Entrevista
William Pottker: "Não penso em Seleção. Penso é em ganhar títulos, é isso o que marca o jogador"
Atacante volta ao Inter nesta segunda-feira diante do Brasil-Pel
William Pottker é uma das novidades do time do Inter que enfrenta o Brasil-Pel nesta segunda-feira (9) à noite. Após cumprir suspensão diante do Paraná, ele retorna à equipe buscando devolver os bons resultados e aproximar o time ainda mais da classificação antecipada à Série A. Nesta entrevista, o meia-atacante fala sobre a adaptação a Porto Alegre, comenta a polêmica sobre sua função em campo (auxiliar de lateral), a fome de gols e a expectativa para o ano que vem.
Como está a adaptação a Porto Alegre?
Estou há cinco meses mas me adaptei. Sou do sul (Florianópolis), isso facilitou. Já tenho amigos que vão na minha casa jogar pôquer, gaúchos daqui da cidade mesmo. O bom trabalho aqui no Inter ajudou me sentir bem. Tenho feito um bom trabalho, e as coisas melhoram.
Mas que pôquer é esse?
Jogo com uns amigos que conheci pelo clube. A cada duas semanas nos reunimos, vemos um futebol, descontraímos. O importante é descontrair.
Prefere as cartas do que o videogame?
Depende, né? Na concentração não tem pôquer, só tem videogame. Então é o que tem.
O que gosta em Porto Alegre?
A cidade tem bons restaurantes, tem praças. Até aqui perto, fui em um restaurante em Viamão, passei a tarde com a família, bem legal. Hoje em dia, o jogador procura não sair na noite, é muito acesso de fotos e tal. Então ficamos mais com a família.
Consegue circular pela cidade numa boa?
Moro perto do Iguatemi, então vou lá com a esposa, até para ela não se sentir sozinha. Mas é tranquilo. Só quando perdemos que os torcedores dão cutucada. Por isso que quando perde, o melhor é evitar sair de casa.
Sobre isso, você viveu um momento ruim também...
Sim, muito. O torcedor filmava quando nos xingava, era constrangedor, afetava os familiares. Mas passou. Hoje é outro momento. Ainda não conquistamos nada. Estamos em busca do acesso e depois, do título, se Deus quiser. E aí vamos viver Porto Alegre ainda mais.
O que fez o time mudar tanto?
O entrosamento faz as coisas fluírem com mais naturalidade. Quando cheguei, também vieram outros jogadores, na mesma semana. Não nos conhecíamos. Isso faz uma diferença enorme. Hoje o Alemão ou Cláudio Winck, que jogam pelo meu lado, sabem que gosto de buscar a bola no espaço, na frente. D'Alessandro também. Isso é uma base para termos dado a volta por cima, com os mesmos jogadores.
Muito se comenta que você é uma espécie de auxiliar de lateral. Concorda?
O único jogador que joga pelas pontas que não é auxiliar de lateral é o Cristiano Ronaldo. Único. Em todas as outras equipes do mundo, se o cara não voltar para marcar o lateral, ele não vai jogar. E se ele não chegar na área para fazer o gol, também não vai jogar. É uma outro lado da posição. Assim como o zagueiro sofre com uma bola aérea, tem que estar sempre cabeceando, a gente também passa pela mesma coisa, tem que sofrer. Mas sofrendo em nome do grupo, a gente vai crescer. Tem que entender que uma roubada de bola pode valer o contra-ataque que vira um gol. É questão de compreensão. Me sinto bem fazendo a função que faço hoje. Mesmo que digam que sou auxiliar de lateral.
É seu lugar no campo?
Não sei se é meu lugar no campo. Me sinto bem jogando ali, mas também me sinto bem quando estou centralizado. Depende da característica do adversário. Não sou de fazer parede como o Damião, que segura a bola por três, quatro segundos, o tempo que precisamos para sair, e isso faz diferença. Mas sou de procurar o lado oposto e fazer facão (movimento de correr em diagonal em direção à área para finalizar). O Ricardo Oliveira faz isso. Via ele fazer no Santos e comecei a fazer na Ponte Preta também. O zagueiro não está acostumado. Como marcam mais um Fred, mais centralizado, parado, fazendo pivô, quando aparece um Gabriel Jesus, que joga centralizado, mas buscando o giro rápido, surpreende. Agradeço a Deus por ter essas virtudes, porque mais na frente, quando perder a capacidade física, tem uma saída de jogar mais pelo meio.
A que deve essa força física?
Tive uma base muito boa no Figueirense. Lá no começo, me diziam que isso ia me ajudar muito, porque no futuro iam querer jogador de força. E eu me apeguei isso. Depois vi que não era bem assim. Um cara que tenha capacidade técnica e leitura de jogo vai jogar independentemente de ter força.
O quanto mudou no Inter a partir da chegada do Damião, além de ter terminado com o debate sobre qual é tua posição em campo?
O Damião é um cara que segura a bola, segura os marcadores, atrai a defesa. Isso abre espaço para nós. E também é goleador. Todos nós perdemos chances e fazemos gol, mas ele é um cara que sabe fazer mesmo. Outra coisa é a possibilidade de fazer um cruzamento, é cabeceador, alto. É um finalizador mesmo.
Até agora, você tinha atuado em times que jogavam no contra-ataque, mas, no Inter, precisa propor o jogo. Acha que terá mais facilidade no ano que vem, quando vai poder atuar reagindo em vez de propondo?
Ninguém ainda tinha feito essa análise para mim, mas é verdade. Jogava em times que gostavam de contra-ataque, e hoje estou propondo o jogo. Tive que me adaptar. Não é tanto uma novidade, porque, na Ponte Preta, algumas vezes isso aconteceu no Paulistão. Mas aqui tive que aprender a pensar, ter mais paciência, trocar passes. Não dá para arrancar toda hora, até porque isso é imaturidade. Atualmente dou duas arrancadas por jogo. É o que dá.
Mesmo jogando pelas pontas, você é um goleador. O que precisa melhorar para fazer mais gols?
Tenho 18 gols no ano. Acho que na minha posição, só o Lucca, da Ponte Preta, fez mais gols. Claro que tem gente com mais, mas são os centroavantes. Ainda tenho que melhorar o cabeceio. Quando a bola vem na área, tento, me esforço, mas não entra. A hora que melhorar vou fazer ainda mais gols. Vejo o Cristiano Ronaldo. Quando a bola vem no segundo pau, ele atropela o marcador. Preciso fazer isso. Até tentei: contra o América-MG, deu na trave, no Santa Cruz, o goleiro defendeu.
O Inter está pronto para voltar à Série A?
Tudo tem um processo. Hoje ainda estamos enfrentando a Série B. Depois, a direção vai fazer avaliação e ver o que é bom para o clube, se o grupo é suficiente, por já ter o entrosamento, ou se vale a pena contratar três ou quatro reforços. Isso também vai ser bom, para não sofrer na competição. Mas por termos uma base, vai ficar mais fácil. O Inter não vai cometer o erro de desfazer o time. Temos grupo para dois, três anos.
Você vai estar na Série A pelo Inter?
Vai depender do meu desempenho. Tanto de jogar bem para ficar no Inter ou até para ser vendido. Se meu desempenho for muito bom, o Inter vai fazer o que precisa para ficar bom para o clube e para mim. Mas acredito que vou ficar, sim. Estou feliz aqui. Mas, repito, não depende só de mim.
Tem vontade de jogar fora do país? A Seleção é um sonho?
Não penso em Seleção, vejo muitos jogadores na frente. É um sonho de todos os brasileiros, mas, sinceramente, o que penso é em ganhar títulos, e já o da Série B. É isso o que marca o jogador. Qualquer clube que queira me contratar, daqui a cinco anos, vai ver meu currículo, e lá vão estar os títulos. Quero ser campeão pelo Inter.
Faz questão de ser campeão da Série B?
Faço questão de subir, primeiro. O acesso é o nosso objetivo principal. Depois, vamos fazer de tudo para ser campeões.
O quanto tem de influência do Guto Ferreira nessa retomada?
Não posso falar do Antônio Carlos Zago porque foi pouco tempo com ele. Nas duas semanas que trabalhei, vi que ele fez um trabalho tático muito bom, mas acabou saindo. O Guto também é um cara muito tático, forma bem a equipe defensivamente e ofensivamente. Às vezes você pode pensar: "Se o cara é bom, por que não joga?". Não é só isso. Tem que entender o que o treinador quer. Hoje em dia, só ser bom não adianta. O Guto gosta muito da parte tática, trabalha muito a parte defensiva. É um cara estudado, da nova safra, muito inteligente. Tem uma grande parcela nessa retomada e ainda vai ter muito sucesso.
E D'Alessandro?
Me surpreendi com o D'Alessandro. Ele luta pelos ideais, pelos objetivos do conjunto. Apesar da idolatria dele aqui, que é merecida, um cara que foi campeão de tudo pelo clube tem mais é que ser tratado assim, ele não luta só pelas coisas dele. Luta pelo grupo, coloca a cara a tapa. É muito bom ter alguém assim. Se ele estivesse aqui no ano passado, o Inter não teria caído. Ele não deixa o ambiente pesar, e no nosso grupo não tem nenhum "artista" que faça o ambiente pesar. E, dentro de campo, não tem o que falar. Quando o D'Alessandro pega a bola, vêm dois marcadores e não conseguem roubar, só fazendo falta. Ele vai nos ajudar ainda mais, neste e no próximo ano.
Como se expressa tão bem?
Só fui até o primeiro ano do ensino médio, mas esposa Caroline auxilia. Eu era tímido, tinha vergonha até de apresentar trabalho na escola. Mas depois do último, perdi a vergonha. Agora falo o que penso, o que acho certo.
Em qual rodada o Inter sobe?
Que rodada? Poxa, cara. Você vai me pegar. Como vou falar isso, cara? Ele balançou a cabeça para eu não falar. Posso te prometer só que o Inter vai subir?