26 de abril
Dia do maior estraga prazeres do futebol: o goleiro
Hoje, dia do aniversário do lendário Manga, homenageia a posição mais difícil
Não é à toa que, nas peladas, é a posição mais difícil de se encontrar um candidato. Nem grama nasce onde ele joga. Há quem diga que goleiro só é goleiro por falta de habilidade com os pés. Para aqueles que acreditam se tratarem de atletas marginalizados, praticamente uma profissão à parte de jogadores de futebol, dois fatos corroboram essa ideia:
1 - Só a posição tem um técnico especializado.
2 - Só eles têm um dia especial no calendário. E é hoje. Ou você já ouviu falar em dia do centroavante, dia do volante ou dia do zagueiro?
Últimos a sair dos treinos
Solitário, líder, herói, vilão. São muitas as palavras antagônicas que podem definir a trajetória de um goleiro. O problema é que elas nunca são duradouras, mudam na mesma velocidade de uma defesa.
E não é por falta de trabalho. Bem pelo contrário. Os arqueiros são os primeiros a chegar nos treinos e os últimos a sair, sempre com uma intensidade de exercícios de dar inveja a qualquer maratonista.
O mais alto foi para o gol
Mas, diante de tantas agruras, por que eles escolhem vestir a camisa 1? Alguns foram por esse caminho por circunstâncias da vida. Ou das peladas, melhor dizendo.
É o caso do multicampeão Clemer. O ex-goleiro do Inter, que já pendurou as luvas e hoje é treinador do time juvenil do clube, jura que era um centroavante goleador na infância, em São Luiz, no Maranhão. A altura, porém, fez os amigos empurrá-lo para o gol. Foi quando um olheiro do Moto Club o viu jogando e fez o convite para levar mais a sério a profissão.
- Graças a Deus que não fui centroavante e fui para o gol. Goleiro não é uma posição. É uma profissão. Esse dia veio por merecer. Fico feliz. Até hoje recebo mensagens de amigos e familiares pelo dia do goleiro - conta o técnico, que parou de jogar com 40 anos.
Melhor com as mãos
Há outros casos, porém, em que a camisa 1 sempre vestiu melhor. Mal tinha aprendido a caminhar e Marcelo Grohe, goleiro do Grêmio, já jogava na posição nas brincadeiras com os amigos. Quando entrou na escolinha, aos dez anos, foi direto para baixo das traves.
- Nunca tive a intenção de ser um jogador de linha. É verdade que eu não tinha muita habilidade com os pés, mas sempre gostei de ser goleiro - relembra.
Haja fôlego
Quem acompanha os treinos surpreende-se com a intensidade do trabalho dos goleiros. Além de, muitas vezes, treinarem por mais tempo, a rotina é bem puxada. A explicação vem do veterano Clemer, que, logo depois de se aposentar, trabalhou um ano como treinador de goleiros do Inter:
- Têm algumas partidas em que você é menos exigido, por isso, os treinos são importantes para condicionar. É preciso trabalhar também o psicológico. O goleiro não pode se abater com um erro. Os companheiros precisam sentir confiança.
Há quem afirme que, se o goleiro fecha o gol, não faz mais do que a obrigação. Até por isso, os erros são mais marcantes.
- Às vezes temos uma ou duas bolas para fazer a diferença. Goleiro é uma posição isolada. Em um erro, acaba sendo gol. Temos que procurar sempre a perfeição. O céu e o inferno são muito próximos - garante Marcelo Grohe.
Família de luvas
Não bastasse um, os dois filhos de José Agostinho Becker escolheram o gol como profissão. E muito por sua causa. Foi por observar o pai atuando de luvas nas peladas que Muriel e Alisson, goleiros do Inter, tomaram gosto pela posição.
- Gostava de jogar na linha. Mas, como era mais novo do grupo, sobrava o gol para mim - recorda Muriel, 26 anos, titular da camisa 1 colorada.
Quando foi ao treino de um amigo, uma confusão com o goleiro deixou o time desfalcado. Foi aí que Muriel colocou as luvas e não tirou mais:
- Lembro que, quando cheguei em casa, disse para o pai que queria conversar e falei que seria goleiro.
Mas na hora de o caçula seguir o mesmo caminho, Muriel sugeriu que fosse volante. A tentativa, entretanto, não durou dois treinos. Alisson chamou a atenção da comissão técnica do Inter quando foram atrás de Muriel, em casa.
- Eu gosto de estragar a alegria dos outros, que é o gol - afirma Alisson, 20, com a euforia de quem está começando.
Por que da data?
O Dia do Goleiro é comemorado em homenagem a Aílton Corrêa Arruda, o Manga, nascido em 26 de abril de 1937. Ainda hoje considerado um dos melhores goleiros da história, Manga começou no Sport, depois passou por Botafogo, Nacional/Uru, Inter, Coritiba, Grêmio, Operário-MS e Barcelona/Equ, encerrando sua carreira em 1982. A data foi oficializada em 1976, quando Manga era campeão brasileiro pelo Inter. No final daquele ano, ele e o time chegaram ao bi brasileiro.