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Casas da Dupla

Arena do Grêmio e Beira-Rio: novos negócios que atraem novos torcedores

Com serviços de alimentação e lazer, além dos jogos, relação se transformou em time-torcedor-empresa

05/01/2013 - 15h01min

Atualizada em: 05/01/2013 - 15h01min


O gremista hoje pode incluir no seu coração azul a Arena Porto-Alegrense, a empresa de propósito específico (SPE) criada pela construtora OAS para gerir os negócios da Arena em parceria com o Grêmio pelos próximos 20 anos. E o colorado seguirá pelo mesmo caminho assim que o novo Beira-Rio ficar pronto, em dezembro. No seu caso, compartilha o amor com a BRio, a SPE vermelha criada pela empreiteira Andrade Gutierrez para tocar o estádio, também pelas próximas duas décadas. Importante ressaltar que as duas parcerias não interferem na gestão do futebol.

- O objetivo é apresentar um estádio moderno, de acordo com os novos tempos, como quem vai a uma sala de cinema sofisticada num shopping - explica o executivo gaúcho Marcelo Flores, de 44 anos, que a Andrade Gutierrez foi buscar no Engenhão, do Rio, para dirigir a BRio em Porto Alegre.
  
A grande discussão é se a modernidade das arenas brasileiras baterá forte no bolso do frequentador médio. Mas tanto Marcelo Flores quanto Eduardo Antonini, o homem que tocou a obra da Arena com a Grêmio Empreendimentos, insistem em afastar a ideia da elitização dos estádios.
 
- Sócios antigos têm opção de tomar lugares na Arena com os valores do Olímpico, ou seja, com os mesmos valores ele agora utiliza poltronas, banheiros adequados, bares como os de shopping e segurança de estacionamento - lembra Antonini, aludindo aos R$ 92 da mensalidade mais baixa no novo estádio, apenas R$ 6 a mais do que pagavam os sócios-proprietários para irem à Social do Olímpico. - O que a Arena criou é lugar para quem tem mais dinheiro (as cadeiras Gold, por exemplo, cuja mensalidade varia de R$ 330 a R$ 360).

O problema é que os tais assentos mais baratos, que antes ficavam mais próximos do campo, agora estão confinados aos anéis superiores, mais afastados do gramado (com exceção, é claro, do espaço da Geral), e ocupam uma percentagem menor do estádio.

Por outro lado, garante Antonini, dos 25 mil sócios que migraram do Olímpico para a Arena, cerca de 60% pularam para setores mais caros. Buscaram maior comodidade.
A ideia deve ser a mesma no Beira-Rio. Os preços em conta serão reservados a quem fica mais longe do gramado. Os espaços nobres serão para quem gasta mais - embora a política de preços esteja em análise, como dizem Maximiliano Carlomagno, assessor da presidência e membro da comissão de obras, e Diana Oliveira, segunda-vice presidente (vale citar que, na Arena, também ainda está em estudo o valor dos ingressos avulsos).


TENDÊNCIA MUNDIAL POR CONFORTO
Segundo Carlomagno e Diana, o novo estádio pode adicionar entre R$ 20 milhões e R$ 40 milhões ao clube ao ano, puxado pelo aumento de público, de consumo, valorização dos espaços atuais, potencialização imobiliária e marca. Mas o refrigerante se manterá nos R$ 4, como é hoje. Na Arena, o plano de negócios para o primeiro ano de atividade ainda não foi aprovado - a conclusão das obras e o período de transição presidencial adiaram para este mês a resolução.

O diretor da empresa Trevisan Gestão de Esporte, Fernando Trevisan, vê a tendência mundial de conforto e segurança desembarcar no país com a onda dos estádios da Copa:
- Os novos estádios seguem uma demanda da sociedade. O torcedor brasileiro quer comodidade, segurança e bom serviço, não importa se terá de pagar um pouco mais.
- Aquele balcão comprido de concreto com tina de refrigerante no bar, a fila quilométrica e os banheiros malcheirosos vão ficar no passado - garante Flores.

Trevisan costuma usar o exemplo dos cinemas. Os localizados na segurança dos shoppings oferecem mais conforto, salas especializadas com poltronas reclináveis, lugares marcados, refrigeração garantida e preços ajustados a essa nova realidade.

Em seu estudo "A indústria dos estádios", de setembro de 2012, Trevisan mostra que o dia de jogo no Brasil gera apenas 8% da receita contra 20% da Europa, incluindo aí desde ingresso, pipoca, refrigerante a produtos do clube. Segundo ele, 7 milhões de bilhetes deixaram de ser vendidos em 2011 devido à falta de comodidade, daí porque o público médio no Brasil é de 15 mil contra 34 mil da Inglaterra. Na comparação com o "efeito cinema", Trevisan revela que as salas novas do país apresentaram um aumento de 172% de arrecadação nos últimos 10 anos, enquanto o preço médio subiu 71% em relação a 2002.

Este conceito de parceria em estádios gera alguns debates - o presidente do Grêmio, Fábio Koff, disse em recente entrevista a Zero Hora que "a Arena não é do Grêmio". De fato, durante 20 anos, o negócio será compartilhado: de tudo o que for arrecadado na Arena (bilheteria, bares, placas de publicidade, lojas etc.), 65% fica com o clube, e 35% vai para a OAS.

No Beira-Rio, de 50 mil lugares, 43 mil serão renda do clube e 6.992 serão espaços vips da BRio. O sistema de divisão de receita é diferente: a empresa administra suítes, camarotes, skyboxes (camarotes mais altos), alimentação e bebidas, publicidade e naming rights, edifício garagem, eventos e uma rede de 44 lojas no térreo.
Os dois estádios do futuro já incrementaram uma das principais fontes de renda dos clubes, o quadro de associados.


OS PRIMEIROS SÓCIOS DO NOVO BEIRA-RIO


O dono da empresa que vendeu toneladas de areia para as obras da Arena do Grêmio é colorado há 49 anos. Paulo Gabriel dos Santos dirige seu comércio na margem do Guaíba, quase de frente ao novo estádio. Do escritório, o empresário passou os últimos dois anos espiando pela janela a construção dos alicerces, dos anéis, das rampas, dos painéis de vidros azulados e, por último, do letreiro da Arena, que lhe bate mal nos olhos.

Um filete de inveja deve ter picado seu amor-próprio porque, depois de 30 anos frequentando o Beira-Rio como simples torcedor, Santos finalmente decidiu associar a família inteira no Inter: ele, a mulher, Rosane, e os filhos, Pedro Gabriel, 17 anos, e Mateus, 15. 

Mais: fez isso, no dia 6 de dezembro, após o final do Brasileirão, quando o velho estádio já sofria a interdição das obras que vão se arrastar até a reinauguração em dezembro de 2013. Não importa. Os Santos estão investindo na paixão. São os primeiros sócios do futuro Beira-Rio.

A exemplo deles, cerca de 500 torcedores se ligaram ao clube em dezembro e vão se sujeitar a ficar um ano à espera do novo estádio como quem aguarda na fila do lançamento de um supercelular ou de um megashow.
- O conforto já mexe com a cabeça de um público novo. É o pessoal da televisão paga que, agora, vai torcer ao vivo - justifica Marcelo Flores, o executivo da BRio, a sociedade de propósito específico (SPE) que gerencia o novo estádio.

Santos é um desses que deixarão o sofá de casa. Alega ter associado a família em homenagem a Pedro Gabriel, que passou no vestibular de Administração da PUCRS. Digamos que esse é o argumento oficial da família.
- É melhor dar uma carteirinha do clube do que presentear com um carro, não é? -alega o pai.

Pedro Gabriel não se abala com a decisão dos pais - até porque só terá idade para dirigir no próximo ano. O que ele sonha agora é se sentir como um torcedor do Barcelona no Camp Nou. Para um aficionado que decora os times da Liga dos Campões aos do Campeonato Chileno, o que vale mais é uma poltrona a poucos metros dos craques. 

- Quero ver o D’Alessandro bem de perto - diz o estudante, com o quarto forrado de lençol, travesseiro, bandeiras e toalhas em vermelho.

Uma das mais recentes sócias do Inter é a pequena Heloísa, de um ano de idade. Filha do professor de Administração Paulo Cassanego Júnior, que implantou as faculdades Unipampa em Livramento, ela já está paramentada com camiseta e penduricalhos.
- Me imagino daqui a 10 anos passeando pelo Beira-Rio com a Heloísa e a mãe, Karen - fala Cassanego.


Heloísa Cassanego foi associada ao Inter para desfrutar do novo Beira-Rio no futuro
Foto: Arquivo Pessoal

O professor se vê pai de uma consumidora de entretenimento. É assim que vão se chamar os torcedores num futuro próximo.


Família colorada vibra com novo estádio
Foto: Diego Vara

A divisão de lugares no novo Beira-Rio
O estádio do Inter terá capacidade para 50.050 pessoas:

Os preços 
Executivos do Inter finalizam estudo de setorização do estádio com apoio da consultoria Ernst & Young. Clube dá garantia de contratos básicos dos sócios atuais, embora ainda não haja definição de locais, categorias e preços de ingressos. O contrato de parceria Inter/BRIO dá total autonomia ao clube sobre setorização, preços e pacotes de produtos e serviços, desde que não interfira comercialmente nas áreas vips da BRIO.

As receitas do Inter: patrocínios, venda de 43 mil ingressos por jogo e exploração do estacionamento descoberto no entorno do estádio (cerca de 2.150 vagas).

As receitas da BRIO: suítes, camarotes, skyboxes, lojas (44, localizadas no térreo), alimentação e bebidas (haverá 66 pontos de bares e um restaurante com lounge), publicidade e naming rights, edifício garagem (com 3 mil vagas) e eventos.

ARENA ATRAI NOVOS SÓCIOS
Cerca de 25 mil torcedores migraram do Olímpico para a Arena - e o estádio recém-inaugurado atraiu 11 mil novos sócios (desde locatários a associados das modalidades Diamante e Ouro, que têm desconto na compra de ingressos). Entre estes últimos, estão o bancário Pedro Paulo Padilha, 55 anos, e seu filho João Pedro, 15. Eles ajudam a exemplificar uma das dificuldades que o torcedor gremista não-sócio deve ter em um futuro próximo: a dificuldade para adquirir entradas.

Hoje, se todos os sócios, entre locatários de cadeiras, contribuintes e proprietários fossem a uma partida, por volta de 28 mil das 60.540 cadeiras estariam preenchidas. Para os lugares restantes, têm prioridade de compra os gremistas do programa Sócio Torcedor (Diamante ou Ouro). É nessa categoria que se enquadram os Padilha. Atualmente com mais de 65 mil sócios e com previsão de lançar um plano de carnês para a temporada toda, o Grêmio pode, em breve, ter mais sócios torcedores do que lugares vagos no estádio, como os clubes europeus, que têm listas de espera imensas.

Ao assistir ao Jogo Contra a Pobreza, em 19 de dezembro, João Pedro, o filho, que tem um foto da Arena na proteção de tela do seu notebook, se sentiu entrando no Santiago Bernabéu, do Real Madrid. Além de ficar impressionado com a proximidade do gramado (7,5m) mesmo do quarto anel, ele achou demais não precisar sentar no cimento _ no Olímpico, há apenas 15.739 cadeiras, ou 34% da capacidade, e a distância para o campo é de 40m. Na Arena, além de quase todos os lugares terem cadeiras, há 100% de cobertura. Pedro Paulo, o pai, acha que o estádio "virou uma casa de espetáculo", destacou a iluminação, com 360 refletores a mais do que o antigo estádio (120 a 480), e os acessos amplos, que "possibilitam se movimentar melhor dentro do estádio".

A circulação é vital para a rentabilidade da Arena. Como na Europa, o número de torcedores sentados no intervalo das partidas deve diminuir. Com 190 opções a mais do que no Olímpico, ir ao banheiro se tornou mais fácil. No caminho, quiosques da loja GrêmioMania e os 58 bares - no Olímpico são 15 copas -, com mais opções de alimentos e, futuramente, com um sistema de cartão de consumação que diminuirá as filas, atraem o torcedor a gastar.

- Evitava ir ao banheiro no Olímpico porque demorava muito. Agora, com a facilidade de chegar nos locais, sem esperar em fila, certamente vamos acabar gastando mais - diz Pedro Paulo, que comprou uma pipoca e um pancho para o filho no Jogo Contra a Pobreza.


Pedro e o filho João Pedro associaram-se recentemente
Foto: Jean Schwarz

João Pedro, que nunca foi sócio na época do Olímpico e costumava ir a uma média de 10 jogos por temporada, promete, no mínimo, dobrar a presença na Arena este ano, e já traçou um plano de pressão no pai para locar um lugar fixo no futuro.

A DIVISÃO DAS RECEITAS NA ARENA
A Arena não está relacionada com a palavra multiuso à toa. Com a mudança para o novo estádio, o Grêmio multiplicou a possibilidade de receitas em relação ao Olímpico. Toda renda obtida vai para um caixa único, administrado pela empresa Arena Porto-Alegrense e que divide o lucro líquido entre o Grêmio (65%) e a empreiteira OAS (35%). Por causa do período eleitoral e das obras em fase de conclusão, a projeção de orçamento da Arena para este ano foi adiada de dezembro para janeiro. Em palestras recentes, Eduardo Antonini, da Grêmio Empreendimentos, expôs o peso que cada um dos elementos deve ter em uma receita total futura. Ao todo, somam 99% _ o 1% restante é diluído entre outras atividades, como as visitas guiadas de torcedores.

Camarotes e cadeiras Gold 41%
Dos 133 camarotes, cerca de 55 estão vendidos, assim como mais de 50% das 8.848 cadeiras Gold. No dia da inauguração, nove camarotes foram negociados por um valor de R$ 200 mil anuais, somando um valor que alugaria os 45 do Olímpico.

Quarto e primeiro anel 33%
Os anéis com maior capacidade, incluindo o local sem cadeiras da Geral, somam 48.964 lugares e podem render R$ 38 milhões anuais.

Naming rights 18%
Com Naming rights (direito pelo nome da Arena), sector rights (direitos pelo nome de um setor _ de arquibancadas, por exemplo), pouring rights (direito do fornecimento de bebidas) e o cartão de crédito oficial, a Arena Porto-Alegrense pretende arrecadar em torno de R$ 20 milhões por ano.

Concessões 5%
Dois restaurantes, panorâmicos, serão inaugurados na Arena, uma churrascaria e um buffet executivo. Com as concessões de bares, lojas, restaurantes e estacionamento, todas em andamento, clube e OAS podem ter um lucro de R$ 6 milhões ano.

Shows 2%
Grandes e pequenos shows, conferências, banquetes e reuniões representam 2% da receita total ou uma previsão de 2,6 milhões anuais.


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