Paixão colorada
Neto Fagundes: "A emoção da entrada em campo"
Muitas coisas mudaram no futebol brasileiro, mas nada supera esse momento
No nosso futebol de hoje, se o guri se destacou, logo já negociam ele com a Europa, e agora até com Estados Unidos e Ásia. Estão levando os nossos craques muito cedo, logo que começam a jogar nas escolinhas dos clubes e nas copinhas da vida. A maioria da nossa Seleção joga fora do Brasil, e isso diz tudo.
A bola para praticar futebol, por exemplo, melhorou ou piorou? Uns acham que está melhor, mas os goleiros discordam. Árbitro de vídeo também: uns gostam, mas outros dizem que perde aquela tradição da dúvida se foi impedimento ou não, se foi dentro da área ou bola na mão.
Tudo mudou e virou um Big Brother. Até a entrada em campo mudou: antes, vinham os dois times, um de cada lado do campo, correndo, gritando e pulando para aquecer, e já iam para o confronto. E bola pra frente na saída, o que também mudou: agora pode passar direto para trás. Não tem mais aquele tradicional toquinho para frente e depois para trás.
Hoje todos entram caminhando, lado a lado, torcendo para que o Felipe Melo não esteja do teu lado, senão é um perigo de fechar uma pauleira. O juiz chega de peito estufado, pega a bola, vai caminhando até o campo, os jogadores devidamente ensaiados na coreografia pois viram todos os jogos da Europa na televisão. Tocam os hinos, os jogadores desafinam, colocam a mão no distintivo do clube e só aí parece que vai começar a partida. Mas ainda tem o minuto de silêncio antes da bola rolar.
Vejo em todos os jogos uma gurizada que entra em campo com os jogadores. Normalmente são os ídolos dos seus pais, e lembro que, quando guri, lá no Alegrete, eu era mascote do Flamengo, time que meu pai jogava e me levava junto ainda criança para o Estádio Farroupilha. Guardo até hoje a minha fotografia em campo com o nosso goleiro, o Pedrinho, e também com o Valderli, amigo e toda a minha família até hoje. Meio-campo de luxo desse nosso time, esse sim poderia ter jogado na Europa se naquela época tivesse um olheiro desses de agora para ver o talento dele desde criança. Jogava futebol por prazer e não pelo dinheiro, que naquela época era quase nada. A bola era ruim, os campos nem se fala, e ele esbanjando categoria.
Frio na barriga
Quando, tempos mais tarde, já morando aqui em Porto Alegre, entrei no gramado do Beira-Rio no grande espetáculo da sua reinauguração com o estádio lotado e o sistema de som chamando o meu nome, confesso que senti aquele frio na barriga de quem vai jogar _ ou, no meu, caso cantar.
Muitas coisas mudaram no futebol brasileiro, mas nada é mais emocionante em qualquer idade ou em qualquer época das nossas vidas do que a entrada em campo.