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Reis da barganha

Em tempos de crise, pechinchar é a saída

Na hora de fazer compras, quatro em cada cinco pessoas no país estão tentando negociar um precinho mais em conta

18/08/2015 - 07h08min

Atualizada em: 18/08/2015 - 07h08min


Rosângela Monteiro
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Adriana Franciosi / Agencia RBS
Glória faz a pesquisa antes de sair de casa: assim, fica mais fácil negociar

Com juros e inflação em alta, ter dinheiro no bolso está cada vez mais difícil. Deve ser para valorizar cada moeda que o brasileiro virou o maior pechinchador da América Latina. Conforme pesquisa da consultoria Data Popular, 78% dos brasileiros estão pechinchando mais atualmente. O estudo foi realizado em cinco países, e o Brasil aparece no topo, seguido pelo México (59% dos entrevistados admitem pechinchar) e pelo Chile (52%).

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A química Glória Cornelius, 57 anos, de Porto Alegre, não participou da pesquisa, mas também teria respondido que pechincha bastante na hora da compra.

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- Antes de sair de casa, costumo olhar nos sites os valores do que eu quero. Já chego pedindo se o vendedor faz o preço que está na internet, que é sempre mais baixo do que o da loja. Mas eu não saio inventando valores, sempre pesquiso para ter uma base do que o produto vale realmente - explica Glória.

Ela diz que costuma conseguir bons descontos:

- Sempre dá para conseguir alguma coisa. Tento trocar as formas de pagamento. Os lojistas reclamam que têm de pagar taxa do cartão de crédito, então, ofereço dinheiro ou cheque para pagar menos.

Levy de saias

Sócio-diretor do Data Popular, Renato Meirelles diz que a prática de pechinchar estava adormecida nos brasileiros, mas que voltou para ficar:

- Os brasileiros não querem abrir mão do potencial de consumo conquistado nos últimos anos. Hoje em dia, na casa de cada brasileiro, temos um Joaquim Levy (ministro da Fazenda) de saia. É a mulher.

Segundo Renato, é ela quem comanda o ajuste fiscal doméstico, decide onde cortar os gastos da família e busca os melhores preços.

- O brasileiro acredita mais no seu próprio ajuste fiscal doméstico e não quer esperar medidas dos economistas e do governo - diz Renato.

Conversa olho no olho faz a diferença

Por obrigação profissional, a cerimonialista Adriane Hummes, de Porto Alegre, tem de estar sempre de olho nas ofertas e buscando melhores preços para os seus clientes. Para ela, a técnica mais eficaz na hora de pechinchar tem de ser feita pessoalmente:

- Quando preciso de desconto, tenho uma conversa sincera com meus fornecedores, olho no olho. Explico quanto eu posso pagar, peço para que ele também diminua sua margem de ganho. Está difícil para todo mundo. Então, todo mundo tem que abrir mão de alguma coisa.

Economista da Fecomércio-RS, Lucas Schifino destaca que o consumidor pode conseguir pechinchar melhor se tiver dinheiro na mão.

- O comerciante tem de cobrar mais se vai receber o pagamento somente meses depois. Então, negociar pagamento à vista, principalmente, quando a empresa oferece a opção de pagar a prazo, aumenta a chance de conseguir desconto. Explore o pagamento à vista - sugere o economista.

Uma personal pechincha

 
Cristiane é especialista - Foto: Divulgação

Essa história de pechinchar está ficando tão séria que tem até gente trabalhando só com isso. É o caso de Cristiane Colussi Vieira, de São Paulo, que se autointitula a primeira personal pechincha do Brasil (o site dela é personalpechincha.com).

Ela teve a ideia do negócio no fim do ano passado, quando estava construindo a sua casa.

- Fui acompanhando todos os detalhes, do parafuso ao item mais caro, e fazendo a negociação. Percebi que tive economia de mais de 30% no total da casa. Então, resolvi profissionalizar este trabalho - relata.

A empresa funciona assim: se você quer comprar algum item ou adquirir um serviço,  procura a Cristiane. Ela vai até o local e negocia um desconto. Metade do valor que ela conseguir diminuir é dividido entre os dois.

Dicas de negociação

As pessoas ouvidas pela reportagem, inclusive a personal pechincha, deram sugestões para a hora de negociar com os vendedores. Antes de ir às compras, lembre-se:

- Se tiver dinheiro na mão, negocie desconto para fazer o pagamento à vista.
- Pesquise preços em diferentes lojas antes de fazer a compra. Evite fazer isto com pressa.
- Os sites de comparação de preços são uma boa alternativa para pesquisa online.
- Algumas opções: buscape.com.br, shopping.uol.com.br, jacotei.com.br e bondfaro.com.br.  
- Não fique preso a marcas. Experimente outras mais em conta.
- Não blefe! Se oferecer um valor muito inferior ao pedido pela loja, comprador e vendedor correm o risco de não conseguir entrar em consenso.
- Não tenha vergonha de pedir desconto. O máximo que você vai ouvir é um "não".
- Não tenha pena da sola do sapato. Bata perna até conseguir a melhor negociação.
- Tente disfarçar o entusiasmo com a compra que está prestes a fazer.
- Não compre produtos no lançamento. Tenha paciência porque, em pouco tempo, o preço baixa.
- Ganhe a simpatia do vendedor. Trate ele pelo nome.


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