Polícia



Toque de Recolher

Restinga Velha tem toque de recolher após morte de gerente do tráfico

Postos de saúde e creches fecharam as portas devido ao medo de um novo tiroteio no bairro

29/07/2014 - 07h03min

Atualizada em: 29/07/2014 - 07h03min


André Feltes / Agencia RBS

Depois da morte de um gerente do tráfico no último domingo, o Bairro Restinga Velha, na Zona Sul da Capital, amanheceu a segunda-feira em clima de toque de recolher em meio a boatos sobre uma possível retaliação da gangue da qual ele fazia parte.
 
- Virou um bangue-bangue. Ontem (domingo), teve tiroteio violento no final da tarde, mais de 50 tiros. Hoje, as pessoas estão recolhidas. É posto de saúde fechado, creche mandando as crianças pra casa...Tudo porque estão ameaçando mais uma troca de tiros. Os bandidos tomaram conta - descreveu um morador, que não quis ser identificado.
 
A ameaça mudou a rotina do local. Dois postos de saúde trancaram as portas. Nelas, foram afixados cartazes com os dizeres: "Por motivos de segurança, este posto estará fechado hoje". Segundo moradores, pelo menos sete creches também suspenderam as atividades.
 
- Estamos pedindo que os pais venham buscar seus filhos, por precaução. Estão dizendo que haverá tiroteio à tarde, que vão tocar o terror aqui por causa da morte de um traficante ontem - contou a funcionária de uma escolinha, que preferiu não se identificar.
 
Tiago Teixeira Paixão, 36 anos, foi executado com seis tiros de revólver 38 dentro de uma churrascaria na Estrada João Antônio da Silveira. Ele seria, segundo a polícia, um dos cabeças da gangue dos Marianas. Seu bando estaria armando vingança.
 
A informação que se alastrou pela Restinga era de que, após o velório do homem, às 15h de segunda-feira, bandidos tomariam as ruas e dariam início a um tiroteio. Na rua, todos diziam saber da morte no dia anterior, mas ninguém se arriscava a dar informações mais precisas.
 
- A gente sabe o que aconteceu aqui ontem (domingo) e que o pessoal dele (Tiago) não vai deixar barato. Mas essa guerra não é de hoje. A gente fica atento pra não dar bobeira. Aqui em casa, a criançada não foi à aula hoje - disse uma dona de casa, que também preferiu o anonimato.
 
Polícia aumenta patrulha

 
A resposta da polícia para acalmar a população e tentar inibir a ação dos bandidos foi um patrulhamento ostensivo, que começou já no domingo e se estendeu durante todo a segunda-feira. Conforme o comandante do 21º BPM, tenente-coronel Oto Amorim, 50 policiais do BOE e do 21º BPM estão realizando abordagens nas áreas onde atuam três gangues possivelmente envolvidas no conflito. Ação que deve continuar nos próximos dias.
 
- Até agora, as ameaças não se confirmaram. Mas sabemos que vai ter o revide, estas gangues vão se confrontar - explicou Amorim no final da tarde de ontem.
 
Segundo ele, locais de confronto foram mapeados e a ordem é patrulhar e abordar.
 
- Não temos hora para acabar - continuou.
 
Ainda segundo o comandante, ele já ouviu representantes das creches que fecharam as portas ontem e garantiu que uma atenção especial será dada aos estabelecimentos.
 
- Faremos um patrulhamento mais intensivo nos arredores destas creches e em todo lugar que for próximo aos locais onde estas gangues atuam - disse Amorim.


Foto: André Feltes, Agência RBS

 Entenda as disputas pelo tráfico na Restinga:

- Exatamente há um ano, o Diário Gaúcho mostrava que havia 17 gangues identificadas pela Brigada Militar na Restinga. Hoje, os policiais contabilizam 25. Elas brigam por bocas de fumo.

- Atualmente, o duelo está polarizado entre duas gangues: a dos Marianas, com apoio da dos Alemão e outros, e a dos Miltom, que seria um braço da facção Bala na Cara na região.

- Tiago Teixeira Paixão, 36 anos e apontado como um dos líderes do gangue dos Marianas, foi executado a tiros na tarde de domingo, em uma churrascaria. A polícia tem informações de que o matador é um soldado da gangue dos Miltom. Desde o crime, o homem não foi mais visto na região.

- Na segunda-feira, de moto, vapozeiros e outros criminosos ligados à gangue dos Miltom circularam por creches, postos de saúde e comércios e avisaram que era para todos baixarem as portas. Quem não obedecesse, estaria sujeito a tiros. Ninguém se atreveu a desobedecer.

- A notícia chegou à Brigada Militar, que durante todo o dia manteve policiamento no local. Ao todo, 50 PMs (do 21º e do Boe) abordaram carros e pessoas. Não houve relato de violência até o início da noite.


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