Copa do Mundo 2014
Diário Gaúcho escala a Seleção do Povo com cara de Brasil
O time do DG tem 11 jogadores e o técnico homônimos ao time titular de Felipão

Dizem que quando uma seleção entra em campo, carrega um país. Pois o Diário Gaúcho foi às ruas procurar anônimos que fazem o nosso país andar. Encontramos um Julio Cesar, assim mesmo, sem os acentos, como o nosso goleiro titular, que arriscou-se de luvar no futebol. Mas ficou pelo caminho e hoje se realiza ao ver o sorriso dos clientes para os quais entrega os galões de água mineral.
Também descobrimos um Hulk da vida real que merecia, só para ele, uma taça da Copa do Mundo. Foi vice-campeão brasileiro e sétimo em Mundial de halterofilismo, mas tem rotina de maratonista. Nos fins de semana, pinta-se de verde e faz chamariz para loja de shopping de Novo Hamburgo. Quando tira a tinta do corpo, cuida dos dois filhos e faz bicos de garçom. Se nossos ídolos tiverem essa raça, meio caminho até o Hexa estará cumprido. E o que dizer do nosso Neymar? Passa o dia em carrões importados de luxo. De todas as marcas. Manobra um, salta, estaciona outro e assim ganha a vida, cuidado de carrões de bacana.
Julio Cesar
Lugar do Julio Cesar é no... gol. Isso mesmo. É assim também com o empresário Julio Cesar Alves de Deus, 36 anos, do Bairro Glória, embora hoje esteja afastado do futebol. Mas já honrou o nome do goleiro do Brasil e fez teste no Grêmio para a posição.
Passou no primeiro, mas reprovou no segundo. Seguiu vestindo a 1 com os amigos. No dia a dia, porém, defende tal e qual faz o goleiro de Felipão. Enquanto o da Seleção desdobra-se para fechar todos os cantos da goleira, Julio Cesar, este de Porto Alegre, tem a missão diária de não deixar nenhum cliente esperando. A entrega de galões de 20 litros de água nos bairros Centro e Cidade Baixa precisa ser tão eficiente e no tempo certo quanto as atuações do goleirão.
Daniel Alves
Daniel Alves. Lateral. Poderia ser o jogador do gigante Barcelona. Não é. Daniel de Quadros Alves Batista, 64 anos, tem nome de boleiro. E um pouco de futebol também. Viu-se obrigado a largar o gramado depois de saltar do ônibus e machucar o joelho esquerdo, há menos de um ano. Mas o morador de Gravataí iguala-se ao Dani Alves famoso na raça. Foi preciso determinação para encarar as estradas sucateadas no Brasil afora.
O lateral-direito tem como uma de suas funções cruzar a bola na área, e o motorista precisava da mesma maestria. Mas no volante. Era preciso cruzar o país e voltar para casa em segurança. O gaúcho Daniel Alves foi gigante, talvez do tamanho da importância do camisa 2 para o Brasil. Aposentou-se do seu caminhão para dar lugar aos mais novos. Caminho que, daqui uns anos, o boleiro também deve seguir.
Thiago Silva
Thiago Silva queria ser jogador. Um conseguiu e chegou como zagueiro na Seleção Brasileira. Outro, porém, precisou rumar para área de Psicologia.
- Ao contrário do meu homônimo, eu não consegui - revela o gaúcho de Porto Alegre, de 20 anos, que bate uma bolinha como meia.
Mas se dentro de campo não conseguiu ir adiante, o estudante tratou de achar uma outra área. Não tão diferente. Thiago faz estágio no Inter. E leva na boa ter um famoso com o seu nome e sobrenome.
- Já liguei para marcar um futebol e me identifiquei dando a minha identificação que sempre uso. E me perguntaram: "Thiago Silva do PSG?" - lembra o futuro psicólogo.
David Luiz
David Luiz da Silva Pereira, 17 anos, tem nos cachinhos que sobraram do último corte, há cerca de um mês, a maior semelhança com o zagueiro da Seleção Brasileira. Seu nome foi escolhido aos 46 minutos do segundo tempo. Seria David William. Mas a mãe, Cristiane da Silva Pereira, 34 anos, decidiu homenagear o tio Luiz, já que seria o primeiro sobrinho.
No futebol, o morador do Partenon não se arrisca. Já na festa da boleirada, sempre regada de muito funk e pagode, ele entende melhor. David Luiz também é conhecido na região em que mora como MC Piazinho. Compõe e canta os dois ritmos. Assemelha-se ao David Luiz, o já famoso, nas famosas selfies das redes sociais.
Então, Seleção, se precisar de alguém para reger o Hexa, aqui em Porto Alegre há um outro David Luiz, este um pouco mais tímido e cheio de vontade de alcançar a fama do seu xará.
Marcelo
Marcelo Nunes, 43 anos, nem de longe parece o lateral-esquerdo Marcelo, da Seleção do Felipão. Seja de aparência ou em características. O famoso é festeiro. O anônimo, tranquilo. Mas é dentro de casa que a semelhança aparece. Ambos são pais de meninos apaixonados por futebol. O Marcelo jogador levou Enzo, seis anos, para o gramado do Estádio da Luz, em Lisboa, para comemorar o 10º título do Real Madri na Liga dos Campeões. Oliver, este com sete anos e filho do comerciante de Porto Alegre, nutre o sonho de ser jogador de futebol.
Luiz Gustavo
Ao se ver de calção, camiseta, meião, da Seleção Brasileira, e chuteiras, Luiz Gustavo Oliveira Jacque, 55 anos, sentenciou:
- É perigo eu roubar o lugar do volante, hein? - brincou o segurança do Tribunal Regional do Trabalho.
Há 35 anos na profissão, ele precisa fazer o mesmo estilo de Luiz Gustavo na Seleção Brasileira. Tem de parecer invisível. Mas extremamente eficiente. Ao contrário de seu homônimo famoso, que costuma ter o semblante mais fechado, não poupa risadas nem bate uma bolinha.
- Sou daqueles que ninguém chamava para ter nos times. Me faltou futebol - conta, às gargalhadas, para depois emendar que crê no Felipão finalista da Copa do Mundo.
O campeão, porém, para o Luiz Gustavo do tribunal, é loteria.
Paulinho
Paulo Ricardo da Silveira Silva, 49 anos, trouxe da família - e dos seus 1,65m - o apelido de Paulinho. Não é volante como o Paulinho, convocado por Luiz Felipe Scolari. Mas coleciona títulos tal e qual o seu homônimo no futebol. Ambos foram campeões brasileiros. O famoso, porém, apenas uma vez com o Corinthians, em 2011. Paulinho, o morador de Porto Alegre, coleciona quatro títulos desses na capoeira. Assim como o jogador, que levou o seu futebol para Londres, no Tottenham, o mestre de capoeira, há 35 anos, leva o seu esporte pelo mundo. Ao todo, 18 países conheceram o gingado típico brasileiro.
O professor já se aventurou no futsal. Mas largou o barulho das quadras e prefere o som do berimbau.
Hulk
Hulk, o atacante da Seleção Brasileira e do Zenit, chama atenção pelo seu porte físico avantajado. Ganhou o apelido também por isso. Seu homônimo, aquele super-herói mesmo, já encarou o futebol como zagueiro e lateral-direito. Mas não tem vida ganha. Além de posar em frente a uma loja no Shopping Platinum, em Novo Hamburgo, nos finais de semana, o Hulk também faz eventos em aniversários e festas.
Quando a tinta têmpera verde não está no seu corpo, Rafael da Silva Aveiro, 35 anos, entra em cena. Morador de Canoas, o fisiculturista profissional cuida dos dois filhos pequenos durante o dia e, à noite, disfarça-se de garçom. Participa ainda de concursos internacionais com o seu corpo - já foi vice-campeão no Brasileiro e sétimo lugar no Mundial. Posições essas que não espera ver o seu xará no Mundial.
- Acho que vai dar Brasil campeão com a ajuda do público - opina.
Oscar
O meia da Seleção Brasileira Oscar recém comemora o nascimento da primeira filha. Um outro Oscar, este Domingos Chies, de Gravataí e com 76 anos, conta os dias para reunir os seus três filhos, seis netos e dois bisnetos. Pretende juntá-los justamente quando o seu xará entrar em campo na estreia do Brasil na Copa do Mundo, hoje, contra a Croácia. O mecânico aposentado aposta no hexa já que Felipão "puxará as orelhas" dos seus meninos na competição. Sugere um Brasil e Argentina na final. E, claro, ver os hermanos voltando para casa cabisbaixos.
Neymar
- Alô, o seu nome é y?
- Alguns documentos dizem que sim - respondeu Neimar Irigaray da Silveira, 58 anos, no primeiro contato.
A identidade, porém, é grafada com i. Mas é válido pelo tamanho do desafio que o manobrista encara diariamente. Há quem diga que equipara-se a responsabilidade de uma Copa do Mundo para Neymar, este de Felipão. O de Viamão sai pela manhã da Vila Paraíso e dirige-se até um estacionamento vip na Avenida Carlos Gomes, na Capital. Motorista há 35 anos, é sua função manobrar e estacionar carros importados, de luxo. Bater e arranhar, está fora de cogitação. Se preciso, alinha todos com a mesma precisão que o camisa 10 do Brasil invade a área do adversário e dribla os zagueiros.
Mas quando perguntado se já namorou alguma Bruna, ele é rápido:
- Aí é complicado falar - dispara.
Fred
Fred, solteiro, com tatuagem e um sorriso simpático. Este é Fred, o centroavante da Seleção Brasileira. Mas também descreve Frederico Wagner, 33 anos, morador de Canoas. No esporte, porém, são distintos.
- Futebol nunca foi o meu forte. Encaro um alpinismo industrial no trabalho - brinca o coordenador de segurança e meio ambiente de uma empresa em Igrejinha.
Mas as diferenças não param por aí. Ou param? O homônimo famoso carrega no seu currículo gols belíssimos pelo Fluminense e histórias pelas sinaleiras de Belo Horizonte. Don Fredon "atacou" no trânsito e garantiu um selinho de uma motociclista. Fama que o Fred anônimo não admite ter:
- Ah, mais ou menos né?
Felipão
Luiz Felipe Garcia Laydner, 54 anos, ainda não sentiu a sensação vivida pelo seu xará Scolari durante a preparação da Copa do Mundo. Não sabe como é a sensação de descobrir-se avô.
- Mas posso ser a qualquer momento - sorri o pai de uma jovem de 26 anos.
Também não precisa passar uma temporada longe da família em razão do trabalho. Felipão, este do Jardim Itu-Sabará, trabalha como consultor tributário sem sair de casa. E se o técnico da Seleção quiser saber como ser campeão, o homônimo da Capital gaúcha sabe a receita.
- Falam muito em futebol técnico. Mas é com força física que se ganha jogo - sentencia, afirmando que o seu xará foi "cirúrgico e preciso" nas escolha dos 23 convocados.
Agora, se puder dar um pitaco, ele é rápido.
- Levaria o Luís Fabiano para uma emergência.
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