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Aperta o cerco

Fumar? Agora, só em casa ou ao ar livre

Começa a valer nesta quarta-feira a lei que estabelece novas regras de restrição ao consumo de cigarro. Varandas e paradas de ônibus também entraram na lista dos locais proibidos.

03/12/2014 - 07h07min

Atualizada em: 03/12/2014 - 07h07min


Jeniffer Gularte
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Fernando Gomes / Agencia RBS

A partir desta quarta-feira, os fumantes deverão ter ainda mais atenção ao escolher o local para acender o cigarro. Começou a valer a Lei Antifumo, que torna proibido fumar em locais fechados públicos ou privados, inclusive nos chamados fumódromos, onde até então o ato era livre.
Isso inclui corredores de condomínio, restaurantes, clubes, varandas e até mesmo paradas de ônibus cobertas por um teto. A regra abrange qualquer ambiente que esteja parcialmente fechado por uma parede, divisória, teto ou toldo. Com isso, quem faz questão de manter o hábito só estará livre para fumar em casa e em praças, parques, vias públicas e tabacarias.
A lei federal, aprovada em 2011 e regulamentada neste ano, é mais uma estratégia do governo federal para aumentar o cerco ao cigarro e tentar diminuir o fumo passivo. Os pontos de venda sequer poderão fazer propaganda comercial do produto. É permitida a exposição das carteiras somente quando estiverem acompanhadas de avisos do males que o produto provoca.
A coordenadora do Programa Municipal de Controle ao Tabagismo de Porto Alegre, Fabiana Ninov, acredita que ao longo dos anos as leis que restringem os locais de consumo vêm surtindo efeito na diminuição do número de fumantes. Porém, defende que não se deve apenas reprimir, mas dar mais condições de tratamento para quem quer deixar o vício.
- Existe uma hipocrisia, porque o governo reprime o consumo ao mesmo tempo em que legaliza o produto. Obrigar a parar de fumar não é o melhor caminho - avalia Fabiana.

Há quem já respeite a regra

Para o técnico em enfermagem Laércio da Silva Castilho, 46 anos, que deixou o vício há quatro anos, a mudança ajuda a influenciar as pessoas a largar o cigarro. Ele admite que não foi fácil abandonar o vício.
- Tomei remédio, os primeiros tempos foram difíceis, mas aguentei firme. Tinha vontade de juntar toco de cigarro no chão para fumar. Hoje sei que não posso mais acender - conta ele, que perdeu a mãe devido a um enfisema pulmonar causado pelo vício.
A microempresária Claudia Santos, 47 anos, afirma que a nova lei só regulamenta um cuidado que ela já tinha para evitar cara feira.
- Eu já evito fumar em paradas de ônibus e restaurantes para não causar constrangimento. É uma opção pessoal. Fumante acha que tem direito de fumar em qualquer lugar e não fumante acha que tem direito de não sentir o cheiro em qualquer lugar. É como futebol, nunca vão se entender - diz.
- Se me dá vontade, saiu para a rua para fumar. É até um respeito aos ex-fumantes, que acabam ficando com vontade também. A gente quer largar e não consegue - opina o mecânico Altair Pereira, 65 anos.

 

Multa a estabelecimentos vai doer no bolso

Por enquanto, os fumantes não serão alvo de fiscalização e multa, mas sim Os estabelecimentos. Aqueles que desrespeitarem a norma podem ser multados - com valores que irão variar de R$ 2 mil a R$ 1,5 milhão -  e até perder a licença de funcionamento. A lei estabelece que a fiscalização deverá ser feita pelas vigilâncias sanitárias de Estados e municípios. Em Porto Alegre, ainda não há medidas definidas para cumprir a mudança. A Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio (Smic) informou que ainda estão sendo analisadas as formas de fiscalização, que devem envolver mais de uma secretaria.
O coordenador-geral da Vigilância em Saúde de Porto Alegre, Anderson Lima, afirma que é preciso avaliar as responsabilidades que caberão a cada área.

Porto Alegre é campeão do cigarro

O motivo da ofensiva ao consumo de cigarro não é novo. Coordenadora da Comissão de Tabagismo do Hospital de Clínicas, a pneumologista Marli Maria Knorst explica que o cigarro está associado a cerca de 50 doenças e a um terço dos casos de câncer.
- Por onde passa a fumaça, há riscos como boca, garganta, esôfago, estômago, rim, bexiga, além do pulmão. De 85% a 90% das pessoas que tem câncer no pulmão fumaram - explica a médica.
No Brasil, 200 mil pessoas morrem por ano por doenças relacionadas ao tabaco, segundo o Ministério da Saúde. O tratamento dessas doenças pelo SUS custa R$ 1,4 bilhão ao governo federal.
A pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), divulgada neste ano pelo Ministério da Saúde, apontou que Porto Alegre, com 242 mil fumantes (16,5% da população), lidera o ranking nacional de consumo de cigarros.


O que diz a lei

- Está proibido fumar cigarrilhas, charutos, cachimbos, narguilés e outros produtos em locais de uso coletivo, públicos ou privados.

Onde é permitido fumar
- Em casa
- Parques e praças
- Vias públicas
- Culto religioso em que o fumo faça parte do ritual
- Tabacarias
- Estúdios de filmagem quando necessário à produção da obra
- Locais destinados à pesquisa e desenvolvimento de produtos fumígenos

Onde é proibido fumar
- Clubes
- Restaurantes, bares e hotéis
- Halls e corredores de condomínio
- Varandas
- Paradas de ônibus com cobertura
- Toldos de banca de jornais
- Ambiente fechado por divisória, parede ou teto


Do glamour aos xingamentos

Fumante há 35 anos, a dona de casa Avani Oliveira da Silva, 52 anos, viveu diferentes épocas do hábito de pitar. Quando começou, aos 17 anos, via no cigarro um certo glamour. Fumar estava na moda.
- Naquele tempo, só quem me reprimia era minha mãe. Eu trabalhava de dia e estudava à noite. Quando chegava em casa, ela (a mãe) revistava minha mochila. Se encontrava carteiras de cigarro, colocava fora. Mas eu era bem atrevida e dizia que não adiantava nada, pois eu ia comprar outro maço - relembra.
Mas, afora isso, Avani achava "o máximo" fumar. Não só ela, como a maioria de suas amigas e muitos dos jovens daquela época, que se encantavam com os anúncios comerciais de marcas de cigarro apresentadas na tevê.
O hábito foi herdado pela filha de Avani. Aline Oliveira da Silva, 29 anos, fuma desde os 16.
- A mãe me disse que eu só poderia fumar quando pudesse sustentar o meu vício. Então, quando arrumei meu primeiro estágio, não tive dúvidas e comecei a comprar cigarros - conta.

Mudanças de comportamento

Mas, com o passar do tempo, não só o comportamento de muitas pessoas, como a legislação foram mudando. O mesmo não ocorreu com Avani, que manteve o hábito:
- Ainda na semana passada, uma mulher me xingou na parada de ônibus porque eu estava fumando. Eu disse a ela que estava ao ar livre e perguntei onde eu poderia fumar se não pudesse ali.
Pela nova lei, nem mesmo nos pontos de ônibus, se forem cobertos por um teto, ela poderá fumar. Já ciente disso, a Avani prevê que só poderá manter o hábito em casa. Atualmente, ela consome dois maços por dia. Mesmo levando duras da cardiologista e da dentista que a atendem.
- Já fui no grupo de fumantes, já usei adesivo de nicotina e medicação. Cheguei a pensar que iria conseguir. Mas nada adiantou - confessa.        


Dicas para parar de fumar

- Se o seu nível de dependência é alto, será preciso procurar ajudar médica.
- Tente mudar hábitos e evitar os gatilhos para acender um cigarro, como tomar cafezinho ou comer um doce.
- Faça alguma atividade física para evitar ansiedade. Tenha hábitos mais saudáveis.
- Cada caso é um caso: se a dependência é alta, é possível que seja mais difícil parar de uma vez só. Caso contrário, pode ser um bom começo. Porém, o mais importante é a decisão de parar.
- O ideal seria que um grupo tentasse parar junto, seja família ou amigos, pois um reforça a decisão do outro. Se familiares e amigos continuarem fumando, não o façam na presença de quem quer deixar o vício.
- Evite bebidas alcoólicas, pois estão associadas ao consumo de cigarro. Você tem mais facilidade de aceitar um cigarro se está bebendo.
- Cuide para não transferir a ansiedade para a comida.
Fonte: coordenadora da Comissão de Tabagismo do Hospital de Clínicas, pneumologista Marli Maria Knorst  

 

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