Lá e cá
Em jogo eletrizante, Inter e Fluminense empatam no Maracanã pela semi da Libertadores
Quem vencer o jogo de volta, quarta-feira da semana que vem (4), avança para a final
Uma semifinal do tamanho do Maracanã. Com as reviravoltas que um jogo assim autoriza. Com festa. Com tensão. Com expulsão. Com gols, inclusive anulado. O estádio mais charmoso do Brasil viu uma partida à altura da semifinal da Libertadores. Fluminense e Inter ficaram no 2 a 2 (dois gols de Cano para os donos da casa, Alan Patrick e Mallo para os visitantes), diante de mais de 67 mil pessoas, sendo 4 mil colorados. Com o resultado, o confronto na quarta-feira que vem (4), no Beira-Rio, premiará com uma vaga à decisão quem vencer. Se der empate, a disputa irá para os pênaltis. Fica um gostinho amargo para os comandados de Eduardo Coudet, que jogaram todo o segundo tempo com um jogador a mais.
Coudet não fugiu do que havia treinado durante a semana. Hugo Mallo, um jogador mais defensivo, para conter o que já imaginava preparar Fernando Diniz. O técnico do Flu e da Seleção montou a equipe com apenas um volante, André, e dali por diante, Ganso, Arias, John Kennedy, Keno e Cano, deixando Alexsander no banco. Para manter o meio colorado com Johnny e Aránguiz mais Mauricio e Wanderson, seria preciso controlar um pouco mais a linha de defesa.
Antes de a bola rolar, a torcida do Fluminense fez um mosaico e acendeu sinalizadores. Os colorados precisavam responder no gogó, já que um acordo entre os clubes só permitiu instrumentos dos mandantes. Do lado de fora do Maracanã, fogos de artifício anunciaram a decisão.
Os primeiros minutos deram a intensidade que o jogo pedia. Era lá e cá. Aos nove, o Inter saiu da pressão do Flu no campo de defesa. Alan Patrick passou para Renê, que encontrou Valencia. Na área, o equatoriano ajeitou e encheu o pé. Fábio fez um milagre.
Era lá e cá. E o lá do Fluminense foi mais efetivo. O mesmo Renê que tinha criado a chance no lance anterior, desta vez, errou. Arias avançou pela direita, em quatro contra três. Ele achou John Kennedy, que só rolou para Cano vencer Rochet: 1 a 0, explosão no Maracanã, aos 10 minutos.
Seria preciso conter o ambiente. O estádio pulsava, o Flu aumentava o ritmo, e o Inter tentava segurar a onda. Valencia, em uma escapada, até fez um gol, mas estava muito impedido. Aos 20, Rochet impediu o segundo gol. Keno tabelou com Cano, recebeu na frente, entre Mallo e Vitão, e bateu para grande defesa do goleiro.
As chances apareciam para o Inter, principalmente quando recuperava a bola no meio do campo. Aos 24, ela veio. Valencia pegou a sobra e arrancou. Alan Patrick entrou pedindo, e recebeu. Na área, seu chute, de pé esquerdo, foi fraco e Fábio defendeu firme. No minuto seguinte, não teve atenuante: Alan Patrick passou para Wanderson no tempo certo, às costas de Samuel Xavier. O camisa 11 tentou encobrir o goleiro, que saía rastejando. Com reflexo, porém, o jogador de 42 anos teve agilidade para salvar.
O Inter perdia oportunidades demais para um semifinalista. Aos 34, Valencia pressionou Nino quase na área, pela esquerda, forçando o erro entre ele e Felipe Melo. A bola ficou com o equatoriano. Talvez sem ângulo para arrematar, ele tentou passar para Wanderson, mas deu fraco demais e a defesa recuperou.
Inter tem a faca e o queijo na mão para se garantir na final
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A superioridade do Inter àquela altura era clara. E ela se transformou em números. Não no placar, mas em jogadores em campo. Aos 45 minutos, Samuel Xavier, que já tinha cartão amarelo por falta forte em Valencia, fez mais uma. Cartão vermelho.
Na última bola do primeiro tempo, essa superioridade saiu do campo e foi para o placar. Aos 49 minutos, o futebol apresentou uma chance de volta por cima. Renê, que havia falhado no gol do Fluminense, acertou um cruzamento na medida. Hugo Mallo apareceu como elemento surpresa, às costas de Marcelo, e venceu Fábio com uma cabeçada letal. No campo, o bandeira anulou. No VAR, a correção: 1 a 1.
Poderia ser maior para o Inter, mas uma vantagem nunca pode ser desprezada
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Os dois times voltaram do intervalo com alteração. No Inter, Rômulo entrou na vaga de Johnny, que já tinha amarelo. No Flu, foram três trocas: o lateral-direito Guga, o zagueiro Marlon e o meia Alexsander foram para o jogo nos lugares de Felipe Melo, Ganso e John Kennedy.
O panorama do começo do segundo tempo foi completamente diferente. Com um a mais, o Inter passou a ter a bola. O Flu fechou os espaços. E nesse cenário, aquele ambientaço de Copa murchou.
A virada chegou a ser comemorada bem cedo. Eram oito minutos de domínio total colorado. Mallo cruzou na área e Mercado completou de cabeça. Depois de toda a festa, porém, o VAR acionou a arbitragem e anulou o gol, a bola tinha raspado na mão de Mercado depois do cabeceio. Na arquibancada, foi como se o Flu tivesse marcado. A torcida, enfim, reagiu.
Renê, que loucura, quase virou protagonista de outra falha. Ele perdeu a bola para Arias, que arrancou e bateu. Mas o chute saiu fraco, Rochet defendeu. Isso poderia aumentar a ebulição, mas o cascudo time colorado não permitiu. Aos 19, Renê roubou a bola no ataque e passou para Mauricio. A assistência foi na medida para Alan Patrick. O capitão teve calma para driblar Marcelo e fuzilar Fábio: Inter 2 a 1.
Após a virada, Coudet mexeu no time. Saiu Aránguiz, entrou Bruno Henrique. O desespero era tanto que a torcida do Flu passou a entoar a música que pede "A bênção de João de Deus", uma referência a João Paulo II. A canção fez parte da épica campanha que livrou o time do rebaixamento de 2009. Era o jeito que a arquibancada achou de ajudar.
Porque o campo dizia outra coisa. E o terceiro ficou na forma aos 24. Rômulo recuperou a bola, Alan Patrick deu de primeira e Valencia arrancou pela esquerda. Mauricio até entrava pelo outro lado, mas era um passe difícil. O equatoriano ficou com a bola e deu tempo para Wanderson chegar. O chute foi defendido por Fábio.
Um duelo gigante entre Inter e Fluminense
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Coudet mexeu mais duas vezes: Alan Patrick e Mauricio deixaram o gramado, entraram Lucca e Dalbert. Mas nessas reviravoltas de um jogão, Renê retomou o posto de vilão da noite. Aos 33, ele tinha a bola controlada e tentou driblar Arias. Perdeu. Escanteio para o Flu. Bola na área, Nino ajeita e Cano, implacável, desvia de Rochet: 2 a 2.
A última troca foi por questões físicas. Vitão, cansado, saiu para a entrada de Igor Gomes. Foi a ação derradeira. No final, a torcida do Flu reconheceu o esforço dos atletas, que superaram a inferioridade numérica e vão vivos para Porto Alegre. E os colorados celebraram porque, afinal, um empate antes do jogo não teria sido mau resultado, certo?
Libertadores — Semifinal (ida) — 27/9/2023
FLUMINENSE (2)
Fábio; Samuel Xavier, Nino, Felipe Melo (Marlon, INT) e Marcelo; André; John Arias, Ganso (Alexsander, INT) e Keno (Lima, 43'/2ºT); John Kennedy (Guga, INT) e Cano.
Técnico: Fernando Diniz
INTER (2)
Rochet; Hugo Mallo, Vitão (Igor Gomes, 39'/2ºT), Mercado e Renê; Johnny (Rômulo, INT), Aránguiz (Bruno Henrique, 20'/2ºT) , Mauricio (Dalbert, 28'/2ºT), Wanderson e Alan Patrick (Lucca, 28'/2ºT); Enner Valencia. Técnico: Eduardo Coudet
GOLS: Cano (F), aos 9min do 1º tempo e aos 32min do 2ºT, e Hugo Mallo (I), aos 50min do 1º tempo; Alan Patrick (I), aos 18min do 2º tempo
CARTÕES AMARELOS: Samuel Xavier e Alexsander (F); Johnny e Lucca (I)
CARTÕES VERMELHOS: Samuel Xavier (F)
ARBITRAGEM: Darío Herrera, auxiliado por Juan Pablo Belatti e Diego Bonfa. VAR: Mauro Vigliano (quarteto argentino)
PÚBLICO: 67.515 (61.454 pagantes)
RENDA: R$ 6.360.582,60
LOCAL: Maracanã, no Rio de Janeiro