GRE-NAL
O Humaitá recebe o Gre-Nal em paz
O Grêmio, de casa nova, agora no Bairro Humaitá, recebe pela primeira vez o Inter

O Gre-Nal chega à edição 397. Mas é como se não existisse passado e fosse o primeiro. E é. O histórico centenário do clássico, neste domingo, ganha mais um capítulo e um novo endereço: o da Zona Norte da Capital.
Na semana em que se cogitou de clássico com torcida única na Arena, os vizinhos deram o exemplo. Enquanto autoridades, dirigentes e sociólogos discutiam os caminhhos que levaram ao limite da intolerância a rivalidade Gre-Nal, os moradores do entorno da Arena mostraram que é possível conviver com o rival de forma sadia e, melhor do que isso, de forma divertida e respeitosa.
O exemplo de civilidade dos vizinhos
Mauro Yanzer, 45 anos, prova que é possível gremistas e colorados conviverem em paz. Contraria a posição defendida pela Brigada Militar na terça-feira, de que a prudência convidava à torcida única, pela primeira vez, no Gre-Nal - o que, felizmente, foi revisto no dia seguinte. Mas se há um vermelho e um azul juntos, certamente, existirá a corneta entre os dois. E o caso de Mauro não foge à regra. Nem bem a visita havia entrado na sua casa, no Bairro Humaitá, e as brincadeiras já começaram:
- Não dá para discutir futebol com Mauro. Ele quer misturar esporte e religião, fica achando que tem poder de ressuscitar mortos. Isso é só coisa de Jesus Cristo - provoca o gremista Marcos Monteiro, 51 anos, referindo-se aos 3 a 0 levados pelo Inter do lanterna Náutico, no último domingo.
Como quem diz o que quer ouve o que não quer, Mauro retrucou.
- Lembra do último Gre-Nal que vimos, nesta mesma época? Foi 1 a 0 para o Inter, gol de D'Alessandro.
Com cara de deboche, o amigo desconversa:
- Não, não lembro.
Domingo, reunião na casa gremista
Microempresários, Mauro e Marcos verão o clássico lado a lado no Humaitá. Só que no sofá, pela tevê. Aqueles Gre-Nais na arquibancada, em que metade do estádio era reservada ao visitante, agora, só na memória dos amigos. Além do mais, ficou bem mais salgado o ingresso na era das Arenas.
- Era lindo de ver. O ponto é que educação é fundamental. É saber o limite da brincadeira e pronto - diz Marcos, dando a receita para manter a amizade de mais de quatro décadas com o gremista Marcos.
Mauro, porém, tem um probleminha a mais do que Marcos, chefe de família inteira gremista: uma corneta caseira. Um dos seus filhos se desgarrou para o lado azul. O piloto Ariel Cristo de Souza, 23 anos, é gremistão. O irmão, o estudante Abner, 20 anos, coloradaço. Mas o coração do pai e da mãe, Sandra Yanzer, 49 anos, perdoa tudo. No domingo, vibrarão todos assistirão ao clássico juntos. Sabem onde?
- Na minha casa, né? Eles na sala. Eu, no quarto - brinca o gremista Marcos.
Alegria e respeito aos torcedores
Assim como o amigo, ele é vizinho da Arena e espera uma vitória do Tricolor com gol de Barcos.
Mauro não deixa por menos:
- Ser 3 a 1 para o Inter. Pode esperar.
Todos riram, numa rivalidade sadia. Como deve ser sempre.
O colorado que escuta a Arena
Quando Dunga anunciar o time que entrará em campo neste domingo, Jefferson Ricardo da Silva, 28 anos, estará com sua camiseta do Inter de 1997. Mas só saberá a ordem com a qual seu time pisará no gramado da Arena se houver pilhas no seu rádio portátil.
O pulsar da torcida, porém, o morador da Vila Liberdade ouvirá bem. Ele é um dos centenas de colorados que estarão tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe da Arena. Assim como a nova casa gremista, Jefferson viverá um Gre-Nal pela primeira vez - ele, dos fundos de casa, no Acesso B6, com vista para o estádio.
- Os ingressos são muito caros. Não tem nem como cogitar de ir - lamenta Jefferson, que vive de bicos para sustentar os dois filhos e a mulher, Karina Ferro da Silveira, 24 anos.
O clima na sua região, na quarta-feira, parecia antecipar o domingo. Eram dezenas de gremistas e apenas três colorados a exibir a paixão pelo vermelho.
Macacão da OAS para ir à Arena
Jefferson explica com um sorriso amarelo:
- Levar três do Náutico é brabo, né?
O colorado precisa puxar na memória seu último Gre-Nal numa arquibancada. Se as contas não falham, foi em 2000, no Beira-Rio. Ele se diverte ao responder qual havia sido o último estádio em que entrou:
- Foi na Arena, na inauguração. Vesti o macacão da construtora OAS de um conhecido e fui até o gramado. Vai saber quando isso acontecerá de novo...
Balcão sem rivalidade
José Arantides de Oliveira Paz, 67 anos, é colorado de quatro costados. Nem a fachada do seu bar na Avenida A.J. Renner, pintada de tricolor como quase todos, por uma cervejaria, o fez mudar.
Uma vitória do Inter cairia bem para Seu Zé, como é conhecido. Mas ele se contenta com o empate, que agradaria grande parte da clientela. Como bom comerciante, é bom pensar na caixa registradora.
- Recebemos gremistas e colorados aqui. Sempre escutamos o jogo e nunca deu problema. Olha que todos sabem para qual time torço - brinca o morador do Humaitá, dono do ponto há seis anos.
Para agradar a todos, Seu Zé usa uma regata por baixo da camisa branca. Ela é dividida ao meio, azul e branco na parte de cima, vermelho na de baixo. Bem imparcial. Como o empate no clássico 397 com o qual ele sonha. Para que o primeiro clássico no Humaitá tenha alguma festa para os novos (e tricolores) donos do bairro.
Primeiro Gre-Nal na região. O que mudou?
- A impressão de que eu tive é que os colorados foram embora daqui e mais gremistas se mudaram para cá. Que bom, né?
Alexandra Segato, 22 anos, manicure
- Pela primeira vez, vou estender a minha bandeira do Inter na frente de casa. O primeiro Gre-Nal aqui nos dará essa oportunidade.
Susana Cernichiaro, 48 anos, vendedora
- Durante a semana, aqui é relativamente tranquilo. Mas o final de semana... E no domingo não será diferente. Vai começar a função às 9h e só termina no fim do dia.
Luís Otávio Couto, 19 anos, vendedor
Bastidores do Grêmio: Pirata está em crise
Mais do que a chance de começar a história dos Gre-Nais na Arena com vitória, o clássico representa a busca da redenção de Barcos. Trazido como a cereja do bolo gremista para 2013 e para ser goleador e referência na Libertadores, o Pirata escasseou a produção. Começou com a meta de 28 gols. Mas até agora, soma cinco - média de um por mês. Fez contra o Atlético-PR, dia 6 de julho, e encerrou período de 70 dias sem marcar.
Além de ver seu centroavante com dificuldades e sem contar com Zé Roberto e Vargas, lesionados, Renato pediu aos torcedores que forem à Arena para apoiar o time, sem restrições.
- Peço a compreensão ao torcedor, que apoie não só o Barcos, mas toda a equipe - convocou o técnico.
Para recuperar a confiança, Barcos revela que está em constante terapia. Usa desde o bate-papo com os companheiros até as conversas com o travesseiro antes de dormir. O argentino observa que a bola tem chegado menos redonda para as finalizações dos atacantes. Mas em seguida ressalva que isso está longe de ser desculpa. Ele admite a má fase.
- Tenho falado com meu travesseiro, com o grupo, com a minha mulher - diz o argentino. - É um conjunto de coisas, não atravesso meu melhor momento, mas estou consciente, tenho que melhorar. Faço autocrítica e espero melhorar.
Renato: "O Inter é o favorito"
O técnico do Grêmio minimizou o fato de o Gre-Nal de domingo ser histórico, por ser o primeiro da Arena. Para ele, seja qual for o local, haverá sempre motivação e transpiração das duas equipes. Questionado se havia favorito, usou o discurso surrado de que os dois entravam com 50% de chances e jogou a responsabilidade no colo do rival, por achá-lo mais equipado:
- Não tem favorito, um pode estar melhor do que o outro, seja onde for. Hoje, se tivesse que apontar um favorito seria o Inter, pelo grupo que tem.
Neste sábado, a partir das 9h, ele faz o último treino. Será na Arena, com portões fechados.
Perde o sono e escala o time
Na sexta-feira, na Arena, Renato revelou que a montagem do time o fez perder o sono. Restou pensar nas alternativas e esboçar a equipe, que deve ter Maxi Rodríguez no lugar de Zé Roberto. Adriano ficou de fora do trabalho, mas estará à disposição. Com Souza, de volta depois de tratar das dores pubianas, e Riveros, ele é alternativa para a frente da área.
- Não perco o sono porque é Gre-Nal, mas porque são vários problemas. Em São Paulo (antes de pegar o Corinthians), também não tinha dormido direito. A maioria dos técnicos é assim - resignou-se Renato.
VARGAS PEGA QUATRO JOGOS
Custou caro a Vargas a agressão ao volante Amaral, do Criciúma. O chileno foi julgado ontem no STJD e pegou quatro jogos de suspensão - um já cumprido, na automática. Como sofreu lesão no tornozelo e deve parar por dez dias, ele cumprirá esses três jogos restantes no departamento médico. Caso tenha recuperação rápida, também não poderia jogar pelo Grêmio. Convocado pela seleção chilena, ele já desfalcaria o time contra Bahia, dia 11, e Cruzeiro, dia 14. O volante Matheus Biteco, expulso também contra o Criciúma, pegou um jogo e está liberado para o Gre-Nal.
Bastidores do Inter: Índio é o segredo
O Inter escolheu o silêncio e a tranquilidade de um resort em Viamão para passar as últimas 46 horas antes do clássico. Para ajudar no mistério da equipe que será montada nos dois treinos fechados, o frio, a chuva e a neblina foram parceiras de D'Alessandro e companhia na tarde de sexta.
Beneficiados por clima típico de Serra, ajudado pelo inverno, é que as dúvidas na equipe serão preservadas até momentos antes do Gre-Nal.
Um dos mistérios que o técnico manterá até as 15h15min de domingo, será sobre a presença de Índio na zaga. Segundo Dunga, o zagueiro participou do treino de sexta, mas ainda será reavaliado neste sábado, também com portões fechados.
Ainda que o Inter esteja à frente do rival na tabela do Brasileirão, Dunga acredita que chegam iguais ao jogo:
- Não tem favorito no Gre-Nal, tem a rivalidade. Dependerá muito da questão psicológica de cada equipe. Um dia ou outro, o Grêmio teria que jogar a primeira contra o Inter na Arena. Mas o que levo em conta são os três pontos em jogo. Temos que vencer.
O retrospecto de Dunga em Gre-Nais como técnico é favorável. Venceu os dois disputados neste ano - ambos contra reservas do Grêmio. O Inter segue concentrado no Hotel Vila Ventura. Só sairá de lá às 14h de domingo, quando se iniciará o deslocamento até a Arena.
Scocco e Alex ficam no banco
A tendência é de que Dunga mande a seguinte equipe a campo na Arena: Muriel; Ednei, Índio, Juan e Kleber; Willians, Josimar, Jorge Henrique e D'Alessandro; Diego Forlán e Leandro Damião. Mas a dúvida em relação a Ronaldo Alves ou Índio será mantida para apimentar o mistério.
No banco, o técnico pode ter Agenor, Jackson, Ronaldo Alves, Airton, Fabrício, Alan Patrick, Vitor Júnior, Alex, Scocco, Rafael Moura e Caio.
Dunga defende a Brigada Militar
Perguntado sobre a possibilidade de o clássico da Arena ser com apenas uma torcida, o que quase se confirmou durante a semana, Dunga partiu em defesa da Brigada Militar.
- Precisamos obedecer às autoridades. Nós criticamos muito os policiais, mas eles se colocam em dificuldades. Não são remunerados como deveriam, são agredidos, e nós os criticamos, dizemos que devem ser preparados. E se fosse ao contrário? Se nós fôssemos agredidos e cuspidos?
Dátolo no Vasco
Sem espaço no Inter, Dátolo pode parar no Vasco. A direção do clube carioca confirmou ao DG o interesse no meia e crê em acerto na próxima semana. O argentino seria emprestado até o final do ano. Uma troca por Fellipe Bastos, que esteve acertado com o Inter em janeiro, foi descartada. Quinta-feira, já com seis partidas no Brasileirão, Fellipe ficou de fora contra o Goiás, em Goiânia. Se atuasse, ficaria impedido de jogar por outro time da Série A. Já Dátolo foi liberado no início da semana pelo Inter para ir à Argentina resolver assuntos particulares. Com a chegada de Scocco, ele virou o quarto estrangeiro na hierarquia de Dunga.