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Seleção Brasileira com a benção de um Rei
Falcão analisa jogadas da equipe de Mano Menezes e afirma que já começa a enxergar um grupo

Ter a benção de um rei não é para qualquer um. E no que depender do Rei de Roma, a estratégia de preparação da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 2014 está no rumo certo. Em entrevista exclusiva do Diário Gaúcho, o ex-técnico da Esquadra Canarinha, Paulo Roberto Falcão, comentou as recentes goleadas da equipe de Mano Menezes - 4 a 0 no Japão, 6 a 0 no Iraque e 8 a 0 na China - e disse que já começa a enxergar no grupo de selecionados um time.
Ídolo colorado, Falcão também fez uma avaliação do Brasileirão, mas se esquivou de comentários mais incisivos sobre a crise no Internacional. Recentemente desligado do Bahia, o técnico revelou ter recebido uma proposta do Palmeiras - não aceita apenas pelo curto período de contrato - e afirmou que não teria problema em trabalhar no clube após um quase certo rebaixamento para a Série B. Confira trechos da entrevista concedida por telefone.
Diário Gaúcho - As últimas goleadas da Seleção enchem o torcedor brasileiro de esperança. Mas ainda existe o pé atrás, pela fragilidade dos adversários. Você concorda com essa escolha?
Falcão - Como é que se vai fazer um jogo com um adversários mais forte se todos estão nas Eliminatórias (para a Copa do Mundo de 2014)? De qualquer maneira, mesmo que a Seleção tivesse possibilidade de jogar contra adversários fortes, acho que tem que escalar, isso é, como o time está ainda em formação, você vai ter que jogar de acordo com os adversários que você possa ganhar, para ir adquirindo confiança. Tem que preparar a Seleção, contra adversários médios e, a medida que se vai acertando, vai jogando com times mais qualificados.
DG - Você acha que o time já atingiu maturidade para enfrentar equipes mais fortes logo adiante?
Falcão - Qual é o problema de enfrentar um adversário muito forte agora? Você perder. E, no momento, não seria bom o Brasil ficar perdendo jogos. Pode criar uma crise. Há pouco tempo, contra a Argentina, a torcida queria a saída do Mano. Para que os jogadores mostrem qualidade, eles têm que ter tranquilidade, que vem através das vitórias. É muito melhor pegar o Japão e ganhar de 4 a 0 do que pegar a Alemanha e perder. Tem que ir aumentando gradativamente (a dificuldade). O time da China é inferior ao Japão. E agora o Brasil vai jogar contra a Colômbia, que é melhor que o Japão. E depois vem a Inglaterra. O caminho está correto.
DG - Seguindo essa trilha, quando a Copa do Mundo chegar, vamos estar preparados?
Falcão - Vamos ter uma boa demonstração na Copa das Confederações. Acredito muito no Mano, como profissional, como pessoa. Torço para ele. É um cara que merece estar onde está, se preparou para isso.
DG - Já dá para ver uma boa equipe na Seleção?
Falcão - Acho que está começando a se encaminhar para ter um time. É diferente de ter uma seleção. Time tem que ser treinado e jogado. Seleção, muitas vezes, é apenas de selecionados. Essa é a diferença entre treinador e selecionador, que só escolhe os jogadores e não treina. Antigamente, com a qualidade que se tinha, que era muito superior a dos outros, às vezes nem precisa treinar. Hoje, como se tem muita pegada, um jogo mais físico, você tem que estar também treinado, não só com os seus melhores.
DG - Mudando de assunto, como você avalia o Brasileirão?
Falcão - Está na média. Tem sido um campeonato do contra-ataque. Quando digo isso, não estou criticando, é a característica do torneio. Os times lá de cima, por exemplo: o Grêmio um pouco menos, mas o Fluminense e o Atlético-MG se fecham bem e têm jogadores de muita velocidade na saída. O Flu tem uma marcação forte atrás e quando saem na frente o adversário fica à mercê, porque tem o Tiago Neves que é rápido, o Welington Nem que é muito driblador, o Deco que prepara e o Fred que concluiu. Aqui no Brasil, às vezes se fala que "ganhou porque contra-atacou", como se fosse nome feio.
DG - Você tem alguma aposta para o G4?
Falcão - O São Paulo está crescendo muito, tem um time de muita velocidade, com Lucas, (Luis) Fabiano, que é extraordinário dentro da área. E o calendário é favorável.
DG - Tem como apontar uma revelação do campeonato?
Falcão - Talvez o Bernardo, do Atlético-MG, é um jogador que não tinha tanto nome e está muito bem. Mas não dá para apontar um só.
DG - E um craque?
Falcão - O Neymar ficou prejudicado (pelas convocações da Seleção). Mas é o nosso craque. O Fred está fazendo um campeonato maravilhoso. O Lucas está bem no São Paulo. No Fluminense, o Wellington Nem faz a diferença.
DG - Qual o segredo do sucesso do Grêmio?
Falcão - Jogadores como Elano e Zé Roberto dão peso ao meio-campo. Defensivamente, o Gilberto Silva, é um jogador que dá peso ao vestiário. O próprio Kleber. São jogadores rodados, que não se assustam em jogar fora ou em casa. Isso deu ao Grêmio, que tem se caracterizado por uma marcação forte e uma boa jogada aérea, além da qualidade de arremate do Elano, um time maduro.
DG - Por outro lado, o Inter está vivendo uma situação complicada. Qual a causa dessa crise?
Falcão - Falar do Internacional é difícil, porque eu trabalhei lá há pouco tempo. É claro que eu tenho a noção do que acontece, do porquê das coisas. Mas nesse caso, me reservaria de dar uma opinião.
DG - E para 2013, o que é importante para o Colorado fazer um campeonato diferente?
Falcão - Pois é, eu não gostaria de falar muito do Inter. Por respeito ao grupo que está lá, ao pessoal que trabalhou comigo, não seria ético fazer algum comentário.
DG - Mas você torce para o que Inter saia dessa situação?
Falcão - O que é o torcer pra ti? Tem muita gente com quem eu trabalhei lá que foi importante no meu período, é evidente que eu queria que eles estivessem em uma situação bem melhor.
DG - Há pouco você esteve em Roma para receber uma homenagem. O que você ouviu sobre o zagueiro Juan, agora no Inter?
Falcão - Não houve nenhum tipo de comentário. Conversei rapidinho com o Totti, que queria me dar um abraço, o resto não deu.
DG - Mas você acredita que Juan ainda pode vir a apresentar um bom futebol no Inter?
Falcão - Olha, tu estás fazendo perguntas meio difíceis de responder. Não convivo lá, não sei como eles estão, tomara que ele possa, sempre foi um jogador importante nos clubes que passou. É complicado opinar alguma coisa sobre o Internacional no momento, embora, evidente, eu tenha minha opinião. Mas não gostaria de externar publicamente.
DG - E o que você está preparando para o futuro?
Falcão - Vou continuar treinador. Tive um convite recente do Palmeiras. Eu queria um contrato de um ano e três meses, mas eles não podiam fazer porque em janeiro tem eleição. Resolvi não aceitar para ficar só dois meses e meio. Mas fiquei muito feliz pelo convite porque o Palmeiras é um time que está na Libertadores do ano que vem e tem muita história.
DG - Não teria problema ir com o time para a Série B, então?
Falcão - A minha colocação para o Palmeiras foi o seguinte: quero estar no Palmeiras independente de onde o Palmeiras esteja, mas pra isso eu precisaria de um contrato maior.
DG - Você está trabalhando alguma outra proposta?
Falcão - Talvez eu viaje para Europa, conversar com os treinadores lá. É um intercâmbio que já fiz ano passado. Quando sai do Bahia recebi duas, três propostas, mas entendi que não eram do perfil que eu gostaria.
DG - Tem palpite para a final do Mundial entre Corinthians e Chelsea?
Falcão - É um jogo muito igual. Se fosse contra o Barcelona, seria bem mais complicado por ser um time de toque. O Corinthians encaixa bem na marcação do Chelsea e tem chance de ganhar. Mas não pode esquecer que tem semifinal ainda. Todo time corre o risco.