Em dois anos da gestão Giovanni Luigi, quatro técnicos. O último a ser engolido pelo vestiário foi Fernandão. A queda ocorreu na segunda-feira à noite e foi anunciada ontem, no final da manhã.

Mesmo sabendo que a gênese dos problemas está enraizada no vestiário, a direção desmentiu que boatos de que haveria boicote dos jogadores a Fernandão no Gre-Nal tenha sido a razão da sua saída. Por boicote entenda-se jogar sem disposição o clássico de valor histórico, por ser o último do Olímpico. Segundo o vice de futebol, Luciano Davi, pesaram os resultados e a necessidade de deflagrar 2013.

- Temos consciência do que é preciso fazer no vestiário. Nosso problema não está só nas comissões técnicas - admitiu Davi.

Contrário à demissão de Fernandão, Luigi resistiu o que pôde à pressão de dirigentes. Mas cedeu. Na segunda-feira à noite, Davi convocou Fernandão no CT Parque Gigante e comunicou-o da saída. A queda, porém, vinha se desenhando havia algum tempo. As traições foram o pano de fundo.

Bomba na zona de conforto

Na verdade, a relação de Fernandão com o grupo começou atravessada. Alguns jogadores não aceitavam o fato de o diretor técnico participar da demissão de Dorival Júnior e substituí-lo.

Dorival recebeu mensagens de solidariedade em seu iPhone de alguns jogadores do grupo.

- Muitos acham que derrubei o Dorival, mas eles (Luigi e Davi) sabem a verdade e o quanto eu relutei para aceitar - afirmou Fernandão ontem.

A relação azedou de vez, porém, após o 2 a 2 com o Sport. Na entrevista coletiva, Fernandão acusou alguns jogadores de estarem na "zona de conforto". A entrevista caiu como bomba no vestiário. Na reunião, dois dias depois, Forlán cobrou do técnico. A entrevista indignou lideranças do grupo. A partir dali, sucessivas lesões tiraram de cena jogadores importantes, e o técnico passou a sofrer com desfalques.

Perguntado ontem se acreditava em boicote dos jogadores, Fernandão fez longa pausa e disse:

- Há tempo faço relatórios para passar informações que até eles (direção) viram.

Choro ao agradecer a poucos

Ao agradecer alguns jogadores - apenas Ygor, Muriel e Índio foram citados -, Fernandão foi às lágrimas. Demorou para se recompor. Seu assessor de imprensa pediu o fim da entrevista, mas o técnico fez questão de seguir até a última pergunta.

As lágrimas revelam o racha no grupo. Fernandão contava com apoio dos mais jovens e de alguns mais rodados. Os líderes, porém, estavam distantes dele. D'Alessandro se condoía com a situação de Bolívar, descartado depois do jogo contra o Coritiba. A discussão entre Muriel e Kleber, contra o Atlético-GO, deixou evidentes as diferenças.

Desempenho

26 jogos
Nove vitórias
Oito empates
Nove derrotas
Aproveitamento de 44,87%

Osmar Loss no Gre-Nal

Faltando apenas dois jogos para o final do Brasileirão (Portuguesa e Gre-Nal), o Inter será comandado pelo técnico do sub-23, Osmar Loss. Aos 36 anos, ele já treinou o time em agosto de 2011, após a saída de Falcão. Na época, comandou a equipe em oito partidas pelo Brasileirão, com duas vitórias, quatro empates e duas derrotas. Foram 12 gols marcados e 12 gols sofridos. Além disso, esteve no banco de reservas do Inter na Copa Audi, na Alemanha, em que o time enfrentou Barcelona e Milan.

Loss vem de duas eliminações recentes: na Copa do Brasil sub-20, nas oitavas de final, e na Copa Hélio Dourado, quando caiu nas semifinais para o Juventude, ao levar 1 a 0 em Caxias e 2 a 0 em Porto Alegre.

Dunga é o mais cotado

Livre para negociar com qualquer treinador, a direção já fez o primeiro contato com Dunga, um dos nomes mais cotados. Uma das premissas do capitão do Tetra era de que não negociava com clube que tem técnico. Abel Braga e Cuca, também cogitados para o cargo, acertaram ontem suas renovações com Fluminense e Atlético-MG, respectivamente.

Na segunda-feira, Dunga convidou D'Alessandro a visitar crianças do Centro Social Padre Pedro Leonardi, na Restinga, e que tem o apoio do treinador. O camisa 10 é amigo pessoal de Dunga.

Frases

"Meu grande erro não foi ali (entrevista pós derrota para o Sport), mas depois. Deveria ter tomado algumas atitudes. Fui amigo de quem não merecia. Não me arrependo de ter falado, mas depois, sim, porque resolvi agir como amigo."

"Só lamento de não poder fazer parte dessa mudança. Fraquejei também. Não tive a experiência necessária para fazer essas mudanças."

"Uma das lições que aprendi é que, se você é verdadeiro, sincero, às vezes tem um monte de caras sentados no ar-condicionado te chamando de pinóquio, caras que não sabem o dia a dia e só querem fazer polêmica na imprensa."

"Agradeço aos jogadores, em especial ao Ygor (neste momento, Fernandão chora). Contra o Atlético-MG, estávamos sem zagueiro, e a atitude dele, se colocando à disposição, mostrou muita coisa. Havia pedido a um jogador para atuar ali e ouvido um não. Agradeço também ao Índio, ao Muriel."

"Algumas coisas estão claras, outras não. Quando você fala a verdade, é sempre criticado."

"Saio frustrado comigo mesmo, de não conseguir colocar em prática tudo o que penso."

Linha do tempo

20/7
No dia em que demite Dorival, Inter anuncia Fernandão. Ele estreia com 4 a 1 no Atlético-GO. Nos seis primeiros jogos, teve quatro vitórias e dois empates.

26/8
Fernandão perde o Gre-Nal no Beira-Rio, com gol de Elano no primeiro tempo. O lateral Kleber joga no meio. Time tem atuação fraca no clássico.

2/9
Depois do 1 a 0 para o Coritiba, em que participa do gol, Bolívar para no banco. O zagueiro alega gripe e não concentra para pegar o Flamengo em casa.

16/9
Sem vencer há três jogos, o Inter fica no 2 a 2 com o Sport. Ao final do jogo, Fernandão concede entrevista forte: "Tem jogadores na zona de conforto".

18/9
Em reunião no vestiário, jogadores cobram de Fernandão a entrevista. Forlán é um deles. Lembra que veio direto de um jogo pelo Uruguai para atuar pelo Inter.

13/10
Embalado pelo 2 a 1 no Atlético-MG, o Inter leva 3 a 1 do lanterna Atlético-GO em Goiânia. Kleber e Muriel quase brigam. Fernandão coloca cargo à disposição.

17/10
Fernandão decide colocar Kleber e D'Ale no banco contra o Figueirense. D'Ale entra no segundo tempo e não impede a derrota de 3 a 2, de virada.

19/11
Acumulando três derrotas e vendo um time apático em campo, a direção decide demitir Fernandão. Giovanni Luigi resiste, mas é convencido a trocar o técnico.

Nov/Dez
Osmar Loss comanda o time contra Portuguesa e no Gre-Nal do dia 2, no Olímpico. A direção procura um técnico para 2013. Dunga é o principal candidato.