Bola murcha
A 100 dias da Copa na Capital: os exemplos da Porto Alegre que se arrasta
As obras são de mobilidade, mas o ritmo é lento faltando pouco tempo para o começo do evento
Faltando cem dias para França e Honduras pisarem no gramado do Beira-Rio, no primeiro jogo da Copa em Porto Alegre, a cidade vive dois climas diferentes. Se fossem as seleções que estarão no Mundial, poderíamos dividir entre uma que é favorita e outra que chega apenas para cumprir tabela.
A que disputaria o título é a Capital que se mexe. São pessoas que se movimentam atrás de trabalho temporário ou buscam alguma forma de aumentar o orçamento familiar. Parecem até aquele camisa 10 inteligente, que prevê a jogada antes do adversário, e já estão de olho nas cerca de 12 mil vagas de trabalho que devem ser geradas no Estado, segundo um estudo da Fundação de Economia e Estatística.
No outro lado, a Capital que não anda. Ou seja, o time responsável pelas obras da Copa chegaria desacreditado, desentrosado e, sendo bem otimista, em cima da hora. As obras são de mobilidade, mas o ritmo é lento.
Os zagueiros estão lá pilotando, quebrando e cimentando, mas a falta de atacantes velozes nas áreas administrativa e fiananceira compromete o desempenho de toda a equipe. Na reta final, com treinamento em três turnos - se houver necessidade -, a burocraria, o planejamento ruim e a falta de dinheiro serão finalmente superados.
Gol nos acréscimos
A pavimentação do entorno do Beira-Rio, que esteve ameaçada de não sair, foi decidida aos 47 minutos do segundo tempo. Fechada há duas semanas, a negociação que acertou o repasse R$ 7 milhões do governo federal para obra foi festejada como a conquista de um campeonato.
A primeira licitação só teve uma empresa interessada. O novo edital será publicado nos próximos dias e a previsão é de que a pavimentação estará pronta até o final de maio. Embora perceba as melhorias, a caixa da lancheria Mek Áurio, Ivanice Caliari Gomes, 41 aos, tem outra preocupação:
- Não sei se vamos abrir durante a Copa.
Segunda divisão
Na maior e mais complexa obra de mobilidade, a única duplicação - além de um pequeno trecho - é a da frustração de moradores, que ainda não tiveram a situação resolvida. Das 1.525 famílias que vivem no traçado das avenidas Tronco e Cruzeiro do Sul, somente 600 já saíram ou sabem para onde vão.
Muitos não conseguem comprar um novo imóvel com os R$ 52.320 do bônus-moradia. Outros se queixam que trocarão casas de dois pisos por apartamentos pequenos. No coração da Vila Tronco, o clima é de time rebaixado à segunda divisão.
A dona de casa Geni da Silva Gonçalves, 60 anos, e o comerciante Manoel Fritz da Silva, 50 anos, reclamam da lentidão.
- Primeiro, eles deveriam ter feito as casas para depois tirarem as pessoas daqui - criticou Geni.
Todos no ataque
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É possível que o empreiteiro Paulo Rodrigues, 44 anos, nunca tenha perdido uma partida de futebol com os amigos por WO (quando um time ganha em função da ausência de outro). A obra do corredor de ônibus BRT da Padre Cacique, que esteve ameaçada de não sair, e depois se arrastou como aqueles jogadores que trotam em campo, encorpou e nas últimas semanas ganhou novo ritmo.
Com a pista pronta, Paulo e equipe estão construindo as paradas e colocando o meio fio que separa a rua da plataforma de embarque e do canteiro.
- Estamos na fase de acabamento, pois a pavimentação dos corredores já está pronta - comentou o empreiteiro.
Até a bola rolar
O jogo dos operários da obra do Viaduto Pinheiro Borda já está na prorrogação. A empresa responsável têm 90 dias para concluir a obra. Portanto, até o final de maio - se não chover - a elevada deverá estar pronta.
Topógrafo residente em Gravataí, Cléber Mendes, 30 anos, explica que, por enquanto, não há necessidade de turno extra:
- São lajes pré-moldadas fabricadas aqui mesmo. Com a estrutura pronta, é só encaixar.
Cartola garante evento
O secretário municipal de Gestão, Urbano Schmitt, afirmou que as obras no entorno do Beira-Rio estarão prontas até o final de maio. Segundo ele, a pavimentação do lado externo do estádio, que ainda não começou, será resolvida nos próximos dias.
Em relação à Vila Tronco, Urbano revelou que a Caixa Econômica Federal está analisando os documentos da empresa escolhida para construir as unidades habitacionais. Ou seja, nenhum tijolo foi assentado.