O Povo da Copa
Em aldeia Guarani, crianças indígenas se empolgam com a abertura da Copa
Apesar de os mais velhos não se empolgarem com o evento, mais jovens celebram o Mundial
Imagine o ataque de uma seleção com Messi, Neymar, Agüero e Oscar juntos. Para o cacique Jaime da Silva, 31 anos, da aldeia Guarani localizada numa reserva encravada no Cantagalo, em Viamão, isso seria possível. E a explicação estaria no desapego dos guaranis pelos limites territoriais.
Onhepyrü Ma Copa - Começou a Copa, em guarani; veja mais fotos
- Para nós, o mais importante é a união do povo indígena, independentemente se moramos na Argentina ou no Brasil - explica Jaime, argentino de nascimento que vive no Brasil desde a infância.
A indiferença ao esporte faz parte da cultura dos guaranis, esclarece o cacique. Mas não é o que demonstra boa parte dos mais jovens quando rola a bola no campinho improvisado em frente à escola indígena Karaí Arandu, dentro da reserva.
Crianças jogam futebol antes da partida do Brasil Foto: Mateus Bruxel, Agência RBS
Cacique reune indiozinhos para falar sobre a Copa
Ontem, uma hora antes da estreia mais aguardada no mundo, realmente poucos guaranis se importavam com Brasil x Croácia. Adolescentes jogavam bola e outros faziam petecas com palhas de milho, e as mulheres mais velhas se esmeravam em cozinhar as batatas-doces no fogo de chão e a produzir o kaguijy, bebida típica produzida com milho - cardápio do lanche das crianças no recreio da escola na manhã de hoje.
Numa roda no meio da mata de 243 hectares, o cacique reuniu as crianças e os adolescentes para falar sobre a importância da Copa para os não-indígenas, como se referem aos demais povos.
- Hoje, celebram o início da competição. Para os não-indígenas é um campeonato muito importante, pois reúne povos de diferentes culturas - disse, em guarani, ao grupo.
Do outro lado, o professor indígena Daniel Acosta, 36 anos, que vive na aldeia e dá aulas na escola local, questionava-se sobre a importância da Copa:
- Não sinto nada pela Copa. Que benefício traz para o meu povo e para os outros povos?
Independentemente dos guaranis mais experientes não se importarem com a competição e lutarem para manter a cultura própria do povo, os mais jovens gostam de futebol e torcem pela Seleção Brasileira.
- Quero que o Brasil vença porque é importante para os não-indígenas. Mas gosto de futebol, e sou gremista - confidenciou Rodrigo Duarte, 18 anos, num português arrastado.
Quando o único aparelho de tevê disponível na escola foi ligado, cerca de 15 minutos antes da partida, bastou o rosto de Neymar aparecer na tela para as 15 crianças que estavam na sala gritarem, em uníssono, o nome do jogador e "Brasil".
A Copa havia chegado à aldeia Guarani.