Fim de jogo
O último domingo de futebol no Estádio do Cruzeiro
Mais uma parte da memória esportiva de Porto Alegre dará adeus à paisagem da cidade neste final de semana
Mais uma parte da memória esportiva de Porto Alegre dará adeus à paisagem da cidade neste final de semana. Depois dos Eucaliptos, demolido em fevereiro, e do Olímpico, fechado para o futebol com o Gre-Nal de 2 de dezembro, chegou a vez do Estrelão.
Casa do Cruzeiro desde 1977, o estádio ganhará sua festa de despedida neste domingo. Depois, virará apenas um quadro na memória dos cruzeiristas e de outros apaixonados pelo futebol. No terreno, uma construtora erguerá prédios residenciais do projeto Minha Casa, Minha Vida.
O Estrelão repete a trajetória de outros tantos estádios que hoje quase ninguém sabe que existiram. Por isso, o Diário Gaúcho tenta resgatar do passado pedaços dessas histórias. São de uma época em que ser jogador não era futuro para um jovem. Um período em que as "famílias de bem" achavam que jogar bola era para "gente bagaceira", como lembrou o ex-jogador Sérgio Bechelli, um dos personagens da reportagem, antes de arrematar:
- São lembranças de um tempo que permanece no coração e ajudam a reconstruir um pedaço da história.
Estrelão
Depois do Gre-Nal de despedida do Olímpico, no último dia 2, e da demolição dos Eucaliptos, em fevereiro, Porto Alegre dará adeus a mais um estádio neste domingo. A partir das 10h, o Esporte Clube Cruzeiro passará seu último dia no Estrelão, sua casa por 35 anos.
Na verdade, o Estrelão era para ser apenas um dos campos de treino do Cruzeiro. Quem conta é o professor aposentado Fernando Carvalho, 69 anos, torcedor do Estrelado:
- O Estrelão, na verdade, é o Estrelinha. O Estrelão mesmo era para ser mais no fundo (do terreno). Mas faltou dinheiro.
Na sexta-feira, Silvio Cruz, 60 anos, zelador do estádio, preparava o gramado para o festival de despedida. Haverá jogos com as categorias de base e uma homenagem a ex-atletas do clube. Por fim, às 17h, uma partida entre o Cruzeiro e um combinado de jogadores gaúchos.
No próximo ano, o Cruzeiro completa cem anos e deverá inaugurar o seu novo estádio em Cachoeirinha. A área do Estrelão dará lugar a um condomínio residencial de casas e prédios.
- A festa de despedida do Estrelão começa às 10h de domingo, com jogos das categorias de base. O jogo principal será às 17h. A entrada é franca.
O terreno onde hoje fica o Estrelão, na Protásio Alves, próximo à Manoel Elias, Bairro Protásio Alves, passou para o Cruzeiro em 1971, como parte da venda da Montanha. Inaugurado em 1977, foi a quarta casa do Cruzeiro.
Timbaúva
O Estádio Timbaúva era a casa do Força e Luz, time ligado aos eletricitários. Lá foi instalado o famoso pavilhão que o Grêmio deu, como complemento aos Cr$ 50 mil pagos pelo passe do zagueiro Airton, em 1954.
Depois que o time abandonou o futebol profissional, em 1972, o campo da Rua Alcides Cruz, Bairro Santa Cecília, passou a ser usado em campeonatos amadores. Em 2006, o Zaffari comprou o terreno. Ali, deverá ser erguido um centro comercial e um edifício comercial.
Construído em 1934, foi considerado por muito tempo o melhor gramado da cidade. O estádio costumava abrigar jogos do Força e Luz e também da dupla Gre-Nal e recebeu até partida da Seleção Brasileira.
Eucaliptos
O estádio que foi a casa do Rolo Compressor do Inter - time que ganhou tudo entre 1940 a 1948 -, que teve em seus gramados craques como Larry Pinto e Tesourinha, já não faz parte da paisagem do Bairro Menino Deus. Em fevereiro deste ano, o Eucaliptos foi demolido para dar lugar a um condomínio de prédios e uma praça, que será a única lembrança da segunda casa colorada.
Inaugurado em 1931, o estádio recebeu o nome devido aos eucaliptos que cercavam o terreno. Tinha capacidade para 10 mil pessoas. Para a Copa do Mundo de 1950, foi ampliado para 30 mil pessoas.
Montanha
- Aqui, de noite, tem jogo - brinca o professor aposentado Fernando Carvalho, 69 anos, ao lado dos também cruzeiristas Juarez Gonçalves, 62 anos, e Adauto de Oliveira, 52 anos, ambos funcionários públicos aposentados.
A alusão às partidas noturnas se deve aos tantos torcedores e ex-jogadores do Cruzeiro mortos que fizeram questão de ser enterrados no Cemitério João XXIII. Era nesse terreno, no encontro das avenidas Porto Alegre e Natal, no Bairro Medianeira, que ficava, entre 1941 e 1970, o Estádio da Montanha. Com capacidade para 20 mil pessoas, estava encravado em meio aos cemitérios, por isso o apelido: Colina Melancólica.
As escadas do pavilhão social ainda estão no mesmo lugar. Mas dão acesso aos túmulos do João XXIII. E quem caminhar até os fundos do cemitério encontrará parte das arquibancadas de um estádio pioneiro no Estado.
- Foi o primeiro a ter um túnel de acesso aos gramados e a ter goleiras de trave redondas - conta Fernando.
Erguido entre 1939 e 1941, chegou a ser o maior da Capital. No último jogo, o Cruzeiro venceu o Liverpool, do Uruguai, por 3 a 2, em 8 de novembro de 1970. Muitos torcedores deixaram o local chorando.
Olímpico
Em março, o Olímpico ainda terá seu último show, uma apresentação de artistas gaúchos. Mas o futebol se despediu da segunda casa do Grêmio no dia 2 de dezembro, no Gre-Nal da última rodada do Brasileirão.
A área do Olímpico, fundado em 1954 e ampliado no começo dos anos 80, foi trocada pela Arena, no Bairro Humaitá, com a OAS. O estádio sairá da paisagem de Porto Alegre em abril do ano que vem. A construtora irá implodi-lo para erguer ali shopping, condomínio residencial e prédios comerciais.
Fundado em 1954, inicialmente tinha apenas o anel inferior e parte da superior. No começo dos anos 80, o estádio foi ampliado e passou a se chamar Olímpico Monumental. Fica no Bairro Azenha.