Energia elétrica
Conta da Ceee: prepare-se para um apagão no bolso
Aumento das tarifas de luz da Ceee foi adiado, mas vai chegar ao consumidor de qualquer jeito. Previsão é de contas 30% mais caras. Comerciante adianta que deverá repassar ao consumidor o gasto maior.
Previsto para entrar em vigor no sábado, o aumento nas contas de luz da Ceee foi suspenso. Não há uma nova data para que ele entre em vigor, mas o consumidor pode preparar o bolso: o reajuste ficará em torno dos 30%.
Em reunião pública da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), realizada na terça, foi decidida a suspensão do processo de reajuste da tarifa da Ceee, devido a uma inadimplência da estatal em pagamentos obrigatórios do setor. Com isso, a vigência da tarifa atual será prorrogada até que ocorra a regularização do débito. A Ceee havia pedido à Aneel um reajuste de 39,99%, enquanto que o órgão regulador sugeriu aumento de 28,28%.
Independentemente do índice que for aplicado, quando da entrada em vigor da nova tarifa, para a comerciante Rosa Maria Souza, 61 anos, proprietária de um mercado no Bairro Menino Deus, não vê outra alternativa senão o repasse para os consumidores.
- Eu estava conversando sobre essa possibilidade aumento na conta da luz com outros comerciantes aqui de perto. Eles disseram que vão ter que aumentar o preço de muita mercadoria - contou ela.
Em março do ano passado, quando ocorreu uma redução na tarifa de energia elétrica, Rosa havia afirmado ao Diário Gaúcho que sua conta havia baixado de R$ 900 para R$ 700 ao mês. Com a economia, ela projetava uma sobra no orçamento de R$ 1,95 mil no ano. Previsão que caiu por terra em outubro daquele ano, quando a companhia reajustou as contas em 13,45%.
- No fundo, a gente já esperava que a tarifa não iria ficar muito tempo em baixa - admitiu.
Acerto entre 15 e 30 dias
O impasse entre a Ceee e a Aneel sobre a data e o índice do reajuste já se arrasta desde o início de setembro. Naquela ocasião, a companhia havia solicitado o adiamento do reajuste de outubro para fevereiro. O pedido foi negado pela Aneel, que afirmou não ter identificado interesse do consumidor na transferência de datas. A estatal recorreu da decisão.
A inadimplência que agora provocou o adiamento seria um débito de cerca de R$ 18 milhões com a Eletrobras, devido à compra de energia com a usina de Itaipu. Porém, na segunda-feira, o secretário de Infraestrutura e Logística do Estado e presidente do Conselho de Administração da Ceee, João Victor Domingues, disse "tratar-se de um encontro de contas e não de uma despesa consolidada":
- A Eletrobras deve à companhia cerca de R$ 20 milhões e nós devemos a eles R$ 18 milhões. É um acerto que deve demorar de 15 a 30 dias - alegou.
Toque da Giane
Não há como fugir do aumento
Adiar o reajuste parece uma boa notícia, mas não é bem assim. O aumento vai chegar no bolso dos consumidor de qualquer jeito. Provavelmente, logo depois que a Ceee negociar o pagamento da dívida, o que será depois do segundo turno das eleições, neste domingo.
Por isso, especialistas estão chamando a manobra de eleitoreira, para evitar o baque na conta de luz dos clientes da estatal. O governo nega e diz que a elevação vai prejudicar a economia. De qualquer forma, vai esgarçar ainda mais o caixa da Ceee, que já vem registrando prejuízos, comprometendo investimentos e a saúde da empresa.
Reajustes de energia são feitos todos os anos em cima de uma planilha de custos das distribuidoras, equilibrando receitas e despesas do ano anterior e projetando gastos para os 12 meses seguintes. Como o custo não desaparece com o adiamento, ele vai chegar para o consumidor agora ou no reajuste do ano que vem.
O aumento ser próximo dos 30% não é privilégio da Ceee. A estiagem do Sudeste baixou reservatórios, térmicas foram acionadas e produziu-se energia mais cara no Brasil. O problema é maior e atinge outras concessionárias. Não há estrutura de produção de energia para atender o que o brasileiro precisa quando falta chuva.
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