O futebol é fascinante porque coloca à disposição do olhar dos torcedores uma variedade de situações que desafiam a natureza da condição humana. Na grande vitória do Uruguai sobre a Inglaterra, quinta-feira, na Arena do Corinthians, um centroavante comandou a festa com a sua extraordinária capacidade de artilheiro.

Luis Suárez roubou a festa, resgatando o orgulho do futebol uruguaio, seriamente abalado com a derrota na estreia diante da Costa Rica. Mas houve um momento do jogo, pouco destacado, que mexeu com os meus sentimentos de amante do futebol em todas as suas dimensões humanas e, às vezes, sobre-humanas. Sinto-me na obrigação moral de valorizá-lo.

Outro Herói
Foi quando o lateral esquerdo Álvaro Pereira, que joga no São Paulo, caiu no gramado, aparentemente desacordado. Logo em seguida, ele recebeu do médico que o atendeu a informação de que deveria ser substituído. Já na beira do gramado, o jogador se insurgiu contra a decisão do médico, com uma bravura de leão ferido e não aceitou de forma alguma sua substituição.

Continuou atuando no estilo guerreiro dos uruguaios, ajudando até o final do jogo a Celeste consolidar a vitória no confronto com a Inglaterra. Poucas vezes se vê um fato tão edificante como esse no futebol profissional.

Álvaro Pereira não quis nem saber se arriscava uma contusão mais séria com a sua teimosia, sua insistência em continuar jogando. Pensou, acima de tudo, no significado da vitória para o seu país e na tradição da camisa que veste. Foi tão herói no jogo quanto Luis Suárez, que fez balançar duas vezes as redes dos ingleses.