Do asfalto pro chão batido
Famosos encaram a rotina do Acampamento Farroupilha
Gaúchos urbanos, eles encaram pela primeira vez a lida campeira
É setembro, e o Rio Grande está em festa! No mês mais emblemático dos gaúchos, o Estado vive sob a fumaça dos galpões, sob o cheiro incomparável do churrasco, veste-se a caráter e diverte-se ao som da música nativista. O endereço de muitos passa a ser o Acampamento Farroupilha, no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, onde cultivam os hábitos da vida campeira. Mas nem todo gaúcho, apesar da paixão e do orgulho declarados pela sua terra, está familiarizado com este universo. Alguns sequer pisaram no Harmonia, mesmo vivendo há anos em Porto Alegre. São os gaúchos urbanos, que vivem sobre o asfalto, e cuja rotina passa bem longe do chão batido do Acampamento. Para representar esta parcela da gauchada, propomos a quatro famosos que levam uma vida bem urbana o desafio de mergulhar no universo tradicionalista por um dia e encarar uma atividade da lida campeira.
Veja como eles se saíram e divirta-se com as imagens e com os bastidores da produção no vídeo:
NA MONTARIA: "AI, MEU DEUS!"
Embora já tenha frequentado o Acampamento inúmeras vezes por conta das reportagens para a RBS TV, Regina Lima, repórter especial do Jornal do Almoço e apresentadora da Rádio Cidade (92.1 FM), confessa que a sua relação com os hábitos gauchescos não vai além do bom chimarrão, que se orgulha de preparar. Urbana até o último fio de cabelo, ela admite que nunca teve contato com a lida campeira, mas aceitou o desafio de encarar uma das atividades mais tradicionais do gaúcho: encilhar e montar um cavalo!
Sem medo, fica mais fácil
Com o intermédio de Gustavo Bierhals, presidente da Ordem dos Cavaleiros do Rio Grande, que ensinou a Regina cada etapa da preparação da montaria, ela conheceu Picaço, um cavalo lindo que, apesar de dócil, botou medo na repórter.
- Ele é muito grande e se mexe o tempo todo! Ai, meu Deus! Acho que vou ficar só com a parte de encilhar. Nem pensar que vou conseguir subir nele! - diz Regina, com um sorriso temeroso.
Com o passar do tempo, no entanto, a jornalista foi perdendo o medo, encantando-se com a atividade e com o animal. Além de encilhar, penteou a crina de Picaço e ensaiou a montaria, com o pezinho no estribo e tudo! Mas...
- Nunca pensei que, para montar um animal lindo como esse, precisasse de tanta coisa: sela, estribo, arreio e tudo mais. São muitos aparatos, mas fica lindo! Agora, subir nele... não, não, não... Vou continuar aqui em terra firme! - diverte-se.
- Qualquer pessoa pode encilhar e montar um cavalo. O importante é conhecer bem o animal, e que o cavalo seja dócil, acostumado com gente. O primeiro passo é a aproximação, perder o medo. Aí, o resto é tranquilo. A Regina se saiu muito bem. Mais uma horinha aqui e aposto que ela criaria coragem para montar (risos)!
Gustavo Bierhals
FEITOOOO! NÃO FOGE DA PELEIA!
Paulo Brito é um exemplo de que sempre dá para sair da zona de conforto. Natural de Santa Cruz, desde que veio para Porto Alegre, há 25 anos, passou a frequentar o Acampamento Farroupilha.
Há três anos, montou o seu próprio piquete. Música gaúcha, lenha, galpão e um bom costelão são, segundo ele, as suas paixões. Por isso, quando recebeu o convite para participar desta reportagem, foi com uma sonora gargalhada que respondeu...
- Ligaram para a pessoa errada! Sou muito envolvido com o mundo tradicionalista! - contou, orgulhoso.
Mas sempre tem algo novo para se aprender
Foi então que propusemos que o narrador e apresentador da RBS TV e da Rádio Cidade (92.1 FM) se superasse em algo desafiador, até para o mais campeiro dos nossos entrevistados: tosquiar - ou esquilar - uma ovelha!
- Realmente, é uma coisa que nunca pensei em fazer - admite Brito, que ouve as instruções de Claudio Machado, tosqueador do piquete Rodrigo Cambará, antes de botar a mão na massa - ou melhor, na lã!
Vestido a caráter e com uma tesoura, Brito leva medo no início, mas não foge da peleia e começa a tirar a lã:
- A minha preocupação é não machucar a ovelha. Um movimento errado, e posso cortar a pele do bichinho. Isso me deixa meio nervoso! O mais difícil é perto da cabeça, mas acho que peguei o jeito!
- Ele ficou nervoso no começo, mas é uma preocupação natural. O que dá segurança é a prática. Apesar de ser fácil, não é uma coisa para quem não está acostumado a fazer sozinho. É importante ter um profissional para orientar. Mas ficou benfeito!
Claudio Machado
TÁ NO FOGO, VIVENTE!
O palco e as câmeras, ele tira de letra, mas, na hora de pisar no chão batido do Parque Harmonia, o ator Zé Victor Castiel revela: está entrando em campo desconhecido. Esta é a primeira vez que ele visita o Acampamento e com uma missão que traz no detalhe a sua peculiaridade: preparar um carreteiro, mas de charque!
- Gosto muito de cozinhar, mas o carreteiro que estou acostumado a fazer é com sobras de churrasco. O charque exige técnica, tem que aprender a dessalgar, e isso eu nunca fiz - comenta Zé.
Com os ensinamentos do patrão do Piquete 38 da Polícia Federal, Nicomédis Gonzales, o ator aprendeu o passo a passo para cortar e para dessalgar a carne típica, além da receita do tradicional carreteiro campeiro.
- Não adianta ficar fazendo muita firula, tchê!
- A simplicidade é o segredo: só charque, cebola e alho, mais nada! E cozinhar em um fogão à lenha é insuperável, num ambiente sensacional como esse, então, é uma experiência maravilhosa! - comemorou Zé.
Entre uma mexida e outra na panela de ferro, o ator deu uma espairecida fora do galpão para pegar um ar e amenizar o calor.
- É uma receita extramamente simples e fácil de executar. Qualquer pessoa faz em casa. Com poucos ingredientes, você faz uma refeição completa. Este ficou muito bom! O Zé Victor está de parabéns!
Nicomédis Gonzales
A MÃE É TRI PRENDADA!
Grávida de seis meses da sua primeira filha, Olívia, a cantora Vanessa, da dupla com o marido, Claus, liberou o seu instinto materno e as suas habilidades artesanais! Pisando pela primeira vez no Parque Harmonia, a cantora encarou um desafio feminino e delicado, bem como o momento que vive atualmente: confeccionar um vestido de prenda.
- Levo jeito! Em casa, eu que costuro tudo. Fiz aula de práticas domésticas na escola e sou bem paciente. Amei a ideia de aprender a costurar um vestido, porque, quando era criança, vivia de prenda por causa do colégio - conta a simpática mamãe.
Sob a supervisão da patroa do 35 CTG, Márcia Cristina Borges da Silva, e da costureira do piquete, Maria Regina de Moura, Vanessa era só empolgação a cada etapa concluída entre alfinetes, tecidos, moldes, tesouras e botões.
Satisfação e modelito para a pitoquinha
- Que lindo! Consegui fazer uma sainha, do tamanho da Olívia, já vai nascer uma prendinha! E amei conhecer esse lugar. É incrível! Quero voltar à noite, que deve ser lindo, com todos esses piquetes, com tanta animação e com o trabalho incrível que eles realizam aqui - comemora a linda.
- Ela tem muita paciência e carinho pelo que está fazendo. Isto basta para que qualquer coisa seja benfeita. O resultado ficou ótimo!
Maria Regina
>>> Confira a receita do carreteiro do Zé Victor Castiel:
CARRETEIRO DE CHARQUE
Ingredientes
- 1 caneca de arroz
- 400g de charque
- 1 cebola
- 3 dentes de alho
- 1 colher de banha
- salsinha e cebolinha a gosto
Modo de preparo:
- Para dessalgar o charque: Coloque a carne em uma panela com água para ferver. Quando levantar fervura, jogue uma colher de sal grosso. Aguarde cerca de cinco minutos e retire a água.
- Corte a carne em cubos pequenos e reserve.
- Coloque a cebola e o alho picados em uma panela com a banha para refogar. Jogue a carne na panela e deixe refogando por cinco minutos.
- Acrescente o arroz, deixe fritar rapidamente, e coloque a água quente.
- Deixe, em média, 20 minutos e vá cuidando o ponto do arroz. Desligue o fogo e coloque os temperinhos.
* Medidas para uma porção que serve duas pessoas.