Entrevista
"Quero fazer parte desta geração vencedora do Grêmio", projeta Alisson
Atacante veio como parte da negociação de venda de Edilson para o Cruzeiro
Decisivo para a virada do Grêmio sobre o Brasil-Pel, o meia-atacante Alisson pretende mostrar ao técnico Renato Portaluppi que tem condições de assumir a titularidade. Formado no Cruzeiro, o jogador de 24 anos, que foi treinado pelo ex-atacante Careca, goleador da Seleção Brasileira, na base do time mineiro, confia na conquista da Recopa, o que seria seu primeiro título na Arena.
Nesta entrevista a ZH, Alisson fala sobre como tomou sua decisão de atuar no Grêmio em meio ao Réveillon, seu trabalho como pregador nos períodos de folga, as comparações com Pedro Rocha e também sobre a amizade de longa data com Luan.
Como é para um mineiro vir morar em Porto Alegre?
Fui muito bem recebido aqui. Mas não está sendo fácil por eu ter morado quase minha vida inteira em Minas. Só passei quatro meses no Rio quando joguei pelo Vasco, o resto foi no Cruzeiro. Estou feliz aqui, me adaptando aos novos companheiros e ao estilo de jogo.
O que você lembra deste período no Vasco?
Foi uma experiência bacana. Fiz bons jogos, mas quando o Paulo Autuori foi embora e chegou o Dorival Jr, as coisas não mais deram certo e não fui mais usado como titular. Mas aprendi muito ali, fui feliz lá dentro. Depois o Cruzeiro me chamou de volta.
Você foi treinado pelo Careca na base do Cruzeiro. O que aprendeu com ele?
Ele é um cara que sabia fazer gols como ninguém. Me dizia sempre para entrar na área, na hora de girar sempre procurar o outro lado do goleiro. Então, sempre dava estes toques para que, na hora que chegasse lá dentro, pudesse fazer gols. Ajudou muito. No profissional, quem me lançou foi o Celso Roth. E sou grato ao Marcelo Oliveira, tenho ele como um pai por tudo o que ele fez por mim no Cruzeiro.
Você nasceu e cresceu no Interior de Minas Gerais?
Foi na cidade de Rio Pomba, fica a três horas de Belo Horizonte. Lá, eu comecei aos sete anos no América de Rio Pomba. Depois passei pelo Industrial, um time maior da região. Foi ali, aos, 13 anos, que tive a chance de ir ao Cruzeiro. Antes, eu tinha sido aprovado em testes no Fluminense, mas a saudade da família apertou. Também fiquei uma semana no Atlético-MG, mas não fui aprovado.
O que mais você sente falta de Belo Horizonte?
Das amizades que eu tinha lá. Fora do clube mesmo, os amigos da igreja. A gente se juntava na casa deles, era muito legal. É o que mais sinto falta mesmo, além dos companheiros que tinha no Cruzeiro também.
Lá, você fazia ações para sua igreja batendo de porta em porta?
Sim, eu fazia este trabalho de pregação como Testemunha de Jeová sempre que podia. Quando não tinha que concentrar, nas noites de segunda-feira. Era uma ação para fazer com que as pessoas conhecessem a bíblia, independentemente da religião. Nos dias de hoje, isso é importante.
E como era a reação das pessoas quando reconheciam você?
Era algo muito interessante. Me elogiavam pelo trabalho e respeitavam, independentemente de ser cruzeirense ou atleticano. Eles gostavam quando a gente ia falar com eles. Na hora, até demoravam para acreditar. Mas sempre fui muito bem recebido.
O quanto isso te ajuda? Você pode fazer algo assim em Porto Alegre?
Entre 2014 e 2015, tive muitas lesões. E a religião me ajudou muito, cresci no trabalho depois que me engajei na religião. Posso fazer isso aqui também, se tiver a oportunidade. São palestras bíblicas que ajudam no dia a dia. Já estou indo em uma igreja aqui, conhecendo pessoas novas.
Como foi a sensação de marcar o primeiro gol pelo Grêmio?
Agradeço demais pela oportunidade. A gente tenta, quando está no banco de reservas, entrar para ajudar os companheiros. Sem dúvidas, fiquei feliz não só pela partida que fiz, mas pelo desempenho que nosso time teve para conquistar a primeira vitória no ano.
Você teve que tomar a decisão de jogar aqui em duas horas?
Isso ocorreu em 31 de dezembro, eu estava na minha cidade e saí com minha esposa para tomar sorvete. Meu empresário me ligou, falou do interesse do Grêmio em mim e do Cruzeiro no Edilson. Eu queria dar a resposta no outro dia, mas ele me disse para decidir em duas horas. Foi uma decisão rápida, mas que tomei junto com minha esposa. É uma etapa importante na minha vida.
O que te fez vir para o Grêmio?
Não foi uma decisão pesada. Passei muito tempo no Cruzeiro, sou muito grato pelo que o clube fez por mim, pelas amizades. Mas eu queria sair um pouco, viver coisas novas com minha família. Ouvi falar bem de Porto Alegre e do Grêmio, que é um clube respeitado e reconhecido no mundo inteiro. Quero fazer parte desta geração vencedora e construir minha história aqui dentro.
E o desafio de disputar o título da Recopa?
Todo o clube grande precisa buscar conquistas. Será uma pedreira, o Independiente foi campeão da Sul-Americana e tem muita qualidade. Precisamos ter os pés no chão e trabalhar muito para encarar esta decisão, tomara que possa ser meu primeiro título com a camisa do Grêmio. Estamos preparados para fazer um bom jogo lá e tentar confirmar depois aqui em Porto Alegre.
O que você já conseguiu observar do estilo do Renato?
Temos uma equipe de qualidade, que toca muito a bola e que todos marcam. Quando estiver com o ritmo ideal, o Grêmio voltará a fazer grandes jogos. Em pouco tempo de trabalho, pude ver que o Renato trabalha e cobra muito. Está sempre conversando com os atletas, querendo ajudar. E que é muito honesto e se você trabalhar, ele dará a oportunidade. Basta cada um de nós saber aproveitar.
Em Minas, você foi criticado por perder gols. Isso te incomodava?
A gente recebe elogios, mas as críticas também vêm e eu aceito. Sei no que tenho que melhorar, tem horas que vem a oportunidade e às vezes falta um pouco de concentração. Aqui, quero melhorar. No ano passado, fiz gols importantes e evoluí. Quero continuar evoluindo e melhorar minha condição de fazer gols. No Cruzeiro, pude dar assistências também. Com o trabalho diário, quero seguir crescendo aqui.
Aqui, te compararam ao Pedro Rocha pelas jogadas em diagonal. Você tem um estilo parecido ao dele?
As pessoas fazem esta comparação entre os jogadores que atuam pela beirada. Mas o Pedro Rocha tem o estilo dele, o Everton tem o estilo dele e eu tenho o meu. Esse tipo de jogada o Renato pede para a gente pela velocidade que nós temos, para entrar no tempo certo. Assim como o Pedro fez a história dele aqui no Grêmio, quero fazer meu trabalho para ajudar os companheiros.
E sua amizade com o Luan? Vocês já se conheciam das seleções de base?
Na maioria das convocações, estávamos juntos. Só a da Olimpíada que eu não fui. O Wendell (lateral-esquerdo), que jogou aqui também, sempre estava conosco. Mas temos esta amizade, construímos nas seleções de base. Conquistamos o Torneio de Toulon juntos, isso foi muito importante. Espero conquistar mais títulos com o Luan agora aqui no Grêmio.
Qual é a diferença entre atuar com um centroavante de ofício e um falso 9?
No Cruzeiro, jogamos com o Sobis no ano passado, que não é centroavante, e deu certo. Aqui, temos o Cícero, que tem muita qualidade. O Renato sabe o que é o melhor para a equipe, a gente se adapta ao que ele nos pede. É fazer de tudo para se encaixar e buscar vitórias.