Existe algum clube mais democrático, no Brasil, do que o Internacional? Se existe, me apresentem. No Inter, além de todo sócio ter o direito de votar, se criou uma cultura de participação que faz com que debates intrincados e cheios de tecnicismos, como o das ligas, tenham criado força entre os torcedores. 

Um amigo paulista me perguntou, no início dos debates, por que a torcida colorada estava tão em chamas com um tema que, aparentemente, era restrito a nerds de finanças do futebol. Respondi e ele seguiu sem entender. De fato, a escolha entre Libra e LFF não era simples — precisava de um embasamento que nem todos os torcedores tinham, e poucos conselheiros dominavam.

Entretanto, esse debate se tornou mais um daqueles que faz do Inter um clube tão rico na sua história democrática. Sócios de todos os matizes políticos e classes sociais participaram, opinaram e influenciaram na decisão do Conselho.

É claro que houve excessos. Ofensas, agressões e ameaças não fazem parte da democracia: são delitos e, como tal, devem ser enfrentados. Mas essa riqueza é algo que não pode se perder. Em breve, o Inter terá um encontro com uma curva da história: vamos ou não virar SAF? Tenho minha opinião e uma convicção: a torcida precisa continuar dona do clube em qualquer tempo e com qualquer CNPJ.

Correção

Obrigado aos amigos que me alertaram: Dirceu Alves estreou, na verdade, em 1928. A questão de ter sido o primeiro negro a jogar com a camisa do Inter é controversa, porque há registros de homens negros que vestiram a camisa vermelha antes, como Alcides Ortiz, um dos fundadores do clube. 

O nome de Dirceu Alves surge, entretanto, porque ele não era sócio do Inter, e sim um jogador contratado de um clube que pertencia à Associação dos Amadores de Football, uma das Ligas das Canelas Pretas. É uma história muito interessante que, em algum momento, eu pretendo aprofundar aqui.