Infraestrutura
Menino se fere em entulhos da Avenida Tronco
Uma das obras da Copa que não ficou pronta deixou de herança armadilhas nos terrenos que foram esvaziados para a ampliação da avenida. Menino de nove anos perfurou a perna.
Foi em meio aos entulhos deixados após a demolição das casas que darão lugar à Avenida Tronco - uma das obras de mobilidade previstas para a Copa -, no Bairro Cristal, que Giovani Rubira Ferreira, nove anos, tropeçou em uma pedra e cravou uma viga na perna direita. Na companha dos amigos, ele voltava da aula na Escola de Ensino Fundamental José Loureiro da Silva no fim da tarde de quarta-feira, quando correu em direção ao terreno.
- Pedi para os meus amigos esperarem na parada de ônibus enquanto fui pegar pitangas, mas não vi uma pedra, tropecei e caí. Na hora, não doeu, só depois que vi que o ferro (o vergalhão) estava no meu joelho - conta o guri.
O menino tombou em meio a armadilha que se tornou o descaso com a área desocupada para dar lugar à obra que tem término previsto só para o fim de 2016. A duplicação dos 5,3km da Tronco está entre as dez obras que não ficaram prontas a tempo do Mundial. O terreno em que ocorreu o acidente fica na Avenida da Divisa, que servirá de continuação para a ampliação da Avenida Tronco. No local, há tijolos, pedaços de concreto, vigas e lixo espalhado. Segundo moradores, as famílias saíram dos terrenos há pelo menos oito meses, mas o entulho continua lá.
"É muita má vontade"
Longe dali, a obra avança na Avenida Coronel Gastão Haslocher Mazeron, próximo ao Estádio Olímpico, e na Avenida Teresópolis. Enquanto isso, os moradores do Cristal vivem em um cenário de entulho. A cabelereira Nádia Marquise, 37 anos, é vizinha à área onde Giovani se machucou. Há sete anos com ponto na Avenida da Divisa, é uma das poucas que ainda não deixou o local.
- Tiraram as pessoas daqui e deixaram assim. É muita má vontade - reclama ela, que sustenta os três filhos com o salão.
O líder comunitário Antônio Daniel Knevitz de Oliveira, conhecido como Ratinho, lembra que outras áreas da Rua Cruzeiro do Sul estão na mesma situação:
- Deveriam ter uma visão de que poderia dar acidente. Poderia ter sido pior.
A Associação dos Moradores e Amigos da Vila Tronco e Arredores (Amavtron) já vinha alertando a comunidade quanto aos perigos dos entulhos. Assim que foi socorrido, Giovani foi encaminhado para o HPS. A mãe, Karen Tomaz Rubiro, conta que o menino está tomando morfina para não sentir dor. Devido aos ferimentos, deve ficar até dez dias afastado das aulas.
Limpeza até a semana que vem
Após ser contatado pelo DG, o diretor-geral adjunto do Demhab, Marcos Botelho, visitou o terreno no qual Giovani se machucou. Ele verificou que havia restos de base de uma casa. Quanto aos pedaços de concreto, afirma que são oriundos de descarte irregular:
- Na hora que fizeram a retirada da casa, ferros ficaram soltos e não foi feito o corte daquelas pontas. Tem o risco, sabemos que é preciso retirar os entulhos o mais rápido possível.
Ele explica que, devido ao número de demolições, as quatro equipes que fazem o recolhimento do entulho não tem dado conta do serviço. Porém, garantiu que até a semana que vem todos os terrenos que hoje estão com material de demolição estarão limpos.
Mesmo com a demora em recolher o material, afirma que é inviável a colocação de tapume nos terrenos.
- Os tapumes podem ser usados como base de paredes para ocupação irregular - explica Marcos.
Obras na Divisa, só em 2015
Quando concluída, a avenida terá 5,3km de extensão e largura média de 40m. O complexo também vai ter ciclovia, corredor de ônibus e tratamento paisagístico. Tudo isso é orçado em R$ 156 milhões.
Das 1.525 famílias que precisam ser removidas, 733 já saíram ao longo de dois anos de negociação. Segundo o coordenador técnico da Secretaria de Gestão, Rogério Baú, o projeto estabelece que a situação habitacional das famílias deve estar resolvida seis meses antes do prazo final para conclusão da obra, que é dezembro de 2016.
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