TURISMO
Viajar é possível. Basta planejar!
A classe C está viajando cada vez mais. Um exemplo é a artesã que realizou o sonho de viajar para o Rio Grande do Norte. Economista ensina a fazer o passeio caber no bolso.
Quando olhava para o céu e avistava um avião em decolagem, a artesã Mara Regina Dias de Antônio, 56 anos, pensava: "um dia eu vou ter que experimentar". Com os filhos criados e depois de 25 anos de faxinas - que ajudaram o marido, que é torneiro mecânico, a montar o próprio negócio -, a moradora de Guaíba realizou o grande sonho de viajar. No dia 17 de setembro, embarcou para Natal, no Rio Grande do Norte.
- Antes, viagem era só para executivo, só para quem podia. Hoje, é uma coisa para todo mundo que batalha e que quer viajar. É algo que faz muito bem para gente - observa a moradora da Cohab Santa Rita.
Pessoas como Mara engrossam a estatística que indica que a classe C está viajando cada vez mais. Conforme dados do Ministério do Turismo, em julho deste ano, a intenção de viagem (nos próximos seis meses) do grupo de brasileiros com renda familiar de até R$ 2,1 mil era de 7,3%. Já em agosto, o percentual saltou para 13,1%. Pesquisa Serasa Experian e Data Popular indicam que, em 2014, a classe C pretende fazer 8,5 milhões de viagens nacionais.
- Primeiro a classe C compra os itens que faltam na casa (móveis, televisão, por exemplo). Quando isso foi cumprido, pensa em outro tipo de consumo, e o turismo está dentro disso - explica o diretor do Departamento de Estudos e Pesquisas do Ministério do Turismo, José Francisco de Salles Lopes.
Parcelamento é primordial
De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagem do Rio Grande do Sul, Danilo Kehl Martins, o parcelamento da viagem é primordial para o cliente da classe C, que costuma viajar em época de férias escolares e tem o Nordeste como principal destino.
- Esse público é muito grande. Achava que viajar é coisa para rico, mas não é. Tem muitas opções dentro do Brasil. Também é bem comum a viagem para Buenos Aires (Argentina). O difícil é fazer a primeira viagem, mas depois dela, a pessoa vai querer viajar sempre - afirma o presidente.
Aos marinheiros de primeira viagem, Danilo sugere que experimentem viagens mais curtas, como as praias de Santa Catarina, ou a Serra Gaúcha, com transporte rodoviário, para o turista ir se familiarizando com o hábito de viajar. Com a experiência, até a resistência à viagem de avião pode ser vencida.
- Hoje, o nosso principal mercado dentro do Brasil é a classe C - conclui Danilo.
Momentos inesquecíveis
Ao lado das namoradeiras (esculturas artesanais) compradas em terras potiguares, dois porta-retratos mostram o sorriso mais animado de Mara: o da satisfação por estar na Praia da Pipa (RN). Foram sete dias muito divertidos que ela passou ao lado de mais de 50 amigas do grupo de terceira idade Saúde em Movimento - Comunidade em Ação. Ela calcula que o passeio custou R$ 4 mil, e foi parcelado em dez vezes.
- Meu marido não quis viajar porque tem cisma de avião. Eu achei a coisa mais boa, uma adrenalina, gostei até da turbulência. Isso não tem preço - disse a artesã que, em 30 anos de casada, nunca tinha deixado o esposo sozinho.
O único receio que Mara tinha em relação à viagem era com o check-in (apresentação do passageiro ao balcão da companhia aérea, com documentos e bagagens). Mas como é bastante comunicativa e contou com funcionários gentis, a apreensão se desfez. As belas praias e os passeios são lembrados por um DVD e por mais de 400 fotos:
- Eu trouxe até cajus para fazer um suquinho!
Ideal é programar um ano antes
O economista e educador financeiro Everton Lopes dá uma dica importante para quem quer começar a planejar as férias e é assalariado: pegue o valor do seu salário e calcule quanto é um terço dele _ quando o funcionário sai de férias, ele tem o direito de receber o valor de seu salário (que geralmente utiliza para quitar as contas do mês) mais um terço deste valor (que pode ser usado numa viagem). Quem tem um salário de R$ 3 mil, por exemplo, receberá R$ 1 mil.
Quando definir o destino das férias, o trabalhador precisa calcular quanto a viagem custará. Caso o preço da viagem seja maior que um terço do salário, será necessário economizar. Por exemplo: se dez dias na praia custarão R$ 1,6 mil, faltarão R$ 600.
- Aí, ou a pessoa economiza, pode dividir o valor que falta em 12 e definir um valor a ser guardado por mês, ou reduz o tempo da viagem.
Outra alternativa, embora não recomendada pelo economista, seria financiar o valor restante, desde que caiba no orçamento.
- O ideal seria programar as férias um ano antes e evitar o parcelamento - explica.
Vender parte das férias, ou juntar uma boa entrada e financiar o restante, são outras opções para realizar a viagem.
- É importante viver dentro da sua realidade financeira, sem deixar de aproveitar - aconselha Everton.
Faça as contas
Quem acha que uma viagem é algo inatingível, deve colocar no papel as despesas e fazer a comparação. O Diário Gaúcho fez uma simulação que mostra que os valores de uma viagem para o Litoral Norte (destino de muitas famílias) não são tão discrepantes de um passeio para outro lugar, talvez mais distante, como por exemplo Montevidéu, no Uruguai.
No quesito estadia, um apartamento de um quarto (para um casal) em Tramandaí, por exemplo, tem diária de R$ 135. A diária de um hotel em Montevidéu, para dois adultos, se encontra por R$ 152.
No deslocamento, os valores são diferentes: a viagem de carro para Tramandaí sai por volta de R$ 77. De ônibus, ida e volta para duas pessoas, sai R$ 106,80. Já para Montevidéu, de carro, só de combustível são R$ 400 (há despesas ainda com pedágio). Em relação à alimentação, tudo depende do tipo de refeição que o turista pretende fazer. Dentro do Brasil, é possível calcular um gasto diário de R$ 50. Já fora, em torno de US$ 50.
Dicas
- Mesmo que não tenha definido um destino, não deixe de pesquisar na internet, informar-se sobre os lugares e os preços de passagens e estadia. O mesmo vale para as agências: visite e informe-se sem que haja compromisso de fechar negócio.
- Mara diz que conseguiu viajar porque a família nunca gastou mais do que ganha. Fazer economia em outras despesas pode garantir a realização da tão sonhada viagem.
- Para economizar na viagem, uma dica é procurar restaurantes onde os moradores do local costumam comer. Os preços são os mais competitivos. Também deixe a timidez de lado e pergunte os preços e pechinche.