, e você pede pra sair? Não é a minha cara.
Diário - Como analisa os seus 50 anos?
Gloria - Olha, parafraseando a nossa saudosa Mara Manzan (falecida em 2009), "cada mergulho é um flash!". Acho que isso resume bem esses 50 anos. Porque tem sido muito mais feliz do que tudo que eu imaginei, até nos meus melhores sonhos. Claro que todo mundo tem problema, medo, insegurança, mas eu não posso reclamar de nada.... Eu nunca vejo a minha vida pessoal ou a minha carreira como um jogo ganho. Quero tudo que puder ter de oportunidades, de novas possibilidades. Estou sempre pronta. Pronta para o desafio. Pronta pra ir lá e ver no que vai dar.
Estreia bem guriazinha
Se a primeira vez a gente nunca esquece, Gloria tem motivos de sobra para lembrar das suas estreias. Precoce, aos oito anos, a filha do ator Antonio Carlos e da produtora Elza - ambos já falecidos - debutou nas novelas em Selva de Pedra (1972), como a espevitada Fatinha - quatro anos antes, havia aparecido na abertura de A Pequena Órfã. Com Dancin' Days (1978), descobriu o que era fazer sucesso, na pele de Marisa, mas entrou para o time das protagonistas ao dar vida à doce Zuca, de Cabocla (1979). Foi na novela que ela conheceu Fábio Jr., seu primeiro marido e pai da sua filha Cleo, 30 anos.
Na luta por Ana
Gloria precisou barganhar para viver a inesquecível Ana Terra, na minissérie O Tempo e o Vento (1985).
- Estava em Partido Alto (1984), insatisfeita com o papel. Fui ao Daniel (Filho, diretor), ele intermediou e tudo se ajeitou. Pela primeira vez, corri atrás de uma personagem - lembra Gloria.
Na versão para a telona, que chega aos cinemas no mês que vem, sua filha Cleo revive a personagem!
Nem tão má assim
Mais de 20 anos depois de Maria de Fátima, o autor Gilberto Braga deu à atriz a Norma, de Insensato Coração (2011), que prometia exorcizar a antiga vilã. Mas as nuances da personagem que queria se vingar de Leo (Gabriel Braga Nunes) colocaram a atriz num patamar diferente:
- Essa expectativa deixou Norma em desvantagem. Não acho que ela seja uma vilã como Maria de Fátima. O que ela fez? Pensou em matar o marido (vivido por Tarcísio Meira), mas se arrependeu. Norma era uma mulher enganada, tinha de achar uma forma de seguir adiante.
Talento em dose dupla
O poder de Gloria de mudar impressiona a cada trabalho. Ela troca de pele como ninguém. A prova maior disso foram as gêmeas Ruth e Raquel, de Mulheres de Areia (1993). Na novela, o esforço da atriz não se resumiu a dar vida a duas personagens. Em determinado momento da trama, Gloria conseguiu a proeza de ser quatro: a mocinha, a vilã, a mocinha fingindo ser a vilã e a vilã fingindo ser a mocinha!
Aquele foi um período pesado na vida da atriz, a ponto de ela querer dar um tempo nas novelas.
- Eu precisava parar. Estava com um bebê (Antonia, hoje com 21 anos)! Gravava no Rio e em Tarituba (Litoral do Rio). Foi muito puxado. Minha mãe morreu no meio da novela. Uma série de coisas provocou um desgaste enorme, além do trabalho em si. Então, era necessário dar um tempo - diz ela, que, depois das gêmeas, tirou férias da tevê por um ano.
No cinema
No longa Flores Raras, Gloria interpreta Lota de Macedo Soares, que tem uma história de amor com Elizabeth Bishop (Miranda Otto). Gloria dá show na interpretação e no inglês, língua na qual o filme é narrado.
O diretor Bruno Barreto declarou, recentemente, que vai batalhar pela indicação das duas artistas ao Oscar de melhor atriz.
Vilã marcante veio cedo
Pensar em Gloria é lembrar das vilãs que ela construiu. A primeira delas - e a mais famosa - veio cedo, aos 25 anos. A ambiciosa Maria de Fátima, de Vale Tudo (1988), que, entre outras malvadezas, dá o golpe do baú em Afonso (Cássio Gabus Mendes), é uma das personagens mais emblemáticas da tevê.
- Ela foi um divisor de águas. Houve a junção do prazer em trabalhar e uma excelente repercussão. Isso é raro - afirma Gloria.
Parceria que deu certo
O encontro de Gloria com outro nome consagrado das novelas, Tony Ramos, aconteceu graças a Silvio de Abreu. Ele escreveu a Júlia de Belíssima (2005) para a atriz, com a intenção de vê-la ao lado do grego Nikos, vivido por Tony.
- A melhor versão de Glorinha é que ela se impõe com talento e dedicação e nunca acredita no aplauso fácil. Não ostenta. É uma atriz popular e se orgulha disso - descreve Tony.
A dobradinha repetiu-se nos filmes Se Eu Fosse Você 1 (2006) e 2 (2009) e nas novelas Paraíso Tropical (2007) e Guerra Dos Sexos (2012).
Família linda
Gloria costuma revelar, em entrevistas, que sempre quis ter quatro filhos. E atingiu a sua meta, constituindo uma linda família. A primeira filha, a atriz Cleo Pires, nasceu da união com Fábio Jr.
Com o músico Orlando Morais, com quem ela está casada há 25 anos, teve a também atriz Antonia Morais, Ana, 13 anos, e Bento, oito anos. Uma prole digna do mais belo porta-retratos!