Ninguém diz isso, ninguém admite, mas hoje eu vou falar: é brutal a vida do secador, gente.

Na quarta-feira (26), por exemplo, foi um dia triste. Você vê a gurizada no supermercado enchendo os carrinhos de cerveja, e você com aquela água com gás, porque precisa dormir cedo e acordar cedo. "Onde vai ver o jogo?", me pergunta um. "Em casa", respondo com um muxoxo.

Nas conversas do trabalho, não se falava em outro assunto. Suárez joga? Será que eles vão com time completo? Ingresso sobrando eu compro. E eu tentando focar no café e nas entregas.

Ao sair da empresa, pego um ônibus lotado que, lamentavelmente, faz caminho para a Arena. Antes de pegar, me olho para ver se não tem algo de vermelho que possa ser detectado. Pois tenho: o chaveiro, aquele de tiozão, com abridor de latas, e um brilhante distintivo do Internacional. Não deu outra: escondi o chaveiro no lugar mais oculto possível da mochila, sem ter nenhuma chance de cair por engano. 

Seria pior se morasse no Humaitá ou na Farrapos. Ali, a tristeza teria o cheiro do churrasco que eu não poderia comer, dos gritos que eu não poderia dar, dos sinalizadores que eu não poderia acender. O pior de tudo é pensar que era só De Pena não chutar aquele pênalti com as duas pernas. Não custava muito. 

Mas, gremistas, me aguardem. A Libertadores está logo ali, e a vez de ver no sofá será de vocês. 

E o Inter?

Vai bem, obrigado. Parece que Enner Valencia vai descansar, que Bruno Henrique poderá jogar e que Coudet vai poder vestir o cachecol, pois faz frio e o pescoço precisa estar bem aquecido. 

Estou otimista? Bem, o otimismo é uma das melhores formas de alienação.