Gente como a gente
Ela descobriu o jiu-jítsu levando o filho para a aula e se tornou vice-campeã mundial em menos de dez meses
Conheça Franciele Refiel, 24 anos, que encarou o preconceito e as dificuldades para se tornar uma atleta
O talento de Franciele Refiel, 24 anos, para o jiu-jítsu estava adormecido e só acordou graças à sua curiosidade. Em julho 2014, ela inscreveu seu filho Dexter, com quatro anos na época, para aulas de judô. Enquanto acompanhava o filho, ela notou movimentação no andar superior do prédio de uma academia, no Centro de São Leopoldo.
– Fui bisbilhotar e descobri as aulas de jiu-jítsu. Resolvi começar os treinos e me encantei pela parceria que existe entre os praticantes. Em menos de dois meses, já estava treinando todos os dias e sigo até hoje – conta Fran, que celebrará o Dia Internacional da Mulher fazendo o que mais gosta: no jiu-jítsu.
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É claro que, além do clima de parceria, os rápidos resultados que obteve nas competições colaboraram para consolidar seu amor pela arte marcial. Ela conta que seu principal objetivo era a perda de peso (já queimou 20kg). Não tinha planos de participar de campeonatos. O primeiro foi uma etapa do regional.
– Sou competitiva, ficava preocupada de como reagiria quando perdesse. Mas o meu mestre (Alex Luiz Santos, o Alex Tchaka) me incentivou, e acabei sendo campeã na minha categoria e no absoluto, que engloba todos os pesos – conta Fran.
– A Franciele sempre foi muito dedicada e competitiva, não existiam motivos para não disputar os campeonatos – enaltece Tchaka.
Viagem para os EUA
A partir daí, as vitórias se tornaram rotina na vida da atleta. Essas conquistas a levaram até Long Beach, nos Estados Unidos, onde participou do Campeonato Mundial de Jiu-Jítsu em 2015.
– Consegui a vaga e as passagens após meus títulos aqui no Brasil. Depois, nos mobilizamos para buscar os recursos para hospedagem e outros custos. Foi uma experiência legal, apesar de sofrer um pouco com a alimentação. Ainda assim conseguir ser vice mundial com menos de um ano de treino – orgulha-se a atleta, que também tem uma loja virtual de bijuterias.
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Dexter, hoje com seis anos, foi só a porta para a mãe entrar nas lutas. O guri já trocou os tatames pela bola. E reprova o gosto da mãe. Diz que as artes marciais a deixam longe dele.
– Prefiro futebol agora. É mais fácil – diz o filho da lutadora.
Preconceitos
Apesar de talento e títulos, Fran ainda passa por algumas dificuldades. Como o esporte é predominantemente masculino, quem não é do meio cria ideias erradas sobre mulheres no jiu-jítsu. A lutadora relata preconceito de quem vê de fora. Segundo ela, muitos insinuam que estaria no tatame em busca do contato físico.
– No começo até tinha uma ideia errada. Treino praticamente só com homens e ficava meio constrangida em algumas posições. Mas ao conhecer um pouco, vi que não tem nada, que isso está só na cabeça das pessoas – garante Fran.
A atleta também sofre um pouquinho com os ciúmes do marido. Mas o casal leva na boa:
– Um pouco é normal, né? Mas ele me incentiva muito, está sempre junto de mim.
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* Diário Gaúcho