Copa em Porto Alegre
Franceses e hondurenhos disputam a torcida dos gaúchos
Porto Alegre estreia na Copa do Mundo recepcionando estrangeiros que contam com a hospitalidade da Capital
Não estranhe se neste fim de semana você, em vez de um "tchê!" ouvir um "Hola", que tal?" ou ainda um "bonjour". Porto Alegre, além de gaúcha, será francesa e hondurenha. A partir das 16h deste domingo, no Beira-Rio, França e Honduras medem forças em dia histórico para a cidade. A Copa chegou. E os visitantes contam com seu apoio.
Dois ônibus e muita paixão
O estudante de Medicina da Ufrgs, Ivan Zepeda Mejia, 23 anos, bota fé que o Beira-Rio poderá se transformar numa reprodução dos estádios hondurenhos. Por isso, transformou a casa da família no bairro Três Figueiras no quartel-general de torcedores da América Central, abrigando muitos deles. Para o jogo, já arregimentou 40 torcedores para ir domingo ao estádio. Serão dois ônibus. O detalhe: os veículos estamparão a mesma frase usada no ônibus oficial da seleção: "Um país, uma nação e cinco estrelas no coração". Desses grupo de 40 hondurenhos, 24 embarcará para Curitiba, onde sexta-feira a seleção enfrenta Equador.
A simpatia pelo país, defendem os torcedores, vai além do fato de uma nação pequena da América Central. Para eles, a paixão e a vibração pelo futebol nos estádios são contagiantes.
- Um hondurenho vale dez franceses. A gente vive o futebol, sofre, xinga, grita - afirma o futuro médico.
O pai de Ivan, o engenheiro agrônomo Norman Zepeda, 54 anos, calcula uma inédita classificação de Honduras com o seguinte caminho: empate neste domingo e vitórias contra Equador e Suíça. Para tanto, conta com a simpatia dos brasileiros, como gesto de reciprocidade à admiração dos hondurenhos a craques como Pelé e Garrincha.
Por que torcer por Honduras?
A família de Ivan, formada também pela mãe Elba e pelas irmãs Maria Fernanda e Maria Jose, aponta outros motivos para torcer por Honduras. Entre eles estão as lindas praias, como as da Isla de la Bahía, formada por Roatán, Utila, Guanaja e Barbareta, com águas quentes e cristalinas o ano todo, sem falar o patrimônio histórico de cidades, como Copán, detentora da maior reserva arqueológica do período clássico dos maias.
E ainda tem as comidas e bebidas típicas, como as baleadas, espécie de tortillas com farinha, feijão preto mexido, nata, queijo, ovo mexido e carnes, muito degustadas no retorno de baladas e pela manhã e a horchadas, feita de arroz e leite em pó. Nas danças típicas, o destaque é a Punta, apresentada em bailes e feita na ponta dos pés. Outra é o soninho, executada para alunos do 1° ano da escola, em que os pequenos começam a dançar devagarinho para com o tempo ser executada mais rápida. Aliás, por lá, as danças são tradicionais desde o começo dos estudos até o último ano na escola.
Direto do país da Torre Eiffel
Maior carrasco do Brasil em Copas do Mundo, a França estreia na competição neste domingo, contra Honduras, às 16h, no Estádio Beira-Rio, em que se opõe a tradição contra uma equipe que sequer passou de uma fase inicial. O primeiro duelo do Mundial em Porto Alegre é válido pela primeira rodada do Grupo E. Mesmo com Ribéry, cortado de última hora, os franceses, campeões mundiais em 1998, largam como franco favoritos contra Honduras.
Para a professora francesa Charlotte Waze, 42 anos, há cinco no Brasil, a torcida no estádio será pela França. Justifica que a seleção tem tradição no futebol, é reconhecida pelos brasileiros, sem contar que os franceses gostam do Brasil. Ao lado do marido Franz e dos filhos Achille, sete, Hortence, 12 e Pauline, 15, assistirá a estreia da França no Beira-Rio com um grupo de 22 pessoas, entre franceses e espanhóis. Neste sábado, mais sete jovens vindos diretos da Terra de Platini e Zidane para encorpar ainda mais a torcida.
O empresário Franz entende que o corte de Ribéry faz com que o time fique mais jovem e perca em experiência. Ele teme que a seleção de Honduras receba mais carinho dos torcedores por ser mais fraca. O que faz com que lembrem um histórico da França em fazer jogos muito bons contra grandes times e péssimas apresentações frente a adversários mais fracos.
Por que torcer pela França?
O casal Charlotte e Franz observa que a França acolhe milhares de turistas brasileiros anualmente. E que no Brasil, a admiração pelo país da Torre Eiffel passa por diferentes motivos: das bolsas Channel e Louis Vuitton, à qualidade de vida, o patrimônio cultural, a gastronomia por pratos como o croissant, petit gateou, escargot, queijos e vinhos. Sem contar que em Porto Alegre há diversos prédios com nomes franceses.
- A nossa seleção não tem craques, são jovens que tem tudo a demonstrar com muita força de vontade de jogar e um prazer que não se via há tempos - aponta a professora.
Confiantes num bom resultado, o grupo tratou de passar a semana vivendo o clima de Copa. Adaptados ao Brasil, na quinta-feira, se reuniram para acompanhar juntos a vitória brasileira. E neste sábado, na véspera do jogo, um novo encontro dos franceses fará o aquecimento. O detalhe é que em vez de comidas franceses optarão pela tradição do churrasco gaúcho.
- A culinária francesa tem boas comidas, mas o churrasco foi a descoberta das nossas vidas. Ele significa reuniões, alegrias, festa - enumera Charlotte.
França
Sem Ribéry, a França terá que apostar em estilo de jogo mais coletivo. A missão de Benzema e companhia será apagar a má impressão deixada pelo fiasco da eliminação na primeira fase em 2010 e a crise no vestiário entre técnico Raymond Domenech e os jogadores. O técnico Didier Deschamps (capitão em 1998) conta com trio ofensivo afiado: Valbuena (do Olympique de Marselha), Benzema (do Real Madrid) e Giroud (do Arsenal). Também tem uma defesa forte, com os jovens Varane (Real Madrid) e Sakho (Liverpool), que disputam lugar na zaga com Koscielny (Arsenal), além do volante Pogba, eleito melhor jogador sub-20 da Europa em 2014.
Honduras
Será a terceira participação de Honduras na Copa do Mundo. Em 1982 e em 2010, não passou da primeira fase. Em 1982, teve como grande destaque o goleiro Arzu. Mesmo que o espanhol seja o idioma oficial do país da América do Norte, o inglês domina a seleção montada pelo Luis Fernando Suárez. Os principais nomes da equipe atuam no futebol inglês e nos Estados Unidos. Nove jogadores atuam no país e dois deles estão sem clube no momento (o meia Jorge Claro e o atacante Carlos Costly). A curiosidade está no gol: os goleiros Noel Valladares e Donis Escober atuam no mesmo clube, o Olímpia.
Os protagonistas
Com a camisa 10 eternizada por Platini e Zidade, o centroavante Benzema será recuado e atuará pela esquerda, na vaga de Ribéry atuaria. Giroud está longe de ser um craque, mas tem feito gols e virou o centroavante titular. O volante Pogba é o motor francês, que não terá um articulador de ofício para organizar o time.
O volante Wilson Palacios, do Stoke City, é o cara da seleção de Honduras. Acostumado ao futebol inglês, representa o estilo de jogo da seleção. Muita pegada e algumas faltas mais duras. Dos pés do lateral-esquerdo Izaguirre, do escocês Celtic, é de onde devem surgir as melhores chances de gol. Bengtson, centroavante que joga no New England Revolution, dos EUA, é a esperança de gols da equipe.
FRANÇA x HONDURAS
Grupo E - 1ª rodada
16h - Estádio Beira-Rio
França 4-2-3-1
1 Lloris; 2 Debuchy, 21 Koscielny (4 Varane), Sakho e 3 Evra; 6 Cabaye, 19 Pogba, 14 Matuidi, 8 Valbuena e 10 Benzema; 9 Giroud
Técnico: Didier Deschamps
Honduras 4-4-2
18 Valladares; 21 Beckeles, 5 Bernárdez, 3 Figueroa e 7 Izaguirre; 8 Wilson Palacios, 19 Garrido, 23 Marvin Chavez e 15 Espinoza; 11 Bengtson e 13 Costly
Técnico: Luis Fernando Suárez
O juiz é nosso!
O árbitro Sandro Meira Ricci, único árbitro brasileiro no Mundial, foi escalado pela Fifa para apitar o primeiro jogo em Porto Alegre. Aos 39 anos, o mineiro, que apita pela Federação Pernambucana de Futebol, estreia em Copas. Márcio Chagas da Silva, comentarista de arbitragem do Grupo RBS, entende que é bom estrear em um jogo teoricamente mais morno do que já começar numa fogueira. Os auxiliares paulistas Emerson Augusto de Carvalho e Marcelo Van Gasse completam o trio. Sandro, um analista de comércio exterior fora de campo, apitou a final do Mundial de Clubes em 2013, Bayern de Munique 2x0 Raja Casablanca.