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Desatenção de pedestres e motoristas dividem a culpa das mortes no trânsito

Por dia, são registrados até cinco atropelamentos, na primeira quinzena deste mês o número de mortes já alcançou o de setembro de 2013

17/09/2014 - 07h08min

Atualizada em: 17/09/2014 - 07h08min


Jeniffer Gularte
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Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Pedestres se arriscam ao atravessar em locais proibidos como no corredor da João Pessoa

Depois de ver o desfile de Sete de Setembro e passear no Parque da Redenção, Fatima dos Santos Costa, 52 anos, perdeu a vida na frente da filha e do sobrinho ao ser atropelada por um ônibus enquanto atravessava _ na faixa de segurança - a Avenida João Pessoa, em direção à parada. Na mesma via, dois dias antes, um homem morreu ao ser atropelado por um caminhão. Ontem à tarde, uma nova ocorrência na João Pessoa: um ônibus atropelou um homem de 29 anos, que foi encaminhado em estado grave para o HPS.
A série de ocorrências tem aumentado de forma assustadora a lista de atropelamento com vítimas fatais em Porto Alegre. Só nos primeiros 15 dias do mês, foram cinco mortes na Capital, número que já alcançou as ocorrências registradas em todo mês de setembro do ano passado.

Erros de todos os lados

Com o trânsito cada vez mais caótico, quem fica com a culpa? Especialistas ouvidos pelo DG dividem a responsabilidade e relacionam erros de pedestres, motoristas e da sinalização e fiscalização das vias. Um pedestre que atravessa a rua com fone de ouvido pode ser tão perigoso como um motorista desatento, assim como a falta de placas e indicações podem causar confusão tanto para quem dirige quanto para quem caminha.
A falta de atenção, de motoristas e pedestres, é a terceira entre as principais causas dos acidentes com morte na Capital, segundo o coordenador do setor de Educação para o Trânsito da EPTC, Juranês Castro. Perde apenas para o excesso de velocidade e o uso de substâncias psicoativas, como álcool ou drogas.
- Fazemos o mapeamento de todas as vítimas fatais e percebemos que a falta de atenção na utilização da via pública é um fator de risco - afirma Juranês.

Até agora, 40 óbitos no ano

Dados da EPTC apontam que 2013 fechou com 49 mortes por atropelamento. Este ano, já foram 40 óbitos. Se levar em conta os últimos 12 meses, foram 48. O avanço na mortalidade de pedestres virou uma das principais preocupações das autoridades de trânsito, seguido dos acidentes fatais com motociclistas. Tanto que este será o foco central do debate da Semana Nacional do Trânsito, que começa amanhã e vai até 25 de setembro.
- O atropelamento é um dos que mais preocupa porque realmente tem alta possibilidade de morte - considera o presidente da EPTC, Vanderlei Capellari.

Responsabilidade dividida

PEDESTRE
Desatenção e pressa fazem parte da parcela de culpa dos pedestres. A ânsia de atravessar fora da faixa para ganhar um minuto pode custar a vida. Andar com fone de ouvido, falando ou teclando no celular faz com que o pedestre perca parte da noção do que está ocorrendo ao seu redor. Há casos em que o pedestre ignora os elementos de segurança como faixa de segurança e sinaleira.

MOTORISTA
Há um grande número de pessoas habilitadas a dirigir que não estão, de fato, preparadas para estar em frente ao volante. O problema também está na formação dos condutores. Motoristas despreparados deixam o trânsito mais agressivo e inconsequente. Como o pedestre será sempre mais vulnerável, cabe ao motorista redobrar o cuidado.

SINALIZAÇÃO
Quando menos indicação de sinalização e conservação, falta de calçada e mais afastado dos centros urbanos, aumenta a chance de haver atropelamento. Mesmo locais bem sinalizados e movimentados, que têm pouca fiscalização, são locais de risco para este tipo de acidente, pois motoristas e pedestres se sentem mais à vontade para descumprir a legislação.

Flagras do DG
Na manhã de segunda-feira, o DG observou a circulação de veículos e pedestres na Avenida João Pessoa e flagrou diversas situações de risco. O que chamou atenção é que os idosos estão entre os que mais se arriscam para atravessar. Além de não utilizarem a faixa de segurança, cruzam a via sem olhar para os lados e, às vezes, acabam parando entre os carros e ônibus. No caso dos jovens, o mais comum é flagrá-los com fone de ouvido ou no celular seja caminhando ou conduzindo o veículo.
Na Delegacia de Lesões Corporais de Trânsito de Porto Alegre são registradas de quatro a cinco ocorrências de atropelamento por dia.
- O trânsito está muito mais agressivo e inconsequente, e isso aumenta riscos para motoristas e pedestres - avalia o titular da delegacia, delegado Gabriel Bicca.

CONFIRA ALGUNS FLAGRAS:


Idosos são os mais vulneráveis aos perigos
Foto: Ronaldo Bernardi

 


 
Ônibus, carros e pedestres dividem a culpa pelas tragédias
Foto: Ronaldo Bernardi

 

 


 
Pedestres não respeitam as faixas de segurança e correm riscos
Foto: Ronaldo Bernardi

 

 


 
As imprudências são constantes nas ruas
Foto: Ronaldo Bernardi

 

O perigo dos corredores de ônibus

O delegado Gabriel Bicca observa que muitas pessoas são atropeladas nos corredores de ônibus. Para ele, dois fatores podem contribuir com isso:
- Ou é o próprio pedestre que não observa a legislação e quer ganhar um minuto de tempo caminhando fora da faixa ou, devido à pressão de cumprir meta e horário, o motorista de ônibus fica entre a cruz e a espada e não dirige defensivamente.
Para tentar forçar que o pedestre afoito use a faixa, o presidente EPTC, Vanderlei Capellari, acredita que a colocação de gradil entre o corredor e as pistas pode ser uma alternativa viável. A intervenção depende de análise da equipe de engenharia.
Segundo a EPTC, as Avenida Bento Gonçalves e Protásio Alves são as duas vias da Capital que mais registram casos de atropelamento - foram 75 nas duas vias só de janeiro a julho deste ano. A Avenida João Pessoa, que está 10º no ranking das mais violentas, foi o cenário de duas das cinco mortes por atropelamento que ocorreram na primeira quinze de setembro.

OS PONTOS DE RISCO

De janeiro a julho deste ano, confira o ranking dos pontos que mais ocorreram atropelamentos na Capital:
Avenida Bento Gonçalves: 39 acidentes, 46 feridos
Avenida Protásio Alves: 36 acidentes, 37 feridos, 1 fatal
Avenida Assis Brasil: 33 acidentes, 33 feridos, 4 fatais
Avenida Farrapos: 27 acidentes, 31 feridos
Avenida Ipiranga: 21 acidentes, 22 feridos


Vítima ensinou filha a atravessar na faixa

A doméstica Fátima dos Santos, 52 anos, perdeu a vida quando retornava para casa depois de aproveitar o domingo em família. Junto com o sobrinho e a filha, atravessou a Avenida João Pessoa, saindo da Redenção, em direção à parada de ônibus na tarde do feriado de Sete de Setembro. Mesmo na faixa de segurança, foi atropelada por um ônibus. A filha de 12 anos atravessou um pouco antes e um empurrão de Fátima salvou os sobrinho de sete anos de também ser atropelado. Ela, no entanto, não conseguiu salvar a si mesma.
- Eu tinha atravessado antes para pegar uma água em uma lancheria. Depois, só vi minha esposa atirada no chão, fui em direção a ela mas vi que não dava para fazer mais nada. É ruim até de lembrar.
O marido Carlos Henrique da Costa, 44 anos, conta que a esposa morava há 37 anos na Capital e conhecia os perigos do trânsito. Como trabalhava perto de casa, no Bairro Hípica, era acostumada a caminhar a pé.
- Nós ensinamos nossa filha a sempre ir na faixa, ainda que seja 100m, 200m depois. Infelizmente, foi na faixa que acabou acontecendo o atropelando da minha mulher - lamenta o eletricista.


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