Se afirmando
Sobrevivente da Maré, Wellington se diz adaptado a Porto Alegre e agradece ajudinha em gol contra o Bahia
Novo lateral-direito do Inter marcou o gol que quebrou o jejum de vitórias fora de casa
Era preciso ganhar. Assim, o Inter entrou em campo contra o Bahia, no sábado. Não só para vencer fora de casa depois de 13 jogos, mas para não perder o líder Cruzeiro de vista. Deu certo. Após o treino na academia, na manhã de segunda-feira, Wellington Silva, autor do gol da vitória, conversou com o Diário Gaúcho. Falou do bom momento em que vive no Inter, da readaptação em Porto Alegre e da realidade no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, onde cresceu.
- O Abel colocou muita pressão na gente, que tínhamos de ganhar. E aí, graças a Deus, conseguimos. O goleiro deu uma ajudinha - admite, rindo, o lateral, autor do gol que acabou com o jejum de vitórias longe do Beira-Rio.
Em Porto Alegre desde o começo de junho, quando chegou por empréstimo até dezembro, Wellington quer ficar. Está tão ambientado que, há duas semanas, comemorou a nascimento da filha Ana Júlia na Capital, a quem dedicou o gol de sábado. Por aqui, ainda consegue ir a shopping, cinema, e ser pouco reconhecido.
Diferentemente do Rio, onde jogou pelo Flamengo e depois Fluminense. Lá, precisou driblar a polêmica em que o envolvia numa suposta comemoração do título do Flamengo na Copa do Brasil 2013, quando ainda atuava pelo tricolor carioca. Tudo isso acrescido pela acirrada disputa dos dois clubes, no início de 2013, para ver quem o teria na temporada.
- Foi muito difícil. O Flamengo me colocou na Justiça porque queria que eu jogasse. Mas eu ganhei, já tinha terminado o meu contrato. Escutava muita piadinha. Até para sair na rua era difícil - lembra.
Mas parece sina do lateral escolher times adversários. Isso porque Wellington foi revelado pelo Grêmio em 2009 - chegou em 2007. Até jogou pelo profissional, com Celso Roth. Depois, foi para o Audax-SP. Por enquanto, não chega a ter a mesma rivalidade vivida no Rio, mas aguça a vontade de um Gre-Nal. Certamente, até 10 de agosto, quando será o primeiro clássico do Beira-Rio.
- Sei que Gre-Nal tem é que ganhar. Estou louco para jogar, sentir tudo isso - garante o lateral-direito, que não estará disponível amanhã, contra o Ceará, por já ter jogado na competição pelo Flu.
"Vi muita morte"
Wellington não esconde a alegria de ouvir o assunto rumar para a Maré, onde nasceu e cresceu. Localizado na Zona Norte do Rio, é um complexo de 15 favelas com cerca de 130 mil pessoas. Seria algo como a cidade de Cachoeirinha, pelo número de habitantes, dentro do Rio.
A lembrança da infância e adolescência remete a pulos de roletas para ir ao treino, já que o cartão do ônibus tinha apenas quatro acessos diários. Lembra também do trabalho de cobrador de vans. Quando o sonho de ser um jogador profissional parecia distante, Wellington, com 15 anos, decidiu fazer uma peneira com outros 36 mil garotos. Durou um ano. Selecionariam apenas 36. Um deles, o camisa 15 do Inter.
Hoje, aos 26 anos, comemora a boa fase. Mas garante que não tem como esquecer de muitos dos seus amigos que optaram por caminhos opostos.
- Vi muita coisa na Maré, muita morte. O final de ser um traficante é isso ou cadeia. Tive muitos amigos que estão presos ou embaixo da terra.
Com irmãos morando no complexo, Wellington visita a Maré frequentemente. Todos os anos, com o cantor Naldo, organiza um futebol beneficente.