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Risco

Moradores se arriscam religando rede de energia elétrica clandestina

Mesmo sabendo do perigo, moradores da Vila Mangue Seco, na Lomba do Pinheiro, sobem em postes sempre que necessário para religar a rede clandestina de energia elétrica

20/08/2014 - 07h01min

Atualizada em: 20/08/2014 - 07h01min


Jeniffer Gularte
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Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Homem se arrisca religando fios dos gatos de energia elétrica na Vila Mangue Seco

Do alto de um poste de nove metros de altura e com um alicate em punho, o servente de obras Carlos Ronaldo Dutra Moraes, 44 anos, conecta fios de luz como quem conserta um eletroméstico estragado: sem cinto, luvas ou qualquer equipamento que lhe garanta o mínimo de segurança. Ele justifica o risco: morador da Vila Mangue Seco, na Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, ficou - junto com toda vizinhança - desde sexta-feira sem energia elétrica por isso reservou a manhã de segunda-feira para religar a rede clandestina.

- Medo a gente tem, mas não podemos ficar sem luz. Nunca me aconteceu nada.

Com sobrecarga na sexta-feira, os fios interligados de forma irregular pegaram fogo, deixando ao menos 400 famílias às escuras. O problema atingiu tanto residências que têm gato quanto as que têm luz regular.

 No domingo, a CEEE foi até o local e cortou todos os "gatos", provocando a ira dos moradores que fecharam a rua e fizeram barreira para impedir a saída dos veículos da companhia da via.  Devido ao tumulto, a Brigada Militar foi acionada. Os moradores alegam já ter solicitado a CEEE para que fosse feita a ligação regular, o que até agora não ocorreu.


 Foto: Ronaldo Bernardi, Agência RBS

Pela regularização dos gatos

O gesseiro Cleber dos Santos, 33 anos, garante que todos têm como pagar a conta mensal e fazem questão de se desfazer dos gatos. Com a queda na rede do final de semana, sua geladeira queimou. Consciente, ele sabe que o gato pode gerar novos prejuízos. Sem falar nos vizinhos que se arriscam subindo e descendo os postes para religar a rede clandestina sempre que necessário.

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Parou porque levou choque

Depois de um susto no ano passado e do pedido da mulher, o pedreiro Adriano dos Santos Feijó, 35 anos, não sobe mais no poste para mexer na rede elétrica. Por anos ele foi referência na vila em caso de problemas nos gatos. Para cada "conserto" solicitado ganhava de  R$ 10 a R$ 50, dependendo do risco da manobra.

- Se ficava um sem luz, era eu quem mexia na rede, fazia um dinheiro extra. Eu parei quando caí um tombo porque tomei um choque no peito. Não vale a pena se arriscar - diz ele, que é pai de três filhos.


 Foto: Ronaldo Bernardi, Agência RBS

Sem regularização, nada feito

Segundo o presidente das Associação Comunitária Amigos da Comunidade, entidade que representa cerca de 320 famílias da região, Márcio Jaques Feijó, foi feito pedido formal a CEEE para regularização da energia elétrica há mais de um ano. Ele ressalta que embora a área não esteja regularizada na Prefeitura, os moradores possuem contrato de compra e venda dos seus lotes.

Através da assessoria de imprensa, a CEEE informou que não há pedido legal de ligação de energia elétrica na vila. A chefe do departamento de Gestão de Perdas da CEEE, Shirlei de Bastiani Cortez, afirma que a maioria das familias têm condições de ter acesso, basta que instalem a entrada de energia na frente da sua residência, já que na maior parte da comunidade a rede passa em frente as suas casas.



 Foto: Ronaldo Bernardi, Agência RBS

Os Perigos

- Popularmente chamados de gato, a ligação clandestina é toda ligação elétrica que não é feita pelo eletricista de sua distribuidora de energia. Além de ser crime, furtar energia provoca acidentes e coloca vidas em risco. Fique sempre longe da rede elétrica e não faça ligações clandestinas.

- Referência no atendimento a pessoas acidentadas e queimadas, o Hospital Cristo Redentor, em Porto Alegre, em 2012 recebeu 1.117 casos de pessoas com queimaduras em geral dos quais 16 foram de queimaduras por choques ou  por causas relacionadas à eletricidade.

- No ano passado, o número de queimaduras reduziu para 817, mas 47 ocorreram em função de acidentes com energia elétrica - três vezes mais do que no ano anterior.


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