Levaram o pão das criancinhas
Pela quarta vez este ano, creche comunitária é arrombada no Bairro Glória
Além de alimentos destinados aos pequenos, prejuízo com consertos é alto, e valor é retirado de doações que mantêm a instituição
O café da manhã na Creche Comunitária Nossa Senhora da Glória, no Bairro Glória, na Capital, teve de ser improvisado nesta quarta-feira. Os pãezinhos caseiros preparados pelas tias da cozinha para os pequenos foram levados durante um arrombamento na madrugada, junto com outros alimentos, além de pratos, copos e vários objetos. Foi o quarto ataque ao local só este ano. Graças a doações que mantêm a instituição, o problema não é ainda mais grave.
- Já recebemos alimentos. Se não fossem essas doações, não teríamos o que servir às crianças. Oferecemos quatro refeições diárias, do café da manhã à pré-janta. Como a comunidade é muito carente, muitas vezes, é tudo o que elas comem durante o dia - alerta a auxiliar administrativa Cleusa Gomes Oliveira.
Segundo ela, os bandidos entraram pelos fundos da creche, depois de destruírem quatro portões. Na primeira tentativa, arrombaram uma porta de ferro que dava acesso à lavanderia. Como não tinha ligação com o interior da escola, tentaram uma nova investida. Quebraram, então, um portão na rua que isola o botijão de gás, levado na ação. A terceira porta violada foi a entrada principal da cozinha, de onde furtaram os alimentos. Por último, o portão de ligação entre a cozinha e o interior da escola foi entortado e, por ele, os ladrões acessaram as dependência da creche. Levaram todas as lâmpadas. Mas o prejuízo não fica restrito aos objetos furtados.
- Estávamos consertando um portão quebrado no último assalto e já temos que arrumar estes outros. Um deles havia sido arrumado há pouco tempo, gastamos R$ 600, e foi arrombado novamente agora. É um dinheiro que também vem de doações, e que deixamos de usar nas reformas estruturais que a escola precisa para fazer estes consertos - lamenta Cleusa.
A creche comunitária atende, atualmente, 87 crianças, de zero a cinco anos. Funciona de segunda a sexta-feira, das 7h30min às 17h30min. Somados os quatro assaltos deste ano, já foram furtados, ainda, computador, televisão, máquina fotográfica, fraldas e R$ 1,7 mil do chamado "cofrinho das doações". Dois dos arrombamentos, inclusive, aconteceram num período de três dias. Em todas as ocasiões, mesmo nos dias seguintes aos assaltos, a escolinha manteve-se aberta.
- Não podemos nos dar ao luxo de fechar, mesmo faltando coisas, porque os pais não têm onde deixar as crianças para trabalhar. Eles ficam horrorizados, afinal, como alguém pode roubar uma comunidade que já é tão carente? - questiona a auxiliar administrativa.
Auxiliar de serviços gerais da creche, Janaína da Silva, 36 anos, sente o drama na pele e em dose dupla: além de trabalhar no local, tem sua única filha, Vitória, cinco anos, entre os alunos.
- A sensação é de impotência e de muita tristeza cada vez que chego e vejo que entraram novamente. Minha filha está aqui desde que nasceu. A gente fica com medo que uma hora dessas aconteça no horário em que as crianças estão aqui. Nosso bairro tem pouquíssima segurança - lamenta.
A Creche Comunitária Nossa Senhora das Graças se mantém somente por meio de doações. Quem quiser ajudar pode entrar em contato pelos telefone 8600-0248, 8600-0245, 3384-6105 e 3384-4092.