É numa esquina da Zona Norte de Porto Alegre que um ex-goleador quer lucrar com a Copa do Mundo. Mas, como prefere dizer, consciente de que o passado "ficou lá atrás". José Cláudio Duarte, 47 anos, conhecido como Zé Cláudio, trabalha como freteiro e, desde o início desta semana, também vende camisetas, bandeiras e lenços do Brasil na Avenida Baltazar de Oliveira Garcia.

- Decidi vender também porque acredito que a nossa Seleção conquistará o hexa - conta, enquanto ajeita seus produtos no varal improvisado.

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Zé Cláudio se aposentou em 2001. Do passado de centroavante, guarda as lembranças de quando atuou pelo Inter, no final da década de 1980. Desceu dos Campos de Cima da Serra com fama de matador. O que era absoluta verdade. Orgulha-se até hoje de ser artilheiro do Glória, de Vacaria, por três anos consecutivos.

A aventura no Inter foi rápida e opaca. Logo voltou ao Glória, empilhou gols e percorreu o Brasil. Teve passagens pelo Fluminense, em 1996, e pelo CRB, onde foi campeão alagoano. A realidade mais dura do que nos tempo de jogador, jura, não o afeta:

- Hoje, sustento minha família fazendo frete. Não tenho vergonha alguma da minha função. Tenho consciência de que não dá para viver do passado - afirma.

"Hulk será o destaque"

A ideia de vender artigos da Seleção Brasileira surgiu há menos de dez dias. Motivado pela Copa, estendeu na segunda-feira dois varais entre uma cerca e um poste, na esquina da Baltazar com a Avenida Dr. Saulo Coelho. A clientela deu resposta.

Os produtos vem de confecção da Região Metropolitana. Uma camiseta com a estampa do Brasil sai por R$ 20, mesmo valor da bandeira. Zé Cláudio vende até camisa para cachorro, essa a R$ 10.

- Como bom brasileiro que sou, torcerei muito pela Seleção. Aposto que o Hulk será o destaque!

Estacionado do outro lado da avenida, o caminhão de frete do ex-jogador aguarda a próxima chamada. Se vier entre as 9h e às 17h, os comerciantes vizinhos e amigos ficam responsáveis pelas vendas.

"Futebol só traz alegrias"

Apesar dos anos distante dos gramados, o freteiro ainda é reconhecido nos altos da Baltazar de Oliveira Garcia e em Alvorada, onde mora com a mulher Lorena e o caçula, Gabriel, nove anos, Zé tem outros três filhos do primeiro casamento. Quando surgem convites, ainda marca seus golzinhos no veterano do Inter. Apesar do vínculo colorado, faz questão de avisar que seu coração futebolístico tem dono:

- Mas coloca aí na reportagem que sou torcedor fanático de um dos times da cidade onde moro, o Corinthians de Alvorada.

Além da passagem por grandes como Inter e Fluminense, o ex-centroavante garante que o futebol garantiu algo impagável, a alegria. Jura jamais ter se sentido triste de chuteiras. Comemora o fato de o esporte ter proporcionado oportunidades únicas:

- Fui criado sem pai e mãe. Foi o futebol que me ajudou a amadurecer como atleta e como homem. As pessoas precisam entender que esse esporte só traz alegrias.