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Tem tudo para dar certo

VÍDEO: Brilha a estrela de Cassiano, nova aposta do Inter

Revelação colorada no Brasileirão, entrará em campo pela sexta vez contra o Náutico

03/11/2012 - 07h48min

Atualizada em: 03/11/2012 - 07h48min


A vida dele mudou totalmente em dois meses, mas a sua essência de guri humilde e de família ainda permanece a mesma de quando ensaiou seus primeiros chutes na quadra de futebol em frente ao condomínio onde mora. Nascido nos prédios vizinhos ao Sesc Campestre, no bairro Alto Petrópolis, Zona Leste de Porto Alegre, Cassiano é o xodó dos vizinhos. Basta alguma criança avistar o atacante do Inter que já surge uma bola e o convite para bater uma pelada.

- Ele é um amor de pessoa, não mudou nada - atesta uma ex-colega de colégio.

De jogador desconhecido do Zequinha, a artilheiro da Segundona pelo Esportivo e revelação do Inter no Brasileirão. A carreira do guri de 23 anos foi dos 8 aos 80 em poucas semanas. E muita coisa mudou desde então. O moleque que antes era conhecido por estar sempre no campo de futebol, agora é visto na tevê com orgulho pelos amigos e familiares. O pai José Carlos Moreira, conhecido como Zecão, e a irmã mais velha Joseane, 33 anos, são os pilares para que o deslumbramento não atrapalhe os planos. E a mãe Ângela, embora não tenha presenciado o sucesso de seu Cassianinho, como o chamava - faleceu em maio vítima de câncer -, foi o grande combustível para que o talento do guri franzino e tímido desabrochasse nos campos.

- Estou sempre de olho, puxando a orelha quando preciso. Mas preparei ele para se virar sozinho - diz o pai, orgulhoso.

Neste domingo, diante do Náutico, em Recife, Cassiano fará seu sexto jogo como titular do Inter. E praticamente todas as televisões do condomínio estarão ligadas para ver o seu mais ilustre morador brilhar novamente.

Diário Gaúcho: Seu contrato foi renovado por cinco temporadas. Dá para dizer que você foi aprovado nesse curto tempo de experiência?
Cassiano:
Eu até estava comentando com o meu empresário (Jorge Machado) que eu passei no vestibular. O que vier vai ser lucro agora. Estou muito feliz pelo que está acontecendo.

Diário Gaúcho: Você veio do Esportivo para jogar no sub-23 e acabou sendo aproveitado no grupo profissional. Conta um pouco da sua trajetória até chegar ao Beira-Rio.
Cassiano:
Eu era do São José, assinei contrato em 2006, quando ainda estava no juvenil, e fiquei lá até 2010. Saí e fui para o Inter B, mas não fui aproveitado e retornei. Fiquei mais um mês e fui para o Corinthians-AL, onde joguei o Alagoano. Depois voltei e fui para o Glória de Vacaria jogar a Segundona. Quando acabou, fui para o Chipre, mas não aceitaram meu contrato por empréstimo, queriam em definitivo, aí acabei voltando e fiquei até o final do ano no São José. Em 2012 me emprestaram para disputar a Segundona pelo Esportivo, onde tudo começou a dar certo. Conseguimos o título e fui um dos destaques do time.

Diário Gaúcho: Como foi ser campeão da Segundona pelo Esportivo e ser o goleador da competição (8 gols)?
Cassiano:
Graças ao campeonato que fiz lá que eu consegui voltar para o Inter. E mesmo assim o Inter não me queria muito, porque eu já tinha passado por lá e não fui aproveitado, eles pensavam que não valia a pena me trazer de novo. Mas o Roberto Melo (diretor da base) acreditou em mim e me levou para o time sub-23, onde joguei três jogos, que já foram o suficiente para chegar no grupo principal.

Diário Gaúcho: E a experiência no Chipre?
Cassiano:
Fui sozinho, com um rapaz que me indicou, o Rogério, de Passo Fundo. Ele era o preparador de goleiros do time, morávamos no mesmo prédio e fazíamos tudo junto porque ele sabia a língua. É um país muito bonito, mas na questão profissional não foi muito bom, os times lá não pagavam, fiquei três meses e recebi um salário só. Não foi como eu esperava, mas como aprendizagem foi muito bom. Joguei alguns amistosos só.

Diário Gaúcho: Como foi seu primeiro dia no Beira-Rio?
Cassiano:
Cheguei no Inter no final de agosto. Treinei dois dias no São José e no sábado, quando ia começar a Copinha, eu estava fardando no vestiário e me falaram que nem era para eu fardar porque eu ia para o Inter. Na segunda me apresentei. O primeiro dia foi de exames, não vi muita gente. No outro dia já tinha jogadores que eu conhecia no vestiário do sub-23. No primeiro dia que eu entrei no vestiário profissional foi meio estranho. Ver jogadores que eu só via na televisão, no videogame... Mas foi bom, eles me receberam bem. No primeiro dia cheguei cedo e o Bolívar me convidou para tomar café e aí já comecei a conversar com ele. E os mais novos também ficam sempre próximos. Os que eu mais falo são o Lucas Lima, Fred e Otávio.

Diário Gaúcho: E como é a convivência com jogadores mais experientes?
Cassiano:
Eles brincam um pouco com os mais novos, que estão chegando, mas é tranquilo, me dou muito bem com todos. Converso com o Rafael Moura, o Ygor, Fabrício.

Diário Gaúcho: Você assistiu à final do Mundial? Agora está jogando ao lado de Índio, que estava lá. Como é isso?
Cassiano:
Assisti no trailer aqui do lado de casa com os amigos, foi bem legal. É meio louco agora estar convivendo com aqueles que eu só via na tevê. O Índio é uma pessoa muito boa, sempre conversa comigo. Foi um dos primeiros que me procurou, dizendo que se desse tudo certo minha vida poderia mudar. Ele me deu força, gente boa demais.

Diário Gaúcho: O que mudou na sua vida virar jogador do Inter?
Cassiano:
Mudou bastante. As pessoas na rua vem cumprimentar, pedir camisa, autógrafo. É um clima gostoso, que quem joga futebol sempre sonhou em passar. Desde pequeno eu quis isso e estar vivendo esse momento agora é muito bom.

Diário Gaúcho: E no seu prédio, os vizinhos, como reagem ao saber que um dos destaques do Inter mora no condomínio?
Cassiano:
Aqui é tranquilo porque estamos sempre juntos, dou ingresso para eles irem nos jogos, quando estou de folga estamos sempre juntos. Tem uns que pedem camisa, é difícil de conseguir para todos, mas é bom.

Diário Gaúcho: Os teus amigos do bairro te perguntam muito sobre como é vida de jogador do Inter?
Cassiano:
Eles perguntam sempre. Esses dias me perguntaram quem era o mais chato, o mais legal. Os caras são tudo parceria, gente boa. Mas eles querem sempre saber alguma coisa.

Diário Gaúcho: Como foi tua a noite na concentração antes do jogo com o São Paulo, teu primeiro com o time?
Cassiano:
Foi meio estranho porque eu recém tinha jogado o terceiro jogo pelo B. Me apresentei na segunda e o Osmar Loss (técnico do sub-23) disse que na terça eu tinha que me apresentar para o profissional e que eu ia viajar, Mas não sabia se eu ia sobrar. No fim, fiquei entre os 18 e, no intervalo do jogo, o Rafael Moura machucou e o Fernandão me olhou e pediu para aquecer. Eu não acreditei. Meu pai até me disse que não queria que eu entrasse nesse jogo, que eu fosse só para sentir o clima. A ansiedade é normal, nessa noite foi um pouco maior. Na primeira concentração fiquei com o Mike no quarto. Depois eu e o Fred e agora eu concentro com o Ygor.

Diário Gaúcho: Fernandão já lançou muitos garotos no Inter, como Fred, Jackson e Lucas Lima. Como é a sua relação com o treinador?
Cassiano:
Ele me passou muita segurança quando eu entrei, disse para ir para cima deles, azar o que fosse acontecer. Graças a ele que tudo está acontecendo, por ter me dado essa oportunidade. Ele me ajuda todos os dias, trabalhando comigo finalização, cruzamento, tudo. Ele ajuda a todos nós e passa confiança para a gente.

Diário Gaúcho: A concorrência no ataque colorado é dura: Forlán, Damião, Dagoberto e Rafael Moura. Como você encara a disputa com jogadores experientes e de seleção?
Cassiano:
É difícil competir com eles, cheguei depois. Mas a torcida gosta um pouco de mim, consegui entrar, fazer gols, isso tudo me ajudou muito. Eu aprendo com eles todos os dias, são jogadores que dispensam comentários. Eu tento em todo treinamento aprender alguma coisa.

Diário Gaúcho: Você jogou nas escolinhas do Sesc. Foi importante ter essa base desde de pequeno?
Cassiano:
Comecei com sete anos no Sesc e dali fui para o Grêmio, onde joguei seis anos na base. Eu gostava muito de jogar ali. Lembro que só podia treinar terças e quintas ou quartas e sextas e eu tentava ir todo o dia e os treinadores ficavam bravos comigo. É bom fazer escolinha para se acostumar com o ambiente, com as viagens e jogos. Minha primeira viagem foi a Livramento, fiquei o final de semana fora e foi difícil, meus pais ficaram preocupados, eu era pequeninho.

Diário Gaúcho; Como faz para manter o equilíbrio com uma mudança tão repentina de vida? Em agosto, você estava na Segundona, no Esportivo. Em outubro, é revelação do Inter?
Cassiano:
Às vezes nem eu sei como aconteceu tudo isso, foi muito rápido, parece que não caiu a ficha. É complicado tu jogar a Segundona e hoje estar no Inter. Mas acabei acostumando, quando eu estava no Esportivo tinha o Ediglê, Felipe Athirson, Mauro (ex-Fluminense), jogadores que já tinham jogado em clubes grandes e explicavam como era. Por jogar uma Segundona também, que é difícil, cheguei com tranquilidade. Vi nos treinos que não era tão diferente.

Diário Gaúcho: O que você destaca como suas principais qualidades?
Cassiano:
Tenho velocidade, raça e vontade. Acho que na minha posição não são todos que conseguem atacar e voltar para marcar. Acredito que a torcida gosta dessa pegada que eu tenho.

Diário Gaúcho: Com o novo contrato, que se encerraria no final de novembro, você poderá jogar o Gre-Nal do dia 2 de dezembro. Como será, se tiver a oportunidade, de disputar teu primeiro clássico como profissional?
Cassiano:
Nem pensei nisso ainda. Lembro que amigos meus gremistas, quando eu era pequeno, diziam que o sonho deles era me ver jogar no Olímpico. Agora pode acontecer. Imagina se eu jogo e a gente ganha por 1 a 0 com um gol meu. Eu sonho com isso. Vai ser uma emoção muito grande.

Diário Gaúcho: Você perdeu recentemente sua mãe. O quanto esse momento delicado influenciou no seu trabalho? Como foi superar essa dor?
Cassiano:
Foi quando eu estava no Esportivo, durante o campeonato. Foi em um jogo que eu nem ia jogar. Estava terminando o treinamento e meu pai me ligou pedindo para eu voltar para casa rápido, já imaginei o que era. Cheguei e vi tudo que aconteceu. Logo depois meu pai ficou mal, ficou no hospital um mês e pouco. Foi bem complicado. Mas foi durante todo esse processo que eu acabei me destacando, comecei a fazer gols, o time começou a deslanchar. Os meus amigos ficaram sempre do meu lado, me deram muita força. Minha família também se uniu muito. Isso que ajudou. Com certeza ela deve estar orgulhosa de mim.


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