Copa do Mundo 2014
O avô analógico e o neto digital curtem a mesma Copa
Em 1950, Eraldo Herrmann viveu por dentro a emoção da Copa do Mundo em Porto Alegre. Foi voluntário do Inter na bilheteria dos Eucaliptos nos dois jogos realizados aqui. Agora, 64 anos depois, é a vez do neto Henrique Rocha Herrmann, de sete anos, experimentar a sensação de assistir ao maior evento do futebol. Assim como aconteceu com o avô, no estádio do clube do coração
Eraldo, empresário aposentado, testemunhou as transformações da cidade nas últimas seis décadas. Viu a cidade passar quase de uma vila para metrópole. Por isso, a revolução digital atual não o assombram. Após chegar à Capital vindo do Interior em 1948, a grandiosidade de um evento mundial, depois de hiato de 12 anos causado pela 2ª Guerra Mundial, agitou a vida dos porto-alegrenses. Mesmo que os olhos do mundo estivessem voltados para o Rio de Janeiro e o gigante Maracanã, recém-inaugurado.
Iugoslávia, Suíça e México, o time acolhido pela maioria dos torcedores que foram ao Estádio dos Eucaliptos, vieram até Porto Alegre para jogar. Mesmo como um dos trabalhadores da organização, Eraldo conseguiu assistir às duas derrotas dos mexicanos (4 a 1 para a Iugoslávia e 2 a 1 para a Suíça). Nem mesmo a lenda Carbajal sob as traves ajudou os astecas. Tudo, claro, depois que a lotação do estádio já estava completa e ninguém mais podia entrar.
- Dava para ver todo o segundo tempo, às vezes até um pouco mais. O pessoal chegava cedo ao estádio - relembra.
Depois de acompanhar uma Porto Alegre em polvorosa, Eraldo acredita que a população da cidade não está tão empolgada como em 1950.
- Não sei se é pela grandiosidade do evento ou é cobertura da imprensa. Não sei se é porque estou velho, mas não vejo a população tão animada com a Copa. Naquela época foi mais empolgante e sentimental. Hoje, não sei se é por causa de outras questões, mas acho que a população está muito dividida. Acho que éramos mais inocentes - diz, com ar saudoso.
Eraldo ainda não decidiu se vai ao beira-Rio
Entre passes e chutes na Brazuca do neto Henrique, Eraldo afirmou que ainda está indeciso. Mas que pensa com carinho na possibilidade de ir ao Beira-Rio para assistir a um dos jogos cinco jogos da Copa. Mas mesmo se não for ver de perto, o vô recusa-se a imaginar o neto sentindo o mesmo amargo de 1950, com a vitória uruguaia na final com gol de Ghiggia.
- Estava numa matiné, ficamos sabendo da derrota na saída do cinema, no caminho para o bonde. Foi uma tristeza geral, dava para sentir na rua - conta.
Ao lado do pai, João Patrício, da irmã Suzany e do tio Gustavo, Henrique assistirá ao jogo Austrália x Holanda, dia 18. Ao contrário do avô, que precisava esperar pelo rádio ou pelo jornal do dia seguinte, o guri não só poderá se manter informado do que acontece no jogo pelo celular como compartilhar online e em redes sociais o que estará sentindo no Beira-Rio.
Fã de D'Alessandro e de pouquíssimas palavras, o guri já escolheu quem será a versão do ídolo colorado na Seleção: Neymar, é claro. Para Henrique, o camisa 10 é quem conduzirá o Brasil ao hexa.