Sotaque daqui
Nova geração gaúcha colhe os frutos na telinha
Retratos da Fama conversou com seis atores que estão brilhando na tevê para contar de onde vieram
Quem não perde uma novela certamente já reparou: das 18h às 23h, não tem pra ninguém! Uma nova safra de atores gaúchos invadiu a telinha e está fazendo bonito com a oportunidade de mostrar seu talento. De Flor do Caribe a Saramandaia, novos rostos gaúchos marcam presença em todas as faixas de horário. Uns fazem sua estreia em novelas, como os porto-alegrenses José Henrique Ligabue e Thalles Cabral, outros, que já vinham de pequenas participações, ganham seu primeiro papel de destaque, como Thiago Amaral, também da Capital.
E a invasão da gauchada já foi percebida no Projac, os estúdios da Globo no Rio.
- Camareiras, figurinistas, câmeras... Eles perguntam: "de onde você é?". Quando respondo que sou gaúcho, já caem na risada e brincam: "esses gaúchos estão por todos os lados!" - diverte-se Thalles, o Jonathan de Amor à Vida.
Retratos da Fama conversou com seis atores que estão brilhando na tevê para contar de onde vieram, como chegaram aonde estão hoje, suas histórias de batalha e suas raízes com o Rio Grande.
Loteria da vida
Ele só tem 19 aninhos e já estreia na televisão em horário nobre, no núcleo principal de Amor à Vida. Na pele de Jonathan, o filho rejeitado de Félix (Mateus Solano), Thalles Cabral chama a atenção, contracenando com feras como Antonio Fagundes, Mateus
Solano e Susana Vieira.
- Eu brinco que ganhei na loteria (risos)! A minha primeira cena já tinha uma carga dramática muito forte. O Félix destruía o meu skate. E o Mateus conversou bastante comigo antes, me deixou muito tranquilo - lembra o guri.
Nascido na Capital, Thalles foi para Curitiba ainda criança, mas afirma que o período em que viveu em Porto Alegre foi fundamental para começar a construir suas escolhas.
- Meus pais me levavam ao teatro desde pequeno. Lembro de assistir a musicais no
gelo, no Gigantinho, e morrer de vontade de participar - diz ele.
● Base feita ao longo de anos
Aos sete aninhos, o ator pediu para a mãe matriculá-lo no teatro. Sua primeira peça profissional entrou em cartaz em 2005 e, de lá pra cá, foram mais de 20 espetáculos.
Em 2009, por causa do trabalho do pai, Thalles se mudou para São Paulo com a família, onde eles moram atualmente. Entrou para a Escola de atores Wolf Maya, na qual surgiu o convite para o teste da novela.
Na ponte aérea
Morador do Bairro Bom Fim, na Capital, Pedro Tergolina divide-se entre Porto Alegre, onde mora a família, e o Rio, onde tem passado cada vez mais tempo, construindo uma carreira de sucesso na TV Globo. O ator de 21 anos saiu recentemente de Malhação, em que interpretava o deficiente visual Filipe - sua primeira grande oportunidade na
tevê -, direto para Saramandaia, para dar vida a Tiago Villar, neto de ninguém menos do que o personagem de Tarcísio Meira e filho de Vitória (Lilia Cabral).
● Entre uma novela e outra, um curso novo
Tudo começou aos seis anos de idade, fazendo fotos e comerciais. O destaque veio em filmes da série Histórias Curtas, da RBS TV.
- Fui convidado para protagonizar o longametragem Antes Que o Mundo Acabe, a Globo
teve acesso ao filme e acabou me chamando para fazer uma avaliação para a Oficina de Atores. Eles gostaram e logo fiz teste para Malhação - lembra o guri, que não deixa de se aperfeiçoar.
Entre Malhação e Saramandaia, ele voltou a Porto Alegre e fez um curso em que aprendeu, inclusive, a operar câmera. Por aqui, a Redenção é a segunda casa.
Foco e determinação
Ele cresceu nas ruas do Bairro Vila Ipiranga, na Zona Norte de Porto Alegre, e, desde muito cedo, ser ator não era um plano, era uma certeza. Hoje, Thiago Amaral prova que sabia o que queria, como o Caio, de Sangue Bom.
Com 29 anos, há seis, ele trocou o Rio Grande do Sul, onde fazia campanhas publicitárias, teatro amador e faculdade de Artes Cênicas na Ufrgs, pelo Rio de Janeiro, onde entrou na Oficina de Atores da Globo.
- Foi aí no Sul que comecei a buscar contatos que pudessem viabilizar a minha vinda pra cá. Fiz uma semana de testes e sabia que ia passar. Fiquei um ano e meio entre participações. Teve Ciranda de Pedra (2008), A Favorita (2008) e Toma Lá, Dá Cá -
enumera.
Em Lado a Lado (2012), a participação deu lugar a um papel maior, como o Gustavo, mas Caio é o seu maior destaque, já que o personagem se envolveu com Giane (Isabelle Drummond). A família torce por ele daqui, entre Porto Alegre e São Leopoldo:
- Tenho muitas lembranças ótimas do Gasômetro, da Redenção, dos churrascos...
Estreia com o pé direito
Quem também faz a sua estreia na tevê cheio de moral é José Henrique Ligabue, que, aos 30 anos, viu o seu personagem, Lino, crescer a passos largos ao longo de Flor do Caribe. Natural de Porto Alegre, sua carreira tem apenas cinco anos porque, até então, ele trabalhava com o pai, José, na empresa de lentes de contato da família.
Mas Ligabue sentia que faltava algo e, um dia, passando em frente a uma escola de teatro, na Capital, pensou: "por que não?". Entrou na mesma hora e matriculou-se no
curso que despertaria nele uma paixão arrebatadora:
- Fiquei fascinado! Entrei para o grupo de teatro de rua Bloco da Laje, do qual faço parte até hoje. Sempre que vou a Porto Alegre, participo das encenações do grupo. Também fiz trabalhos na RBS TV, como a série Gre-Nal É Gre-Nal, até que decidi mudar para São Paulo.
● Retornou ao Rio Grande para, logo, estourar de vez
Mas a experiência na capital paulista não durou mais do que três meses até pintar a oportunidade de ir para o Rio de Janeiro. Já na Cidade Maravilhosa, o Sul chamou-o de volta: o diretor Jayme Monjardim - o mesmo de Flor do Caribe - o queria no filme O Tempo e o Vento.
- Já durante o filme, Jayme me disse que me chamaria para a próxima novela dele e fez o convite para eu interpretar o Lino - conta.
Em Porto Alegre, ficaram, além do pai, a mãe, Sônia Maria, e os irmãos, Luigi e Emanuele, de quem Ligabue vem matar a saudade.
- A minha mãe faz a maior propaganda minha para as vizinhas e amigas - diverte-se o novo global.
Acaso que deu certo
A passagem do médico Vanderlei por Amor à Vida foi breve, mas arrancou gargalhadas.
Uma quase vítima dos golpes de Valdirene (Tatá Werneck), o doutor protagonizou barracos com a periguete.
- Eu fui no vácuo do sucesso que a Tatá está fazendo, fluiu muito! - conta Marcelo Argenta.
Natural de Passo Fundo, onde moram os irmãos, Rogério e Luciana, e os pais, Adão
e Alda, ele nunca tinha pensando em ser ator.
- Eu fazia faculdade de Ciências da Computação. Participei de um curso de teatro da escola, e, quase um ano depois, fui com uma excursão para o Rio conhecer a Globo. Pedi demissão, larguei a faculdade e me matriculei num curso de teatro no Rio. Estou aqui há dez anos - diz Marcelo, 32.
A primeira participação em tramas veio em Da Cor do Pecado (2004), e Malhação e Cheias de Charme (2012) abriram as portas. A internet é a sua aliada para matar a
saudade da família:
- Mas, se tem uma coisa de que eu não sinto falta, é o frio (risos)!
Recompensado
Nasceu em Erechim, no Norte do Estado, o intérprete do boliviano Valentin, de Amor à
Vida. Filho de Neri e de Leonora Schmidt, Marcelo Schmidt, 31 anos, vive há oito em
São Paulo, enquanto os pais e irmãos moram no Mato Grosso.
- Estava morando com os meus pais no Mato Grosso quando abandonei a faculdade
de Administração e Comércio Exterior, o trabalho, a namorada, tudo, e fui para Porto
Alegre fazer curso de cinema e teatro - conta o ator, por telefone, da capital paulista.
● A escolha pela profissão tem que ser mais forte do que as dificuldades
A carreira começou com trabalhos publicitários, no teatro e no cinema, até surgir a chance de entrar em Amor à Vida.
- Você recebe muito não e se frustra. Mas é uma vocação, não dá para desistir - avalia.
Do Rio Grande do Sul, Marcelo guarda lembranças de um tempo precioso:
- Eu adorava caminhar no Gasômetro, ir ao lindo Theatro São Pedro. Morava ao lado
da Casa de Cultura Mario Quintana e vivia lá!