No trono
José Alberto Andrade: Messi não é um novo Pelé, mas é rei
É difícil não aproximar o argentino do nosso eterno camisa 10
Por mais que tenhamos resistência em não admitir que Pelé é algo inatingível, o máximo dos máximos em termos de “craqueza” no futebol, é difícil não aproximar o argentino Lionel Messi daquele que é o primeiro e único Rei.
O argentino não chegará às três Copas conquistadas ou mesmo aos 1.300 gols, mas os tempos são outros. Pelé era alguém muito diferente e superior aos demais. Messi é assim. Não se trata de comparar. O brasileiro foi melhor e está decretado, especialmente por nós. Há, porém, um trono vago desde então e que chegou a ser cobiçado por Diego Maradona. É hora de se ter um novo e digno soberano. Messi não é um novo Pelé, mas é rei.
A voz chorou
Não foi o com título da Seleção Brasileira, mas num espetáculo magnífico. Galvão Bueno se despediu das narrações em Copas do Mundo com uma final cheia de gols, com a emoção dos pênaltis e o carinho de colegas e espectadores. Ao final da transmissão da TV Globo, a posição da emissora no Estádio Lusail foi cercada por amigos, enquanto na programação eram prestadas homenagens. Inevitável: não teve experiência ou vivência que impedisse Galvão da cair em lágrimas.
Mano a mano
A maior final de Copa de todos os tempos foi marcada por um duelo impressionante entre Messi e Mbappé. Parecia uma disputa individual em modalidades como o tênis entre gigantes como Roger Federer contra Rafael Nadal nos melhores momentos de ambos.
O argentino ganhou, como o francês poderia ter vencido. Não há precedentes. O que um fazia era retrucado pelo adversário. Cinco dos seis gols foram dos dois craques da Copa. Até o último pênalti da decisão, não se sabia quem seria o craque do mundial. Se a glória fosse dividida não haveria injustiça.
Altos e baixos
O espetáculo futebolístico, a final inesquecível, as torcidas de Argentina e Marrocos ou os estádios grandiosos e modernos são fatores que poderiam determinar que foi vivida a maior Copa do Mundo de todos os tempos no Catar. Não é bem assim. É preciso lembrar que o Mundial ocorreu num país cujo respeito aos direitos humanos não é compatível com a mensagem de paz que o esporte vive exaltando. Não foi realizada a Copa igualmente numa nação “futeboleira”. Faltou a conexão com os cidadãos locais, algo que, por exemplo, sobrou no Brasil. O grande evento foi gestado em meio ao maior escândalo da história da Fifa, e isto não pode ser esquecido para que não se perca a capacidade de fiscalização.
Agora, a Olimpíada
As autoridades do Catar se sentiram realizadas com a Copa do Mundo. Para eles, tudo deu certo. O país ganhou uma visibilidade gigantesca, se afirmou diante de países vizinhos com construções monumentais, um movimento turístico nunca visto e a afirmação como referência comercial e diplomática na geopolítica, ainda que sofrendo críticas por um regime de força baseado em rígidas leis religiosas. Depois de já terem tentado uma vez, esbarrando na dificuldade imposta pelo calor, já há planos dos cataris tentarem sediar os Jogos Olímpicos em 2036. Pelo que se viu no mundial de futebol, dinheiro não vai faltar. Teve até comemorações de famílias da aristocracia no gramado do Estádio Lusail após a cerimônia de encerramento.
Alô, 2026
Ainda bem que o ciclo é menor. Faltam apenas três anos e meio para a próxima Copa. Ainda que a Fifa tenha inventado este mundial de três países com 48 seleções, certamente estaremos mobilizados novamente. A final da Copa do Catar é o melhor convite para a edição conjunta de Estados Unidos, México e Canadá. Foram vividas muitas situações dentro e fora de campo que farão inesquecível o que se passou no Oriente Médio.
Claro que para os brasileiros há um gosto amargo de decepção pela maneira como nosso projeto de futebol da Seleção não se completou. Que venham boas novidades na “Canarinho”. Copa do Mundo é bom demais. Abraços a todos. Sentirei saudades.