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Jogador tricolor

Exclusivo: "Procuro me dedicar a cada jogo para fazer valer a pena tudo que sofri", afirma Fernando

Equipe do esporte do Diário Gaúcho conversou com o jogador do Tricolor e abriu o jogo

04/06/2012 - 07h08min

Atualizada em: 04/06/2012 - 07h08min


Jogador diz estar esperando convite para jogar pela Seleção

Se deixar, Fernando permanece no campo treinando até tarde da noite no Estádio Olímpico. E sem perder o sorriso metálico do rosto. O encantamento e a empolgação com o que faz lembram um guri de categoria de base. A maturidade e a determinação são de alguém que sonha alto. O camisa 17 tem por meta vestir a amarelinha da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2014. Com a canarinha, conquistou dois Campeonatos Sul-Americanos (Sub-15 e Sub-20) e um Mundial Sub-20.

Peça-chave do atual time do técnico Vanderlei Luxemburgo, Fernando quer mais: ganhar a Copa do Brasil e garantir a vaga na Libertadores do ano que vem para o clube que o criou. Parece muito para alguém com tão pouca idade - completou 20 anos em março. Mas Fernando pode.

Diário Gaúcho - Tu previas um crescimento tão grande em 2012?

Fernando - A gente sempre quer estar bem, mas não esperava que fosse tão rápido, vir da base e com 20 anos ser titular do Grêmio. A gente trabalha para chegar ao time principal, e graças a Deus, consegui chegar. Claro que teve uma fase de adaptação, mas passou. Estou bem melhor.

DG - Dos treinadores que passaram pelo Olímpico, qual foi o que mais contribuiu para a tua ascensão?

Fernando - O Celso e o Vanderlei. O Silas também me ajudou muito, mas acho que principalmente o Celso e agora o Vanderlei, que vem me dando muita confiança, pegando bastante no meu pé para eu fazer treinos específicos.

DG - O que ele pede?

Fernando - Principalmente virada de jogo, passe curto. A gente que joga no meio-campo sabe que, se perder a bola ali, é contra-ataque. Hoje tenho errado muito menos passes. Se dou, em média, 30, 40 passes por jogo, erro três ou quatro, no máximo. Fico feliz por ter melhorado, era um defeito. Também gosto de gravar os jogos em casa para depois assistir e saber o que errei. Em termos de posicionamento, também me cobro muito.

DG - Hoje tu convives com dois ídolos do Grêmio (Emerson e Roger) que vieram das categorias de base como tu. Eles te ajudam, principalmente o Emerson, que foi volante?

Fernando - O Emerson é o que mais me ajuda. O Vanderlei fala que colocou ele no meu pé (risos). Me dá muitas dicas, a carreira dele foi indiscutível. Ele olha os jogos lá de cima da cabine e, no intervalo, desce e fala: "Está errado isso, pode melhorar aquilo". O volante é o cara que tem que dar o ritmo de jogo. Tendo um meio-campo bom, tem tudo para ser uma boa equipe.

DG - É diária a conversa de vocês?

Fernando - Todo o dia. A gente até brinca, temos uma amizade bem legal. Ele é uma pessoa sensacional. Esse relacionamento me ajuda a ter o desempenho que venho tendo.

DG - Ele teve uma trajetória parecida com a tua: veio do Interior, fez carreira de Seleção e chegou a capitão da principal. Ele é o teu espelho?

Fernando - Com certeza, até porque ele chegou a times grandes como Real Madrid/Esp, Juventus/Ita. É um cara em quem me espelho, até pela cabeça e pela carreira vitoriosa que ele tem. Falo isso para ele.

DG - Assim como o Emerson, é teu sonho seguir carreira fora daqui?

Fernando - É sonho de todo mundo: chegar à Seleção e jogar na Europa. Para mim, não é diferente. Saí do Interior, fui para o Juventude, vim para cá depois. A gente sempre busca coisas na carreira que compensem o que a gente sofreu lá atrás. Estou vivendo um momento muito bom.

DG - Tu queres, antes de sair do Grêmio, ter o gosto de jogar um período na Arena?

Fernando - Nosso principal objetivo é colocar o Grêmio na Libertadores 2013. A direção fez um bom time para realizar isso. Tenho contrato até 2016, mas a gente sabe que o clube, em alguns momentos, fica vulnerável e aceita alguma proposta irrecusável. Mas eu estou tranquilo, quero fazer meu trabalho aqui e pretendo ficar até me mandarem embora (risos).

DG - E, em relação a quem está na ativa, quem é teu ídolo?

Fernando - O Lucas (do Liverpool/Ing). Gosto muito, foi criado aqui. Gosto muito do futebol do Xavi, do Iniesta (ambos do Barcelona/Esp).

DG - O Grêmio tem uma fábrica de volantes?

Fernando - O Grêmio tem tradição em revelar meio-campistas. Os que saíram daqui saíram muito bem, jogaram em times grandes. Espero que eu também possa seguir esse caminho. Ganhar algum título aqui pelo Grêmio é o que eu mais quero este ano. Ganhar a Copa do Brasil é uma responsabilidade que a gente assumiu.

DG - Na tua avaliação, a torcida cai mais no gosto de um jogador de renome contratado pelo clube ou por uma prata da casa?

Fernando - É mais difícil gostar de jogador que vem da base. Geralmente, quem vem com renome o torcedor já conhece. O que vem da base tem que provar que tem qualidade. E é aquela coisa: para você conquistar confiança, demora dois, cinco, dez anos, mas, para perder, bastam algumas atitudes. Então, procuro me dedicar a cada jogo para fazer valer a pena tudo que sofri.

DG - Tu viraste um batedor de faltas. Desde quando isso?

Fernando - Desde a base. Fiz muitos gols assim. Venho treinando muito, e está dando resultado. Antes batia na barreira e ia para fora. Agora está entrando. É uma coisa que decide jogos. Vou procurar aperfeiçoar mais. A gente treina em véspera de jogo, costumo bater de 20 a 30 faltas.

DG - E pênalti?

Fernando - Pênalti também. Agora a gente está errando alguns, né (risos)? Mas todo mundo treina.

DG - Tu és um cara muito bem-humorado, que se dá bem com todo mundo. Não subiu à cabeça a tua boa fase.

Fernando - Procuro ser um cara alegre. Quando você vem para o trabalho com alegria, é outra coisa. Procuro ser tranquilo, bem-humorado tanto dentro do campo quanto em casa. Claro, na hora do trabalho, tem que ser sério. Acho que esse é o meu segredo.

DG - Como bateu para ti não ter sido convocado desta vez para a Seleção?

Fernando - É uma coisa que a gente busca. Fiquei um pouco chateado, sim, pelo que eu venho me dedicando. Mas acho que Seleção a gente tem que buscar a cada dia. Isso estou fazendo. A consequência para a Seleção é estar bem aqui no Grêmio. Aí, pode ter certeza que vai ter sempre alguém olhando.

DG - Tu achas que tens chances de estar na Olimpíada?

Fernando - Enquanto não divulgam a lista, a gente tem esperança, né (risos)?

DG - O título Mundial com a Seleção Sub-20, no ano passado, recolocou tua carreira nos trilhos?

Fernando - Acho que sim. Voltei numa semana de Gre-Nal, e o Gilberto sentiu a panturrilha no dia anterior à partida. Aí, o Celso falou que eu ia para o jogo. Fazia uma semana que tinha voltado da Seleção. A Seleção me ajudou muito em termos de experiência, ganhei sequência de jogos e também pude mostrar meu futebol. Até eu ir para lá, estava praticamente esquecido. Fui lá, fiz meu papel, voltei e hoje estou aqui, graças a Deus.

DG - Tu és bem amigo do Neymar, né?
Fernando -
A gente costuma conversar por telefone. Eu ligo, pergunto do filho dele. Sou muito amigo do pai dele também. Desde a Seleção Sub-15 conheço ele. É um cara muito tranquilo, de família. Já fui umas vezes para a casa dele em Santos. Sempre que posso, fico lá, comemos churrasco juntos.

DG - Que avaliação tu fazes da reta final da Copa do Brasil?

Fernando - Os dois jogos contra o Palmeiras vão ser bem diferentes do último que tivemos. O Felipão sabe jogar copa. Os quatro times da semifinal são de muita qualidade. Queremos o apoio do torcedor dia 13. O grupo está centrado. O fator casa é que vai prevalecer.

DG - Como é o teu dia? O que tu gostas de fazer além de jogar bola?

Fernando - Gosto de jogar videogame, passear no shopping. É muito difícil eu estar em casa, só volto para dormir. Gosto de ir ao cinema, jantar fora. Com quem eu mais saio daqui é o Leandro. Com o Saimon também me dou bem. O pessoal nos conhece agora, pede para tirar foto, fala "pô, Fernando, está jogando bem, continua assim". É bacana, bem gratificante.

Meta de volantes

Ex-volante multicampeão pelo Grêmio e auxiliar técnico de Vanderlei Luxemburgo, Emerson Ferreira da Rosa tem uma meta junto com Fernando.

- Fizemos uma brincadeira séria. De ele vestir a camiseta da Seleção e jogar a Copa de 2014. Eu ficaria muito feliz se acontecesse, ainda mais depois de eu ter vestido aquela camiseta por dez anos - declara o "padrinho" do camisa 17 no Olímpico.

Emerson conta que a aproximação com Fernando ocorreu de "forma automática", logo que se integrou à equipe de Luxa em março.

- Fico contente de ser um exemplo para ele. Vejo nele muito potencial. Com certeza, vai chegar a todos os objetivos. O caminho é longo, há obstáculos. Já passei por isso, na mesma posição, e nada melhor do que transmitir para ele. É um menino que ouve, quer aprender - elogia Emerson, que sempre procura corrigir questões de posicionamento do garoto.

"Quando ele vai bem, a equipe rende"

Aos poucos, o auxiliar técnico busca conscientizar seu "apadrinhado" da importância que ele exerce no Grêmio.

- Ele já está numa equipe grande, é titular mesmo com pouca idade. Não tem muita dimensão disso. Tem uma responsabilidade, o time depende dele. Quando vai bem, a equipe rende. Mas ele trabalha para isso. Muitas vezes tem que tirar ele do campo. Se deixar, fica até as 21h - brinca.

Saiba mais
- Fernando Lucas Martins nasceu em Erechim, no Norte do Estado, em 3 de março de 1992.
- Aos 11, foi para o Juventude. Aos 13, chegou ao Grêmio.
- Com a camisa tricolor, foi campeão brasileiro sub-20 e campeão gaúcho pelo time principal (2010).
- No grupo profissional, já marcou oito gols.
- Com a canarinha, conquistou os campeonatos Sul-Americanos Sub-15 e Sub-20 e o Mundial Sub-20. Já soma 35 convocações.
- Neste ano, foi o único representante do Grêmio na seleção do Gauchão, eleita pela Federação Gaúcha de Futebol.
- É o caçula de três irmãos e noivo de Fernanda, 23 anos, desde agosto passado. O casal é dono de um cão Dachshund marrom (o popular "salsichinha").

 


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